quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Conversas d'Ouvido com Little Room

Entrevista com a banda brasileira, proveniente do Rio de Janeiro, Little Room. Quarteto composto pelos irmãos Ana Júlia Braga e Gabriel Braga na voz e nas guitarras, aos quais se junta ainda o baixo de Mateus Marcílio e a bateria de Wally Santos. Nasceram em 2017 e percorrem os trilhos do indie pop e do garagem rock. Editaram no início deste ano o EP homónimo de estreia e antes que o ano termine chegam ao Ouvido Alternativo para mais um lançamento das "Conversas  d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música? 
Gabriel Braga (GB): A minha paixão pela música teve um certo incentivo de família. Minha mãe toca piano e a Ana cresceu tocando guitarra. E como todo bom irmão mais novo, me espelhava muito nas coisas que ela fazia. E com a música não foi diferente. Fui pegando todas as sobras dela até pedir a minha primeira guitarra. Dessa forma a paixão foi só crescendo e sendo alimentada por diversas bandas que eu ouvia desde pequeno e que me inspiram até hoje.
Mateus Marcílio (MM): Eu dei a sorte de crescer numa família bastante musical e sem preconceitos. Aos 12 anos, tive meu primeiro contato com um violão velho do meu pai (que eu ainda tenho) e exatamente ali, acendeu-se a primeira faísca. A música mudou tudo pra mim. Tem tanta gente e tanta música boa por aí, que eu tive a oportunidade de conhecer, me considero um cara de sorte por isso.
Ana Braga (AB): Como dito pelo Gabe, minha mãe toca piano, então o primeiro contato com a música veio daí. Me interessei em aprender o piano com 7/8 anos, mas não foi pra frente. Aos 10, me encantei com um violão velho deixado pelo meu primo na casa dos meus avós, e nele comecei a dedilhar as primeiras melodias, aprender algumas coisas de ouvido. Logo pedi minha primeira guitarra e nunca mais larguei. Sempre me dediquei muito e tocar guitarra é minha coisa favorita no mundo inteiro!

Como surgiu o nome Little Room? 
AB: Comecei a escrever o que seria a primeira música da Little Room ("Funny Feeling") em 2010. Nesse época, havia acabado de me mudar pro Rio de Janeiro (eu e Gabriel viemos de Resende, no interior do estado do Rio). Os primeiros espaços em que morei por aqui foram quartos minúsculos, aonde mal cabiam as minhas coisas. Vejo isso como algo positivo, pois a clausura me aproximou dos meus instrumentos e funcionou como combustível para as composições. Além disso, gosto muito da regravação do The White Stripes da música "Little Room". A letra é incrível e fala sobre criatividade. Então foi também inspirado por essa música, que gosto muito!
Little Room - "Little Room"
Editaram este ano o EP homónimo de estreia, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar
AB : Quando escrevi essas músicas, queria que fossem mensagens com que todos, de algum jeito, pudessem se relacionar. Então são letras simples, de certa forma. Falam sobre afeição, ansiedade, nostalgia e são cheias de verdade, bem honestas. Quis provocar essa sensação, de algo familiar, mas que ao mesmo tempo mova as pessoas e tenha um toque de novidade.

Quais as vossas maiores influências musicais? 
AB: Gosto muito de guitarristas que servem a música em primeiro lugar. Amo o trabalho do Taylor York (Paramore). John Frusciante foi uma grande influência. Keane mudou minha forma de pensar sobre música. Recentemente, tenho ouvido muito Into it. Over it., Modern Baseball e Shakey Graves.
GB: Atualmente, minhas maiores influências sãbem variadas, desde country americano outras bandas diversas como Keane, Relient K, The Strokes, Into It. Over It., Paramore e Hanson.
MM: No meu instrumento, penso muito em como a Gail Ann Dorsey e o Pino Palladino tocam. É algo meio educado à primeira vista, mas também de muita explosão, de aproveitar muito o momento e a construção da experiência. Também gosto bastante da Esperanza Spalding, da Rhonda Smith, do Daric Benett. A Tal Wilkenfeld fez um trabalho lindo tocando com o Jeff Beck. Também tem os baixistas brasileiros, o Sérgio Carvalho, a Ana Sebastião… Tem muita gente incrível ali comigo, quando estou no palco. Nem todos têm o devido reconhecimento.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
AB: Um mix de rock noventista, emo revival e garage rock, que soa novo e nostálgico ao mesmo tempo.

Conhecem alguma coisa da música portuguesa?
MM: Adoro Xutos! Mas conheço pouca coisa… Curto bastante Tara Perdida e particularmente sou fã do Born a Lion. Chegando em Portugal no ano que vem, me mostrem a cena!

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
MM: Ah sim! Tenho muito orgulho do meu trabalho como Antropólogo. Gosto muito do que faço, tanto lecionando quanto pesquisando. Acho que a educação é uma grande ferramenta de transformação da realidade. Mas tenho minhas manias, tipo quadrinhos e cozinhar.
AB: Sem dúvidas. Também sou professora de Inglês. Amo a língua, estar em sala de aula e poder contribuir um pouquinho com o sonho de outras pessoas. Meus alunos são incríveis e me inspiram continuamente!

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
GB: A maior vantagem é desfrutar de um sentimento único que é fazer música, performar. O sentimento de compor, estar no palco ou produzir melodias é algo fantástico. Poder tocar as pessoas e se conectar com elas através de uma música sua é algo muito especial. A maior desvantagem é não ter, no início de carreira, o seu trabalho reconhecido como trabalho pela maioria das pessoas. Não há valor para quem está começando, a música nãé levada a sério por grande parte das pessoas.

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
MM: Cresci ouvindo vinil, por necesidade tive de mudar pro CD. Mas curto mesmo é ouvir ao vivo! (risos)
AB: Usufruo de todos eles, curto muito ouvir música com qualidade de CD, nos monitores de estúdio, também tenho um toca discos e coleciono discos de vinil. Concordo com Mateus, ao vivo é melhor ainda.
GB:Não tenho vinil, mas gosto muito. Os métodos antigos são insubstituíveis. 

Qual o disco da vossa vida? 
GB: "Hopes and Fears" - Keane
AB: "Forget and Not Slow Down" - Relient K
MM: "Vivid" - Living Colour, "By the Way" - RHCP, "The Division Bell" - Pink Floyd

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
GB: "When I Was Younger" – Colony House
AB: Shakey Graves - "And the War Came"…
MM: Living Colour - "Shade"

Qual a vossa mais recente descoberta musical? 
GBMason Ramsey
AB: Jónsi
MM: O Tarot, banda de Brasília!
Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto? 
GB: Quando resolvemos homenagear uma aniversariante que estava em um dos nossos shows e erramos seu nome! Foi terrível!

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria? 
GBParamore.
AB: Greg Dunn (Guitarrista/Produtor) - Moving Mountains
MM: Rodrigo Solidade (Canto Cego) ou Victor Mus. Eles tem uma brasilidade que cativa bastante.

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
GBLollapalooza e Coachella, definitivamente. É um sonho tocar Anyone But You” nesses palcos. 
AB: Bonaroo e The Hop Jam Festival (organizado pelo Hanson! Eu e Gabe somos grandes fãs da banda!)
MM: Pode sonhar alto?! Lollapalooza! (risos)

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
GB: Paramore, Rio de Janeiro, 2011. 
AB: Paramore, MewithoutYou, Local Natives - Parahoy Cruise - Abril/2019
MM: Roger Water, turnê "Us + Them" no Maracanã. Foi incrível.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
GBRelient K.
AB: Shakey Graves
MM: Prince e Bowie são os que mais me entristecem. Gostaria de ver Clapton ou BB King também.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
GBRed Hot Chili Peppers Live at Slane Castle.
MMRed Hot Chili Peppers Live at Slane Castle. Esse show é incrível.
AB: Algum do The White Stripes. Todos os que tive a oportunidade de assistir em vídeo parecem ter sido incríveis.

Têm algum guilty pleasure musical?
GB: The Calling.
MM: Jamais. Ouço de tudo sem problema algum.

Projectos para o futuro?
GB: Levar a Little Room para o maior número possível de pessoas e abrir um espaço que possa incentivar a música independente nacional. 
AB: Ajudar e inspirar muita gente através da música!
MM: Recentemente reacendi um projeto antigo com uns amigos. Tem sido bem bacana, mas a princípio é só brincadeira, só pra matar a saudade. Toda a minha energia é da Little Room agora. Temos umas novidades a caminho, acho que vocês vão gostar!

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
GB: Pergunta: De onde vem sua inspiração?” Resposta: Deus”.
MM: Nunca me perguntaram o porquê de eu ter me juntado à banda. Mas eu consigo pensar bem claramente no que mais gosto na Little Room. Pra começar a Ana é um gênio. Tipo, sério. Ela é uma das musicistas mais incríveis que eu já encontrei e tem uma visão quase panóptica da banda. Aprendo muito com isso. O Gabriel é um cara muito sensível musicalmente e tá disposto a fazer o dele bem feito e é isso. E eu acho que falta bastante disso na cena, sabe? Um cara que não se deixa cegar pelo ego e que tá ali pela banda toda e não pra brilhar mais que o resto. E o Wally dá uma aula de animação e musicalidade em todo show. Eu acho que de todos ali, é o que tem a raiz mais parecida comigo, mas ainda assim, o que mais se distancia do que eu faço. E a coisa toda casa muito bem. É uma mistura legal de ver.

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês? 
GB:"Where Your Nights Often Ends– Into It. Over It. 
AB: (concordamos na banda!) "Embracing Facts" - Into It. Over It. 
MM: "Knee Socks" - Arctic Monkeys

Que música gostarias que tocasse no vosso funeral? 
GB: "Time to Go– Keane
AB: "Been There Before" – Hanson
MM: "Estrelas" ou "Sem Mandamentos" do Oswaldo Montenegro. "Brendan’s Death Song" (RHCP) também seria legal.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Despedimo-nos ao som do EP homónimo, editado no início deste ano e que se encontra disponível para escuta através da plataforma Bandcamp.

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