segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Conversas d'Ouvido com Soma Zero

Entrevista com Soma Zero, um dos projectos mais fascinantes que emergiu recentemente na música portuguesa. Os Soma Zero são: Laura Varges (voz), Gil Garcia (teclas), Nuno Roberto (guitarra, baixo) e Fred Stone (bateria). A sua sonoridade desce às profundezas do trip-hop, com relevos obscuros e seduz-nos com uma voz, que tem tanto de enigmática como etérea. Entre as maiores influências encontramos nomes como Massive Attack, Portishead, London Grammar e Fever Ray. Este ano editaram um dos discos que mais prendeu a nossa atenção no panorama nacional e nas linhas que se seguem, fomos conhecê-los melhor...

Como surgiu a paixão pela música? 
Soma Zero: Todos nós entrámos cedo no mundo da música, algures na adolescência, por portas diferentes – uns na música independente, outros no circuito de covers. As coisas evoluíram a partir daí, estivemos afastados uns dos outros, a trabalhar em projectos diferentes, o Gil chegou a distanciar-se da música por uns tempos, mas os nossos caminhos acabaram por se cruzar para que Soma Zero pudesse existir.

Como surgiu o nome Soma Zero? 
Um jogo de Soma Zero é um jogo em que se um jogador ganha, o outro perde na mesma medida, não havendo hipótese de ganharem os dois. Este conceito chamou-nos a atenção, porque sentimos que esta ideia de “jogo” em que não podem sair todos a ganhar está cada vez mais presente no nosso dia-a-dia. Ou ganhas, ou perdes. É assim a vida. E é também assim o nosso processo criativo e relacional – todos temos personalidades muito fortes e quando se trata de tomar decisões, sem dúvida que precisamos de algum jogo de cintura e de um espírito de bom perder, para que o jogo de soma zero se desenvolva sem precisarmos de um choque de titãs.
Soma Zero - "Zero"
Editaram este ano o disco de estreia “Zero”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar? 
O nosso estilo é ainda difícil de definir, ainda estamos num certo processo de desenvolvimento do mesmo. No entanto, há certas coisas que podem esperar: um disco de canções melancólicas, com ritmos lentos mas fortes, com uma voz e um instrumental que não obedecem a padrões de beleza, mas sim, de sentimento. 

Quais as vossas maiores influências musicais?
As nossas influências vão desde o trip-hop dos anos 90 – Massive Attack, Portishead – até ao trip-hop de agora – Fever Ray, London Grammar. A nossa sonoridade acaba por não ser diretamente comparável com nenhuma destas bandas, talvez por termos muitas influências e por causa de o nosso processo criativo ser muito livre. 

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
A Laura tem muitas, demasiadas (escrever, representar, falar outras línguas), o Nuno diz que não se consegue focar nalguma coisa durante muito tempo, por isso prefere dizer que não. Já o Fred tem paixão por tudo o que abarca o tema do som, e o Gil tem paixão por estar rodeado de amigos (risos).
Qual o disco da vossa vida?
Laura Varges (LV): “O Monstro Precisa de Amigos” de Ornatos Violeta e o “Violator” de Depeche Mode.
Nuno Roberto (NR): “Roseland NYC” de Portishead, “Mezzanine” de Massive Attack e “The Wall” dos Pink Floyd.
Gil Garcia (GG): Todos os de Sigur Rós,
Fred Stone (FS): “Moving Pictures” de Rush. 

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
LV: “Ultraviolence” da Lana Del Rey. 
NR: “Ex:Re” da Elena Tonra (Daughter).
GG: “Valtari” de Sigur Rós.
FS: “Grebfruit 2” de Benny Greb. 

Qual a vossa mais recente descoberta musical?
The Last Shadow Puppets (uma outra banda do Alex Turner dos Arctic Monkeys), Johnny Franco e… Billie Eilish (risos). Esta é cortesia da filha do Nuno.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto? 
Quando logo no início do concerto, o Fred lançou o backing track da música errada… mas foi tranquilo, não nos embaraçamos facilmente. (risos)
Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
Massive Attack ou Portishead.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
Sigur Rós, Pearl Jam… 

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
Nine Inch Nails, London Grammar, Depeche Mode e Seu Jorge.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
O The Wall em Berlim ’89 do Roger Waters. 

Têm algum guilty pleasure musical?
Guilty pleasure? Para nós, isso na música não existe, há sempre um momento para ouvir um determinado tipo de música, seja ele qual for.

Projectos para o futuro?
A longo prazo, é claro que somos ambiciosos e temos aquele sonho escondido de um dia tocarmos no Coliseu dos Recreios. Mas, acima de tudo, estamos super orgulhosos com o trabalho que fizemos, e vamos partilhá-lo com o mundo sem criar expectativas, porque assim, tudo o que vier é ganho. A curto prazo, contamos fechar-nos no estúdio a gravar o segundo álbum, enquanto damos concertos para promover o primeiro.
Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Qual o significado do Universo? E a resposta é 42. 

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
"Gangnam Style" ou a "Macarena", só para nunca mais termos de trabalhar na vida (risos). Brincadeira, há várias, mas deixamos como resposta a “Roads” de Portishead.

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral? 
LV: “Space Song” dos Beach House; 
NR: “Uprising” de Bob Marley;
GG: “Daudalogn” de Sigur Rós; 
FS: “Space Oddity” de David Bowie.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Antes de terminarmos, ficamos com a música dos Soma Zero e do single "Time", extraído do disco de estreia "Zero"...

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