quarta-feira, 28 de junho de 2017

Reportagem Aerosmith ao Vivo na Meo Arena - 26 de Junho 2017



Após quase duas décadas sem pisarem solo nacional, os Aerosmith aterraram em Lisboa, com a digressão de despedida "Aero-Vederci Baby!". Se isto não foi uma despedida, então que voltem rápido, se de facto esta será a última tour, o adeus aos palcos foi feito em grande, fechando com chave de ouro um dos episódios mais marcantes da história da música. Steven Tyler, Joe Perry e companhia mostraram que continuam em forma e os anos não passam por eles...


A primeira parte do concerto ficou entregue ao trio britânico de hard rock RavenEye. Formados em 2014, editaram o seu disco de estreia, Nova no ano transacto. Os RavenEye, mostraram como é que uma banda de abertura se deve comportar. Aproveitando a oportunidade para conquistarem uma grande plateia, que normalmente não se deslocou ao recinto para os ver. Energéticos, intensos e por vezes explosivos. Uma primeira parte que serviu para aguçar o apetite ao que se seguia.
Antes de darmos início ao concerto, relembramos que a última passagem dos Aerosmith por Portugal, havia ocorrido no distante ano de 1999, concerto inserido na primeira edição do Festival T-99. O festival decorreu no Estádio Nacional do Jamor, não foi de todo um sucesso, apesar de contar com nomes como Metallica, Garbage e Guano Apes. A primeira edição viria por esse motivo a ser também a última. 
Às 22h00, as luzes apagam-se perante uma Meo Arena repleta e entusiasmada, que aguardava com ansiedade o regresso dos "Bad Boys From Boston". No ecrã gigante surge um vídeo introdutório em formato de retrospectiva, da carreira desta mítica banda. Recuamos até 1970, ano de formação da banda, que assim completa 47 anos de existência, 47 anos que marcaram para sempre a história da música. Durante mais de quatro décadas os Aerosmith acompanharam a evolução da própria música, quer seja em formato vinil, k-7, cd, mp3 ou streaming.
A introdução estava feita e eis que sobem ao palco Steven Tyler, Joe Perry, Brad Whitford, Tom Hamilton, Joey Kramer e o mais recente Buck Johnson. 
Logo no início atiram-se de cabeça à velhinha "Let the Music Do The Talking", relembrando-nos que antes de se terem dedicado às baladas mais conhecidas e a bandas sonoras de levar às lágrimas, os Aerosmith "rockavam" como poucos, é de toda a justiça, que ainda hoje são conhecidos como "The America's Greatest Rock'n'Roll Band".
Seguiu-se "Nine Lives", e aí o ecrã gigante volta a ligar-se transmitindo com uma qualidade impressionante o que decorria em cima do palco. Um misto de concerto ao vivo, com transmissão em live hd. Este simples facto, tem imensa importância só uma banda confiante, experiente e sem medo de assumir que envelheceu, permite a transmissão de imagens com tanta definição. Algumas (poucas) rugas e alguns cabelos brancos são mesmo os únicos sinais de que passaram tantos anos. De resto a banda apresenta uma forma invejável, uma jovialidade inesgotável. Steven Tyler e Joe Perry denotam mesmo uma forma física de fazer inveja a um jovem na casa dos 30. Para quem não sabe Steven tem 69 anos e Joe completa este ano 67.
O concerto segue sempre em alta rotação com "Rag Doll" (acompanhada por Perry na lap stell guitar) e um dos primeiros grande momentos da noite ao som da inconfundível "Livin' on the Edge".
Steven Tyler continua irreverente, provocador e sensual, serpenteando-se pelo palco agarrado ao seu microfone de pé.
"Love in an Elevator", a inesperada "Falling in Love (Is Hard on the Knees)", antecedem as primeiras covers da noite "Stop Messin' Around" e "Oh Well" dos Fleetwood Mac. Mister Joe "Fuc*ing" Perry, é assim que Steven introduz o virtuosismo do guitarrista. Anthony Joseph Pereira, mais conhecido como Joe Perry, descendente de portugueses demonstrou-se feliz por estar no país onde o avô nasceu, presenteando-nos com alucinantes riffs, que denotam uma técnica impressionante, não é por acaso que integra algumas listas de melhores guitarristas da história da música. O estrelato é de facto dividido na díade (no passado por vezes conflituosa, hoje em perfeita harmonia) Tyler/Perry. Se por um lado Steven é um autêntico mestre de cerimónias, um animal de palco, por outro lado Perry é um génio da guitarra.
É precisamente com ambos sentados no palco que assistimos a um momento "acústico" ao som de "Hangman Jury" e "Seasons of Wither".
Introduzido com a sonoridade do famoso baixo de Hamilton, estamos perante mais um grande momento com "Sweet Emotion". Os Aerosmith têm algo que só as bandas que se encontram juntas há tanto tempo conseguem, chama-se cumplicidade, não há segredos entre os elementos da banda. Nos concertos ao vivo, incomoda-nos quando parece que estamos a ouvir um cd em casa, onde as músicas têm todas uma duração entre 2, 3 minutos. Com os Aerosmith isso não acontece as músicas prolongam-se ao som de riffs estonteantes, de uma bateria poderosa, um baixo envolvente e de uma voz infalível, os agudos continuam marcantes, em qualquer parte do mundo a voz de Steven é inconfundível.
(Um pequeno à parte, o som da Meo Arena, continua a não ser de todo o melhor, falta-lhe nitidez e a acústica por vezes é desesperante, no entanto isto depende muito da zona em que nos encontramos, e no fim de contas a performance da banda nunca foi posta em causa.) 
As lágrimas escorrem de uma fã junto a nós ao som de "I Don't Want to Miss a Thing", segue-se outro ponto alto ao som de "Come Together" dos The Beatles. A Harley-Davidson dos Aerosmith continua de roda no ar com a fantástica sequência de "Eat The Rich", "Cryin'" e "Dude (Looks Like a Lady)", que encerra o concerto.
O público rendido e entusiasmado apela ao habitual encore e os Aerosmith não tardam e regressam ao palco. O "Deamon of Screamin'" senta-se ao piano branco, Joe Perry sobe ao mesmo e juntos proporcionam-nos o GRANDE momento da noite com "Dream On", segue-se um inspirada cover de "Mother Popcorn" de James Brown revestida de rock'n'roll. O concerto termina ao fim de quase duas horas com a tão aguardada "Walk This Way", com direito a muito fumo e chuva de confetis. 
É claro que escaparam muitos clássicos, mas mesmo com um concerto de 4 horas, iriam sempre faltar. Nós gostaríamos de ter ouvido as baladas "Crazy",  "Angel" e "Amazing", mas também o rock "old school" de "Back in the Saddle" e "Mama Kin". O público estava rendido, os mais cépticos convencidos, os infiéis convertidos à religião dos Aerosmith. Se isto foi uma despedida, então até sempre Aerosmith e obrigado por tudo...

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