Damien Rice, músico e compositor irlandês, arrebatou na passado dia 13 de Julho o Coliseu de Lisboa. Enfrentou sozinho uma mítica sala praticamente lotada, saiu de lá claramente vencedor e com o público rendido ao seu talento... Damien Rice, conta com quinze anos de carreira, apenas três discos editados, o mais recente dos quais, My Favourite Faded Fantasy, lançado em 2014. O regresso a Portugal foi triunfante, ficamos mais uma vez extasiados e apaixonados ...
Não é surpresa para ninguém que acompanhe minimamente o "Ouvido Alternativo", nós somos enormes fãs de Damien Rice, motivo pelo qual este era um dos concertos mais aguardados do ano, podemos descrever Damien numa só palavra, GENIAL. Após o termos
visto no ano transacto na edição do Nos Primavera Sound, relembramo-nos que nesse dia houve apenas um
pequeno/grande problema, algum do público presente
aproveitou o momento delicado e de silêncio para colocar a conversa em dia
prejudicando assim um concerto que poderia ter sido único, desta vez podemos
afirmar que foi o público perfeito para o concerto perfeito.
Se muitas vezes critico a postura de alguns espectadores que
preferem filmar, fotografar, conversar e até cantar a plenos pulmões impedindo de ouvir a voz do próprio artista. Nesta noite de 13 de
Julho de 2016, tudo decorreu na perfeição, o público manteve o silêncio quando
o momento assim o exigia, é certo que filmou e fotografou mas apenas por breves
instantes, mas sejamos sinceros quem não
gosta de filmar aquela música ou tirar uma fotografia? Em primeiro lugar, por isso, destacamos o público presente que foi merecedor de tão brilhante espectáculo.
Antes de Damien, subir ao palco, a primeira parte ficou a cargo da islandesa Gyda (fundadora dos Múm), que acompanhada pelo seu violoncelo, nos convidou a percorrer consigo uma floresta encantada ao som da sua voz delicada e pincelada por uma obscuridade cativante.
Eis que chega o tão aguardado momento da noite e Damien Rice enfrenta
o palco do Coliseu, sozinho com apenas
uma guitarra e pedais de Loop (onde grava sons de instrumentos e voz, e
posteriormente os mistura) e não é preciso mais nada. O palco era sóbrio, destacando-se aqui e ali alguns instrumentos (guitarra acústica e eléctrica, baixo, clarinete, percussão e uns pratos de bateria), que Damien usaria mais tarde. O destaque óbvio vai directamente para os pedais de loop, com os quais faz pura magia.
Damien é sublime, poucos sabiam mas esta foi a segunda visita de Damien à cidade
de Lisboa, após em 2003 ter feito a primeira parte de Lamb no pavilhão
atlântico, há muito que o público português ansiava por uma visita deste cantor
e compositor irlandês para um concerto em sala fechada.
A sala praticamente repleta, um intenso jogo de luzes sincronizado na perfeição com os acordes da música, finalmente uma qualidade sonora irrepreensível, ao nosso lado ouvimos a seguinte exclamação: “hoje o som está incrível” e de facto estava. Ao vivo a voz não tem falhas, parece que estamos a ouvir
um disco gravado em estúdio, o repertório esse como seria de esperar e talvez porque gostamos de praticamente toda a sua discografia, deixou alguns êxitos para trás tais como: "Cold
Water", "Coconut Skins" e "Rootless Tree". Assim sendo o concerto
iniciou ao som de "My Favourite Faded Fantasy", seguiu-se a estupenda "9 Crimes" e passou por "Delicate" e "I Remember".
Muito mais que um concerto, sentimo-nos como se estivéssemos
a passar uma bela noite na companhia do cantor irlândes, como se fôssemos
amigos e tivéssemos ido passear. Jantamos com ele e fomos falando da vida, ele
foi desabafando sobre paixões, amores e desamores, convidou-nos para irmos com
ele a um típico pub irlândes (cenário montado no palco), onde ele afogou as
suas mágoas num copo de vinho e confidenciou "I'm the Greatest Bastard".
O concerto continuou ao som de "Amie" e "Cheers Darlin'", entretanto alguém no meio do público gritou a alto e bom som:
"Let me sing with you", Damien, ouviu e repondeu:
DR - What's Your Name?
B - Bernardo.
DR - Ricardo?
B - BERNARDO!!!
DR - oh! Bernardo.
B - Let me sing with you
DR - What do you want to sing?
B - Anything.
DR - Where are you?
B - Here in the balcony.
DR - Are you good?
B - You'll see.
DR - Can you came here?
E lá foi o Bernardo, "ainda por cima alto e bem parecido", segundo Damien, subiu ao palco e interpretaram juntos "Colour Me In", e não é que foi um belo momento, o Bernardo sabia de facto cantar e mesmo sem nunca se terem visto, nem ensaiado o momento mereceu mesmo uma ovação de pé por parte do restante público, Bernardo agradeceu, sentou-se e depois recebeu um convite para se juntar nos bastidores e beber um copo com Damien. QUE INVEJA, MAS NÃO SABEMOS CANTAR...
O concerto prosseguiu ao som de "Long long Way", que antecipou mais um devaneio da nossa parte, saímos do tal pub irlandês, juntamente com Damien, que na escuridão da noite cantou "a capella" "Cannonball", um dos momentos altos da noite, onde mais uma vez houve o silêncio necessário para ser apreciado.
Para o fim estava guardado o melhor, com It Takes a Lot to Know a Man, onde Damien Rice deu asas a todo o seu talento com uma interpretação a roçar o psicadélico, mais uma vez os pedais de loop assumiram destaque com um instrumental alucinante, composto por um só homem à nossa frente, computadores? o que é isso?
Damien despediu-se, mas regressou para deleite de todos os presentes, o encore foi composto por uma triunvirato de canções, o primeiro single do mais recente disco "I Don't Want to Change You", seguiu-se o seu maior êxito "The Blower's Daughter" e já com GYDA novamente em palco, encerrou com chave de ouro num dueto de "Volcano".
A sua voz
impressiona pelo alcance, pela afinação, mas acima de tudo pelo sentimento que
transporta. Em modo de conclusão, Damien Rice provou que é um dos mais inspirados e talentosos músicos da sua geração, e mais uma vez proporcionou a todos aqueles que se deslocaram ao Coliseu dos Recreios em Lisboa um concerto que ficará na memória, se tivéssemos que definir numa só palavra, a escolha seria fácil: PERFEITO.
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