Os portuenses MPLUS, são os mais recentes convidados das Conversas d'Ouvido. Duo de synthpop/electrónica com nuances rock, formados por Mónica Dias (voz, guitarra) e Márcio Paranhos (bateria, sintetizadores), são um dos tesouros mais bem guardados da actual música portuguesa. Descobrimos duas pessoas com gostos distintos que se complementam numa perfeita harmonia, mas há muito mais para descobrir em mais uma edição de "Conversas d'Ouvido".
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Mónica: A música é uma arte que sempre esteve presente na minha vida. O meu pai e o meu avô sempre tiveram bandas e conjuntos musicais e praticamente desde que nasci que os seguia para os ensaios e concertos. É uma paixão que cresceu comigo porque, mais que imitar os artistas que apreciava, adorava sentir que fazia parte das bandas deles, adorava improvisar enquanto os ouvia! O passo que depois foi dado entre imaginar que tinha uma banda e tê-la mesmo e começar realmente a criar músicas originais, aconteceu com naturalidade.
Márcio: A música sempre se encontrou por perto, muito embora ainda não tivesse a importância que agora representa. Cresci num seio familiar onde a música passava essencialmente por bom rock n roll, heavy metal e claro algum pop. Mas só mais tarde nos projetos artísticos é que começo a pensar na componente musical, enquanto veículo de expressão. O resultado disso é um conjunto de projetos multimédia/audiovisuais que envolviam a parte visual e sonora em uníssono, que se vai aprofundando ao longo dos anos.
Como surgiu o nome MPLUS?
O nosso nome surge de ambos termos nomes começados pela letra “M” e o “PLUS” vem do facto de serem dois “Ms”. Também porque temos gostos tão distintos que acabam por se complementar quando estamos a compor. Essa característica de “duo maravilha” que se une para poder criar música, acaba por criar o nome MPLUS.
Para além da música, existe outra grande paixão?
Mónica: Para além da música, a escrita e o vídeo. Sem dúvida! Por isso mesmo decidi licenciar-me e tirar mestrado em audiovisual. Tudo acaba por se complementar e por me dar mais margem de manobra para explorar e viver uma vida criativa.
Márcio: A minha outra paixão são as artes visuais. Enquanto VJ/visual performer, há todo um novo espectro e uma nova abordagem ao que pode ser exposto, sendo uma vertente que facilmente se conjuga com a parte sonora. No fundo são dois processos bastante díspares de envolver a minha interpretação do Universo.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Mónica: A maior vantagem é o facto de podermos exprimir sempre todas as nossas emoções através desta arte, criando uma atmosfera que acaba por envolver não só os músicos, mas também quem os ouve/vê. Desvantagem, os obstáculos com que nos deparamos quando se trata de divulgar o nosso trabalho porque, com tanta oferta, pode ser um processo moroso.
Márcio: A maior vantagem para mim acaba por ser o percurso criativo. Independentemente se és um músico ou criativo noutra área, o que me importa é sempre a vontade de poder manifestar aquilo que para mim faz sentido. O que crio apresenta a minha perspetiva do que me rodeia. Uma possível desvantagem poderá residir na responsabilidade que tens enquanto ser ativo, na área em que te encontras. Nem sempre é fácil lidar com os diferentes processos que envolvem a tua posição enquanto músico. Há um conjunto de valores inerentes ao criativo, que facilmente entram em conflito com outros valores circundantes. Daí a dificuldade em permanecer com verticalidade na música.
Quais as vossas maiores influências musicais?
Mónica: Temos influências distintas mas que depois, quando chega a hora de criarmos, se acaba por refletir numa boa mistura. Gosto de muitas bandas e artistas atuais, mas o que realmente me inspira são os nomes antigos como a Nina Simone, a Etta James, a Janis Joplin, os Led Zeppelin e muitos outros!
Márcio: Eu cresci numa casa em que ouvia sempre bandas como AC/DC, Iron Maiden, Metallica, ou Guns N´Roses. Só mais tarde é que comecei a ouvir música um pouco mais abrangente e descobri projetos como Soft Cell, Depeche Mode, The Sound, Muse, The Cult, ou mesmo projetos com uma vertente electrónica mais presente como: Oval, Alva Noto, Ryoji Ikeda, Pan Sonic. Todas estas referências abriram o horizonte à multiplicidade sonora que me acompanha.
Como preferem ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Mónica: CD, mas se pudesse optava pelo vinil.
Márcio: Eu ainda tenho discos vinil por casa, mas não há nada melhor que boa música.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Mónica: Acaba por ser uma contradição. Por um lado, temos mais facilidade em conhecer novas bandas e ouvir novas músicas mas, por outro, também temos dificuldade em fazermos a nossa sobressair. A quantidade de oferta consegue ser tão boa quanto desvantajosa.
Márcio: O streaming está a tornar a música cada vez mais acessível. Hoje em dia podes ter acesso ao triplo da música que há uns anos atrás tinhas disponível. O maior problema dessa democratização do acesso acaba por ser a incapacidade de distinguires o que realmente tem valor enquanto música. Aliás, o documentário "Press Pause Play" referencia bem este fenómeno e os seus problemas. Tudo parece bastante fácil, tudo parece imediato e no fim não se distingue o que realmente foi feito, o que realmente se quis dizer com o que se criou. Esta atitude está a fazer com que se tenha música, mas não faz com que se ouça realmente a música que se está a ouvir. Esta falta de consciência no que ouvimos traduz-se na ausência de seleção e essa ausência de critério.
Qual o disco da tua vida?
Mónica: O nosso, que ainda não saiu!
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Mónica: “Give You The Ghost”, dos Poliça. Fiquei viciada logo de início. Depois, decidi ouvi-lo enquanto lia os quatro volumes d’As Brumas de Avalon e fiquei fascinada com a forma como parecia ter sido criado para aquele mesmo universo.
Márcio: Quem me surpreendeu claramente foram as Savages, com o seu primeiro LP Silence Yourself. É simplesmente deslumbrante quando temos uma energia crua e pronta a rebentar mesmo em frente dos nosso olhos e Savages fazem-no com distinção. É direto, mas ao mesmo tempo denso no que nos propõe e no que nos fala, absorvendo a nossa atenção até ao ultimo segundo. Não consegues ficar indiferente a este grande trabalho.
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Mónica: A mais recente de todas acho que foi Lewis del Mar, mas o que ando a ouvir de momento é uma mistura de tudo o que já conheço e que vou conhecendo.
Márcio: Descobri por acaso numa fnac The Soft Moon, que é simplesmente demais. Son Lux é um outro projeto que não tem saído do meu ouvido. Para além destes nomes continuo a ouvir projetos que sigo atentamente como: Laurel Halo ou The KVB que fazem parte da minha banda sonora.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Mónica: O que consideras embaraçoso pode não o ser para mim e vice-versa. Não sei apontar nenhum momento em específico, porque normalmente acabo a rir-me de mim própria ou da situação.
Márcio: Ainda está para acontecer algo embaraçoso em palco. O mais peculiar que aconteceu foi a uma determinada altura, no decorrer de um concerto na Fnac, perder o controlo de um dos meus instrumentos e por breves segundos todos ficaram apreensivos com o que se tinha passado. Obviamente eu fui rápido e resolvi a questão de forma irrepreensível.
Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Mónica: Tantos! Mas gostava sobretudo de poder um dia subir ao palco com artistas como Jill Scott, Lisa Kekaula ou The Legendary Tigerman e poder fazer uma improvisação com eles. A energia e adrenalina de uma improvisação consegue ser mais estrondosa que qualquer parceria!
Márcio: Adoraria poder trabalhar com a Beth Gibbons, Trent Reznor, David Sylvian, John Hopkins entre muitos outros.
Para quem gostarias de abrir um concerto?
Mónica: Para os The Kills, seria espetacular!
Márcio: Eu adorava realmente poder abrir para Massive Attack.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias de um dia actuar?
Mónica: Todos e mais alguns!
Márcio: Gostava bastante de poder tocar no Coachella Festival. Seria um bom indício que MPLUS estavam a remar no caminho certo.
Qual o melhor concerto a que já assististe?
Mónica: Gostei de vários mas, assim de repente, Alabama Shakes porque não consegui parar de dançar nem por um segundo e Feist porque me perdi numa dimensão qualquer.
Márcio: Infelizmente não assisti a muitos, mas adorei ver Crystal Castles, Atari Teenage Riot, sem poder esquecer o momento mágico que foi Nine Inch Nails em Portugal.
Que artista ou banda mais gostarias de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Mónica: Todos os nomes que admiro e que já não estão entre nós, mas também Poliça, The Dead Weather, Wild Belle, The Gossip e outros tantos.
Márcio: Estou muito curioso por ver Gazelle Twin, Massive Attack, Health, que já passaram por Portugal, mas nunca tive hipótese de os poder ver.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) que gostariam de ter estado presentes?
Mónica: Os Queen no Live Aid, em 85!
Márcio: Eu não perderia os Depeche Mode e a Devotional Tour de 93. São poucos os concertos que conseguem proporcionar a envolvência que Songs of Faith and Devotion presenteou.
Qual o vosso guilty pleasure musical?
Mónica: Se te contasse, depois teria que te matar... Mas não, não é pimba.
Márcio: O meu “Guilty pleasure” é quando tento cantar U2 no chuveiro. Nunca me canso dos primeiros álbuns deles.
Projectos para o futuro?
Mónica: Continuar a explorar as diferentes sonoridades que eu e o Márcio conseguimos criar juntos! É sempre uma surpresa boa o que sai da mistura dos nossos universos.
Márcio: O futuro envolve certamente MPLUS e a sua continuação. Foi dado um bom primeiro passo com o nosso EP “Unfold”, que se manifestou num conjunto de músicas que mostram o nosso potencial. Agora é o momento de aprofundar e de continuar a esculpir aquilo que nos define enquanto duo.
Próximos concertos?
10 Junho - Festame, Mealhada
11 Junho - Feira Cultural, Coimbra
18 Junho - Rock Star Pub, Braga
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Mónica: Deixo ao critério de quem quiser aparecer.
Márcio: Eu sou uma pessoa que gostava que houvesse uma grande festa no meu funeral, portanto espero que peguem em alguns cds meus e aproveitem para os ouvir.
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