domingo, 12 de julho de 2015

Nos Alive - Reportagem 3.º Dia - 11 de Julho


Terminou ontem mais uma edição do Nos Alive, no último dia contou com nomes como The Jesus and Mary Chain, Chet Faker, Dead Combo e Sam Smith entre outros. Já foram anunciadas as datas da edição de 2016, que comemorará o 10º aniversário e realizar-se-á nos dias 7, 8 e 9 de Julho e os os bilhetes já se encontravam à venda no recinto. Mas voltemos à edição deste ano, o dia 11 de Julho foi dividido entre o Palco Heineken e o Palco Nos, assim às:
17:40 - Soldier's Heart (Palco Heineken): banda proveniente da Bélgica, ainda desconhecida do grande público, editaram recentemente o seu primeiro EP homónimo, que vieram apresentar no Nos Alive. Ao vivo a banda mostrou-se empenhada, o quinteto formado por guitarra, bateria, sintetizadores, teclas, ao qual se junta a voz suave da vocalista Sylvie, mostrou a sua pop dançável com guitarras cristalinas e um composição electrónica cuidada. À sua espera tinham pouco público mas que não se fez rogado quando foram convidados a dançar. Esta foi a estreia no nosso país e ficamos com a certeza que vai ser um nome que irá merecer a nossa atenção nos próximos tempos. O ouvido alternativo avisa para não confundirem com a banda americana de rock com o mesmo nome.


18:30 - Sleaford Mods (Palco Heineken): banda inglesa que combina punk, com hip-hop e electrónica, à volta deles tem havido algum "sururu", sendo mesmo um dos concertos mais aguardados por algumas publicações da especialidade. É difícil descrever o que assistimos, mas vamos tentar: Andrew Fearn é o homem por detrás da electrónica (o mais  minimalista que possam imaginar), que em palco apenas carrega no botão de "play" do seu portátil, e assim reproduz a electrónica pré-gravada, de resto mantém-se de copo de cerveja na mão e abana a cabeça, enquanto Jason Williamson, o vocalista num misto entre spoken words, e gritos de raiva, vocifera as letras da suas músicas com um humor dilacerante e uma fúria bem patente. Desde 2007 que produzem música, mas foi em 2014 que entraram no mapa musical com o disco Divide and Exit, no Nos Alive apresentaram ainda canções do seu mais recente Key Markets. Têm fãs? Têm com certeza e alguns estiveram ontem presentes e dançaram perante o som dos Sleaford Mods, nós com todo o respeito, não compreendemos o fascínio e apoderou-se de nós um sentimento de estranheza, mas não daquela a que Fernando Pessoa se referia, "que se entranha", mas sim daquela que repulsa.


19:40 - Dead Combo (Palco Heineken): muito bom este concerto, bem se calhar muito bom é pouco, excelente, se calhar não é suficiente, o melhor do dia? sem dúvida, mas mesmo assim não achamos suficiente para descrever o quão magnífica e genial foi esta apresentação dos portugueses Dead Combo. Tó Trips e Pedro Gonçalves apresentaram-se num formato mis rock que o habitual e para isso contaram com a colaboração do músico Isaac Achega e Sérgio Nascimento (bateria). Pedro Gonçalves desta vez não se limitou à sua guitarra e ainda navegou por diversos instrumentos: contrabaixo, piano, percussão e escaleta, mas é na guitarra que ele se transforma e em conjunto com Tó Trips levam o público à loucura e ao êxtase. Ao vivo nunca desiludem, já os tínhamos visto em duas ocasiões anteriores e parece que cada vez são mais intensos, viajaram pelo rock, pelo fado, pelo jazz, pelos blues e pelos clássicos westerns americanos, não se esqueceram de "Povo que Vais Descalço", incendiaram o palco Heineken com "A Bunch of Meninos" e despediram-se, com uma dedicatória à Grécia, com a sua bandeira sob pano de fundo. O público venerou-os no seu "altar" e elevou-os à categoria de "deuses", com certeza converteram mais alguns infiéis à religião Dead Combo.


21:00 - Sam Smith (Palco Nos): após a cirurgia a que foi submetido às cordas vocais Sam Smith regressou ao passeio marítimo de Algés e receava-mos pela qualidade vocal. Na véspera referimos que haviam certos fenómenos que não precisavam de fazer muito para terem direito a uma recepção entusiasmada e por vezes histérica, como foi o caso dos Kodaline, hoje percebemos que há fenómenos musicais que têm uma claro justificação e razão de ser. Samuel Frederick Smith de apenas 23 anos, entrou em palco, visivelmente mais magro e cedo fez questão de relembrar que no ano transato tinha actuado no palco Heineken perante uma multidão, (nós também lá estivemos) e reconheceu ainda o nervosismo que sentiu antes de entrar em palco nesse dia 11 de Julho de 2014, desta vez teve direito a palco principal, uma multidão muito mais numerosa e justificou plenamente a promoção. Em palco apresentou-se com uma banda competente e três backing vocalist, cantou e encantou com as canções do seu único álbum In the Lonely Hour, não faltaram os êxitos "Like I Can", "Money on My Mind", "I'm Not the Only One" e "Lay Me Down". Apesar dum disco deprimente como o próprio assumiu, Sam Smith mostrou-se simpático, apesar de algo tímido, comunicativo, e visivelmente emocionado quando cantou "I've Told You Now". Ainda teve tempo para revistar duas versões de Amy Winehouse "tear Dry On Their Own" e de Elvis Presley "I Can't Help Falling In Love With You", não se esqueceu de "Latch", canção dos Disclosure que tornou a sua voz mundialmente conhecida e terminou ao som do seu mega-êxito "Stay With Me". A sua voz é impressionante, não falha nem por um segundo, recheada de soul, agudos perfeitos, usa e abusa dos falsetes e passa com distinção e nota máxima. Apesar de não sermos os maiores apreciadores da sua música é impossível não reconhecer que o êxito que tem, é de todo merecido e justificado, caso alguns cépticos tivessem dúvidas, Sam Smith dissipou-as todas ontem. Referimos ainda que além de todas as qualidades que apresenta, nota-se uma enorme humildade, o espectáculo é seu e o público está lá unicamente para o ouvir, mas não se inibe a passar esporadicamente para segundo plano para deixar a sua banda e fundamentalmente os seu cantores de suporte (duas mulheres e um homem) brilharem e demonstrarem as suas poderosas vozes. Acreditamos que voltará em breve para um concerto em nome próprio.


21:10 - Mogwai (Palco Heineken): concerto que marcou o regresso da banda escocesa ao nosso país, apesar do concerto coincidir com o de Sam Smith, tinham à sua espera uma plateia numerosa, até porque possuem uma larga legião de fãs fiéis no nosso país. O concerto desta noite foi como sempre empenhado, intenso, cru, conseguindo agitar as hostes do palco secundário. Com um sistema de luzes impressionante e um som por vezes a roçar o rock psicadélico, apesar de terem editado disco novo em 2014 Rave Tapes, o concerto decorreu em formato best-of, indo "beber" a diversos discos da sua longa discografia. Este concerto encontrava-se inserido na tour de comemoração do vigésimo aniversário da banda.


22:35 - The Jesus and Mary Chain (Palco Heineken): apesar de serem cabeças de cartaz em alguns dos festivais europeus, no Nos Alive tiveram apenas direito ao palco secundário, no entanto não se fizeram rogados e provaram que se mantêm em excelente forma. Este concerto era comemorativo e marcava o trigésimo aniversário da edição do extraordinário disco de estreia Psychocandy. Sem direito a ecrãs gigantes ligados, possível exigência da banda, os The Jesus and Mary Chain, mostraram o seu rock alternativo que influenciou gerações, e deram um concerto arrebatador, com a sua sonoridade a remetermos para os anos 80 e 90, e que saudades temos desses tempos, em que se fazia música sem recurso a artefactos, fogo de artifício, confetis, e afins. Eles valem pela música que fazem e nisso são dos melhores, excelentes executantes, se serem expansivos ou muito comunicativos, mas também ninguém esperava isso deles, esperava-mos rock puro e duro com um toque de punk e muito revivalismo e foi isso mesmo a que tivemos direito. Começaram o concerto com a incrível "Just Like Honey" primeira faixa do disco e terminaram com a última canção de Psychocandy "It's So Hard", quatorze canções sem mácula. Mas para surpresa não ficaram por aí e ofereceram, três prendas aos fãs "Head On" de Automatic, "Some Candy Talking" extraída do EP homónimo e "Reverence" de Honey's Dead


23:00 - Chet Faker (Palco Nos): Nicholas Murphy, australiano, bem pode dizer que este mês Portugal foi a sua segunda casa, após uma noite na Lux como DJ, dois concertos esgotados no Coliseu dos Recreios, na semana passada, regressa novamente a Portugal para substituir Stromae que havia cancelado por questões de saúde. Chet Faker foi o autor do melhor disco internacional de 2014 para o ouvido alternativo, apesar de ter sido um concerto extremamente curto, menos de uma hora, quando ainda por cima os Disclosure só entravam em palco às 01:00, foi claramente um concerto vencedor. Chet Faker que conta apenas com um LP e alguns EP's editados, mostrou-se ao vivo acompanhado esporadicamente por mais dois músicos (bateria e teclas), mas sozinho pareceu dominar claramente todas as nuances da electrónica, controlando sintetizadores, piano e loop com mestria. Ao vivo apresentou-se bem mais electrónico do que em disco e algumas belas canções perderam impacto emocional mas ganharam no que à dança diz respeito. Revisitou "No Diggity", cover dos Blackstreet que lhe trouxe o reconhecimento do grande público, não se esqueceu de "I'm Into You", "Gold" e despediu-se com "Talk is Cheep". Para nossa tristeza faltaram algumas das melhores músicas de Built On Glass, tais como "Release Your Problems", "To Me" e "Dead Body".


01:00 - Disclosure (Palco Nos):a noite terminou com Disclosure que demonstraram mais uma vez que a sua electrónica anda nos ouvidos do mundo, não se esqueceram de visitar o disco de estreia Settle, mas ainda tiveram tempo para por uma longa plateia eufórica com os temas do mais recente Caracal, ao vivo o duo inglês assume uma forte carga visual e não desilude mesmo quando assumem por breves momentos a voz como veículo da sua música e se atrevem a cantar.


O Nos Alive continuou noite dentro ao som do duo canadiano Chromeo, que invadiu o palco Heineken com o seu electro-funk, traziam com eles o último disco editado em 2014 White Woman. O Nos Alive regressa para o ano, nesta edição podemos assistir a alguns belo concertos, mas notou-se claramente que este foi um dos anos em que o festival apresentou o cartaz mais heterogéneo, o que permitiu a junção num só espaço de amantes de música de diversos sectores, se isso é bom? Deixamos que cada qual decida por si, nós temos a nossa opinião bem formada. Terminamos com um desabafo os festivais de música estão-se a tornar festivais de muita coisa mas cada vez menos festivais de música, felizmente não são todos.

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