Estivemos à conversa com o músico brasileiro radicado em Los Angeles, Grecco Buratto. Já tocou com alguns artistas de renome como Mayra Andrade e Pink, no entanto em 2014 editou o seu debut a solo Essas Coisas Todas. Nesta entrevista descobrimos que entre os artistas que o inspiraram encontram-se os nomes de Chico Buarque, Tom Jobim, Lenine e Jorge Drexler. Gostaria de abrir um concerto para k.d.lang e efectuar um dueto com R. Sakamoto, mas há muito para descobrir em mais uma edição de "Conversas d'Ouvido"...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Grecco Buratto: Sempre penso nisso… no momento em que a música ou qualquer atividade artística se torna algo mais … Ganhei meu primeiro violão aos 7 anos de idade e acho que a música se tornou algo que ajudou muito minha auto-estima, a saber que tinha uma maneira de expressar, desabafar e entender emoções e sentimentos que de outra maneira não teriam como ser trabalhados. Acho que música cura, conecta com o momento e ao mesmo tempo pode nos transportar a situações que vivemos na infância, adolescência e juventude. É a trilha sonora das nossas vidas.
Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Adoro praticar Kundalini Yoga e meditação. Quando criança adorava assistir filmes.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Não sei se existem vantagens ou desvantagens. É um estilo de vida e é bastante diferente… não temos nem lugar, nem horário fixo de trabalho. E nosso trabalho é na verdade o tempo que investimos aprendendo músicas, aperfeiçoando nossa maneira de tocar, compor e de nos expressarmos através da música e isso fazemos em casa quando não estamos em alguma gravação, show ou turnê. Não temos férias estabelecidas… não sabemos quando e com quem será o próximo trabalho e isso a princípio, pode causa bastante ansiedade. Somos o empregado, o chefe e o produto das nossas empresas. Nossa rotina é não ter rotina, é transitar pelo desconhecido e aprender a sentir nos confortáveis com isso.
Quais as tuas maiores influências musicais?
Não sei se posso citar influências mas posso citar vários artistas que me inspiraram … como cantor e compositor Chico Buarque, Tom Jobim, Lenine, Jorge Drexler. Como guitarrista, Eric Clapton, David Gilmour, Joe Satriani. Como artista, Miles Davis, The Beatles, David Bowie, Chet Baker… são tantos… Como pessoa e artista, k.d. lang foi e continua sendo uma grande inspiração.
Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Acho que o som do vinil é o melhor, mas atualmente escuto cd’s e mp3’s no meu computador.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Acho que a questão não é somente o streaming mas sim a perda do valor da música em geral. Acho que streaming é um modelo que funciona mas os artistas, os criadores de conteúdo ainda não estão sendo devidamente remunerados quando se avalia o faturamento em marketing que essas empresas têm.
Voltando à questão da desvalorização da música, o que vejo que aconteceu é que pouca gente quer pagar por algo a que têm acesso de graça ou quase de graça. Houve uma inversão de valores. Cabe a nós, os artistas agregar novos valores ao que fazemos.
Qual o disco da tua vida?
Isso muda… por um tempo foi "Olho de Peixe" de Lenine/Suzano, depois "Construção" do Chico Buarque, depois "Casa" de Jaques Morelembaum, Paula Morelembaum e Riyuchi Sakamoto, depois "Eco" do Jorge Drexler, depois "From a Basement on The Hill" do Elliott Smith, "Fordlandia" do Jóhann Jóhannsson… por aí vai.
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
O último disco que escutei sem parar foi "The Very Very Best of Crowded House". Quando adolescente, não prestei muita atenção neles mas recentemente descobri a composição deles e adorei.
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Não tenho tido muito tempo pra procurar música nova no momento pois tenho estado bastante ocupado com diversos projetos. Os últimos discos que baixei foram "One Dog Man" do James Taylor e "Nilsson Schmilsson" do Harry Nilsson…
Estou numa fase de musica americana dos anos 70…
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Quando tinha cabelos longos e tocava em uma banda de rock fui balançar a cabeça e meus cabelos ficaram presos no braço do baixo. Foi engraçado.
Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Riuychi Sakamoto, Jóhan Jóhansson.
Para quem gostarias de abrir um concerto?
k.d. lang
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias de um dia actuar?
Em um palco onde queiram me escutar.
Qual o melhor concerto a que já assististe?
Tenho boas memórias do concerto do Sting na turnê Nothing Like the Sun em 1988 eu acho em Porto Alegre. Depois disso Joe Zawinul em um bar de jazz em Los Angeles chamado Catalina. A primeira vez que vi Jon Brion tocando, me impressionou bastante também.
Que artista ou banda mais gostarias de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Paul McCartney, Eric Clapton, Radiohead.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) que gostarias de ter estado presente?
Gostaria de ter visto The Police na turnê Synchronicity II, Jimi Hendrix e Van Halen con David Lee Roth.
Qual o teu guilty pleasure musical?
Uma boa canção pop, daquelas que tocam incessantemente nas rádios.
Projectos para o futuro?
Estou terminando um projeto que une poesia, meditação e música. Se chama Guided Meditation For a Traffic Jam e estou super feliz com o resultado. Acabo de terminar a produção de um disco para um artista da Costa Rica chamado Mendez e acho que ficou ótimo.
Quero começar a gravar canções novas em português e tenho também o conceito de um disco e livro de poesias que pretendo terminar até o final do ano.
Próximos concertos?
Tenho alguns shows marcados em Los Angeles e em Julho saio em turnê tocando guitarra para Gwen Stefani.
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
As risadas e as estórias que vivi com amigos, família e pessoas amadas.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Ficamos agora ao som de "Toudo Não Me Basta" extraído do álbum Essas Coisas Todas.
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