sábado, 11 de julho de 2015

Nos Alive - Reportagem 2.º Dia - 10 de Julho


O ouvido alternativo esteve de regresso ao passeio marítimo de Algés para o segundo dia do Nos Alive, que contou com 48 mil espectadores (números da organização), um dia marcado pelas estreias no nosso país, de Bleachers, Cold Specks, passando por Kodaline e Sheppard. O dia contava ainda com as aguardadas actuações de Mumford and Sons e Future Islands, entre outros.
O nosso dia começou no palco electrónico:
18:00 - Skip and Die (Palco Nos CLubbing): sexteto originário de uma mistura dos Países Baixos com África do Sul, a sua música combina rock, electro, hip-hop, com um pouco de funk e reggae, ao vivo são uma força da natureza alicerçada na entusiasta vocalista Cata.Pirata, que chegou mesmo a descer do palco e vir cantar para o meio do público, levando os poucos presentes à loucura. O som é revestido de raízes étnicas, vieram apresentar o seu segundo disco de originas Cosmic Serpents (2015), mas não se esqueceram de revistar o álbum de estreia Riots in The Jungle (2012). O público não era numeroso mas dançou sem parar num bom aquecimento para o resto do dia.


18:50 - Cold Specks (Palco Heineken): cantora e compositora canadiana de raízes Somali, que já tinha sido referenciada aqui no ouvido alternativo.  O concerto foi calmo como seria de esperar, adequado à hora do dia, não deslumbrou mas conseguiu por momentos encantar os presentes. O seu som resulta de uma mistura entre o rock obscuro e a soul, tudo finalizado com a sua voz poderosa e intensa, e que bem que sabe podermos ouvir boas vozes num festival de verão. Estreou-se no nosso país e pareceu gostar, tendo mesmo chegado a perguntar se queríamos que regressasse, nós gostamos e respondemos que sim, ficamos a aguardar. O concerto incidiu predominantemente no último Neuroplasticity, sem esquecer o disco que a lançou em 2012 I Predict a Graceful Expulsion. Não faltou como seria de esperar: "Winter Solstice" e esta fantástica "Absisto".


19:20 - Marmozets (Palco Nos): grupo americano de rock progressivo, apesar de já existirem desde 2007, só em 2014 editaram o disco de estreia, The Weird And Wonderful Marmozets, e de facto têm o seu quê de estranhos mas não conseguimos encontrar os maravilhosos Marmozets. Ao vivo são esforçados e fundamentam a actuação na prestação irreverente da sua vocalista, Becca Macintyre, só que ela deixa muito a desejar, não a nível de empenho, mas a nível vocal, quando simplesmente canta, a voz não é de todo má, mas o problema aparece quando a esforça querendo atingir notas altíssimas através dos seus gritos, que não são mais do que isso gritos desafinados, tudo se torna ainda mais difícil de suportar, porque a grande parte da sua actuação é a gritar, transmitindo a ideia de agressividade bem patente na sua música. São capazes de conquistar um grupo de jovens pouco exigentes, mas a nós não nos encantou. Não faltaram os êxitos, como é o caso desta "Born Young and Free".


19:50 - Bleachers (Palco Heineken): mais uma estreia no nosso país e que estreia... Poucos poderia imaginar que antes das 20 horas já teria iniciado um dos melhores concertos do dia se não mesmo o melhor. Os Bleachers são americanos e praticam um indie pop descomprometido, mas que ao vivo assumiu contornos memoráveis. A comunhão foi perfeita: a banda, o público e o ambiente. A banda foi explosiva, descontrolando-se inúmeras vezes numa alienação que foi conquistando aos poucos cada membro do público ali presente. Com apenas um disco editado, Strange Desire, que apesar de ser bom não é brilhante, nada disso importou para Jack Antonoff e companhia que conseguiram elevar a mais simples das músicas a um patamar quase épico, para isso toda a banda contribuiu em igual medida desde um baterista energético, a um baixista louco, passando por um saxofonista com uns pulmões que não devem ser humanos e terminando no vocalista que se transformou num autêntico animal de palco. Relembramos que para os mais atentos o vocalista Jack Antonoff tem uma cara familiar, talvez por ser o guitarrista dos fun.
O seu debut foi revisitado com mestria e não se esqueceram de "Like a River Runs", "Rollercoaster", "Shadow" e a orelhuda "I Wanna Get Better" e ainda tiveram tempo para relembrar os Fleetwood Mac com "Go Your Own Way". O momento alto: foi todo o concerto. A banda estava a ter tamanha recepção e fez por merecer todo o carinho transmitido pelo público, conquistaram os fãs e deixaram os infiéis convertidos à sua religião. Repetiram vezes sem conta que este foi o melhor concerto de toda a tour e sem dúvida o melhor público, e se normalmente desconfiamos de tal afirmação, aqui não temos a menor das dúvidas. Para os presentes fica a sensação que estiveram presentes num daqueles momentos raros de perfeita sintonia entra banda e público que resulta em algo mágico. Voltem depressa, após este concerto inesquecível.


20:50 - Sheppard (Palco Nos): os australianos estrearam-se a Portugal, tendo viajado sob as asas do sucesso do mega êxito "Geronimo", o seu som é indie pop, mas muito mais pop do que indie, ao vivo não comprometem George e Amy Sheppard sabem entreter e são competentes nas partes vocais. A música dos Sheppard transpira verão e felicidade por todo o lado e seria perfeita para ouvir em qualquer praia paradisíaca, no palco principal do Nos Alive não deslumbrou mas não comprometeu. No entanto surge a dúvida: serão um "One-Hit Wonder"? Nós acreditamos que sim, mas o tempo nos dirá se estamos ou não enganados, até porque adoramos ser surpreendidos e não nos importamos de estar errados. Como era mais que óbvio todos queriam ouvir "Geronimo" e os Sheppard fizeram a vontade.


21:00 - Kodaline (Palco Heineken): há fenómenos estranhos e ontem os Kodaline presenciaram bem isso, tiveram direito, na sua estreia em Portugal, à maior enchente até agora que palco heineken viu nesta edição, à recepção mais calorosa, histérica e sentida por parte do público. Aos primeiros acordes de cada música ouviam-se os gritos de entusiasmo do público, cada música tocada foi recebida como se fosse um single, a audiência cantou sem excepção todos as músicas em uníssono, um ambiente incrível e admirável que nos deixou surpreendidos. Agora surge a questão o que fizeram os Kodaline para receberam aquela recepção? Editaram dois álbuns com duas/três boas canções e revestiram o resto das músicas com a fórmula "muito amor", mas ao vivo pouco ou nada fizeram para receberem tamanha e histérica reacção, no entanto como o público é quem mais ordena, acreditamos que para os presentes terá sido o concerto de uma vida, presenciamos até a moda que parecia perdida de vermos jovens erguidas e sentadas nos ombros de seus namorados/amigos para terem visão privilegiada  enquanto o/a infeliz atrás de si fica com a visão de umas costas. Os irlandeses liderados por Steve Garrigan, que algumas vezes nos fez relembrar um Bryan Adams na juventude, cantou e encantou, a voz não desilude, a banda é competente, mas a música não nos deslumbrou assumindo demasiadas vezes um lado sentimental exagerado com direito a isqueiros, lanternas dos telemóveis e gritos por parte dos/das fãs. Não se esqueceram de tocar a muito aguardada "High Hopes" e encerraram com a maravilhosa "All I Want".
    

22:20 - Mumford and Sons (Palco Nos): no primeiro dia os Metronomy voltaram ao sítio onde haviam sido felizes e voltaram a sê-lo, ontem os Mumford and Sons fizeram o mesmo mas foram menos felizes do que na primeira vez. a banda britânica de folk rock actuou em Portugal pela primeira vez em 2012 no mesmo palco que ontem, na bagagem traziam na altura apenas o maravilhoso disco de estreia Sigh No More e mesmo com Marcus com um braço partido, e não conseguindo por isso tocar a sua guitarra acústica/banjo, deram um concerto memorável que quem assistiu jamais esquecerá. Voltaram a Portugal em 2013 para um concerto em nome próprio no Coliseu dos Recreios a rebentar pelas costuras e nessa altura já tinham editado o segundo longa duração e também brilhante Babel que lhes valeu na altura o grammy para melhor álbum do ano, mais uma vez foram entusiasmantes e praticamente fizeram o Coliseu de Lisboa se parecer com o de Roma, em ruínas, após terem literalmente "deitado a casa abaixo". Ontem voltaram e esperávamos a mesma fórmula e o mesmo resultado só que perante uma plateia muito mais numerosa, mas o resultado foi completamente diferente, concerto com demasiados "momentos mortos" e algo monótono que só a espaços conseguiu entusiasmar. Qual será então o motivo para tal diferença? A resposta é fácil, Wilder Mind, terceiro disco de originais editado este ano, e no qual os Mumford decidiram pegar nas guitarras eléctricas e abandonar os banjos, o resultado é um disco pobre, mediano, com um ou outro single capaz de animar uma plateia, mas no geral um disco descaracterizado, quiseram evoluir mas deram uma dezena de passos atrás. Ontem isso ficou bem patente, sempre que os Mumford and Sons defenderam o novo álbum com músicas como: "Snake Love", "Ditmas", "Tompkins Square Park" ou "Hot Gates" o público reagiu com desconhecimento e pouco entusiasmo, excepção feita a "The Wolf" e Believe". Agora quando se centraram nos dois primeiros LP's a história foi outra: "I Will Wait", "Roll Away Your Stone", "The Cave", "Dust Bowl Dance" e "Little Lion Man", levaram o público ao êxtase, saltando e cantando sem parar. O concerto não foi mau, muito longe disso , até porque os Mumford and Sons, são excelentes músicos e sentem-se confortáveis quer seja com banjo quer seja com guitarra eléctrica na mão, mas simplesmente comparando com os dois anteriores, este foi o menos memorável de todos, no entanto para quem os viu pela primeira vez, não ficar de todo desiludidos. Marcus Mumford assume-se como um excelente mestre de cerimónias, voz irrepreensível, toca guitarra, banjo, harmónica e ainda consegue encantar na bateria. Resumindo e concluindo belo concerto mas já os vimos fazer muito melhor, para isso pedimos encarecidamente que voltem às origens.
  

23:30 - Future Islands (Palco Heineken): antes de começarmos a análise, um desabafo: MAGNÍFICO, um dos concertos mais aguardados da noite, o regresso da banda americana de rock alternativo/synthpop, que apesar de existirem quase há 10 anos, passaram do anonimato para o sucesso planetário graças ao último e extraordinário disco Singles editado pela prestigiada 4AD. Há ainda um momento marcante na carreira dos Future Islands, e que contribuiu para atingirem o grande público, uma actuação memorável e a habitual irreverência do vocalista em directo na televisão americana no programa de David Letterman. Ontem à noite o palco Heineken registou mais uma enchente e desta vez foram atacados pelo bombardeiro Samuel Herring, carismático vocalista. É impossível falar dos Future Islands sem focarmos o seu frontman, ele é explosivo, excêntrico, incendiário, provocatório, teatral e além disso ainda canta e dança como se a sua vida dependesse disso. O público foi levado ao rubro e o concerto foi um dos melhores do dia, mas isso já seria de esperar, pelo menos para quem conhecia a banda, os que desconheciam de certeza não voltarão a esquecer o nome de Future Islands. Os momentos altos foram "The Chase" e como é óbvio "Seasons (Wainting on You), uma das melhores músicas dos últimos anos. Ficamos com vontade de vê-los novamente, e a avaliar pela reacção que tiveram e pelo facto de acreditarmos que o palco Heineken deve ter ficado abalado nas suas estruturas, o regresso não há-de tardar.


00:30 - The Prodigy (Palco Nos): a electrónica agressiva e atitude incendiária dos The Prodigy, são uma fórmula testada e comprovada, e não precisam de muito para deixarem o público ao rubro e palco em chamas. A expressão "Fuck" é repetida até à exaustão, e neste regresso aos palcos portugueses a banda inglesa que viveu o auge nos anos 90 apresentou o mais recente disco the Day is My Enemy, mas não esqueceram os clássicos: "Breathe", "Omen", Firestarter", "Voodoo People" e "Slack My Bitch Up".


01:00 - James Blake (Palco Heineken): terceiro grande concerto do dia, o músico, compositor e produtor inglês regressou ao passeio marítimo de Algés e voltou a ser brilhante, conseguiu silenciar o ruído que à distância advinha do concerto dos The Prodigy. Plateia numerosa, entusiasmada e silenciosa quando necessário, ouviram, sonharam e ficaram com a alma cheia, com a electrónica misturada com a soul da sua belíssima voz. Ao vivo James Blake é calmo, tranquilo, mas de uma intensidade indescritível, há algo de mágico e belo na sua música. Usou e abusou com mestria dos Loops e dominou na perfeição a electrónica mais experimental, fez-se acompanhar por dois músicos não menos brilhantes, na bateria Ben Assiter e nos sintetizadores pelo produtor e DJ Rob McAndrews, conhecido como Airhead. Dois discos memoráveis, são o seu repertório e revistou-os com a sua genialidade, "Limit To Your Love" (cover de Feist), "Overgrown", "Retrogade", "Voyeur" e "the Wilhelm Scream", foram recebidas com o entusiasmo e a excitação que James Blake merece. Foi lindo e etéreo, aproveitamos só para fazer um apelo queremos urgentemente assistir a um concerto de James Blake em nome próprio numa sala fechada.


02:45 - Róisín Murphy (Palco Heineken): a noite ficou encerrada para nós ao som da senhora Moloko, mas que Moloko teve muito pouco. Do alto dos seus 42 anos,  a experiência notas-se na forma como consegue dominar o palco. Entrou vestida de idosa, mala no braço lenço na cabeça e gabardina vestida, que rapidamente a despiu sobressaindo um vestido preto de lantejoulas e assim começou o concerto. Entre inúmeras mudanças de visual e infinitos acessórios, Roísín Murphy, foi teatral, provocaria, sensual, provando que se encontra em excelente forma. Os seus três disco a solo foram o epicentro do concerto, no entanto o maior destaque foi atribuído a Hairless Toys, lançado este ano e que surge após um interregno de oito anos. Uma palavra para a banda que acompanha composta por excelentes músicos também eles com uma parte teatral bem vincada e que são o suporte necessário para Róisín Murphy brilhar. A sua electrónica convidou o público a dançar e ninguém se fez rogado.



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