domingo, 30 de outubro de 2016

Conversas d'Ouvido com LaBaq


A cantora e compositora brasileira LaBaq editou recentemente o seu debut voa, que virá apresentar a Portugal no próximo mês de Novembro, momento ideal para a conhecermos um pouco melhor. Quisemos saber discos de uma vida, influências, embaraços, projectos para o futuro. Do outro lado, descobrimos uma artista atenta ao que se passa na música portuguesa, destacando os nomes de Surma e First Breath After Coma. Podemos assegurar que foi um prazer termos LaBaq  a falar-nos ao ouvido...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?

La Baq: Desde quando nem consigo me lembrar bem, com alguns brinquedos em casa, cantando as músicas infantis sem parar, sendo aquela criança que era atraída por todo tipo de som.

Como surgiu o nome LaBaq?
Gosto de nomes curtos, gosto muito, além de ser sonoro, facilmente dito em várias línguas, é praticamente um diminutivo de “larissabaq“, que já tinha vindo de um apelido dado em uma viagem. Papo para se ter em mesa de bar. :)

Como descreves o teu estilo musical?
Sempre me pego pensando nisso. Na minha passagem pela Espanha a crítica tem chamado de indietronica + mpb, não sei se existe exatamente como nomear com um género específico, talvez aí esteja a graça, não?

Consegues explicar-nos como se desenvolve o teu processo criativo?
Totalmente desordenado. Às vezes inicia com um riff de guitarra, às vezes com uma parte da letra que puxa já todo o restante, às vezes é só uma atmosfera com os delays e synths que daí desenvolve todo o restante. O curioso é que, para mim, quase nunca vem da melodia. Sou muito dos ritmos e das texturas para poder criar algo. Para vir a letra, tudo me inspira. Um filme, uma conversa, um quadro, um dia gris, uma história que eu ouvi. A vida tá aí inspirando, é canalizar e transformar em som.

Editaste recentemente o teu LP de estreia “voa”, para quem ainda não o ouviu o que podemos esperar?
Brasil, mas distante demais do tradicional que se espera quando diz-se: de “artista brasileira“.
Passeamos com muito carinho pelas guitarras elétricas, texturas muito cuidadas, referências subtis de Pj Harvey, de Annie Clark, de John Frusciante.
Synths que foram de um momento de experimentação delicioso, que ainda hoje premeiam também um show solo que está em estudo ainda.
Letras que falam de amor, de decepções, de força, de vontades de fazer dias melhores.
“voa” é plural em alguns sentidos e fico feliz que seja assim. :)

O álbum “voa” viu a luz do dia graças a uma bem sucedida campanha de crowdfunding. Esperavas tanto apoio por parte do público?
Sabe que eu sempre tive muito medo dessas campanhas? Ao mesmo tempo, sempre via tanta gente próxima de mim, mesmo não tendo um disco, havia gente afim de ver tudo fluindo mais e mais longe. Eu estava preparada para o caso de não dar certo, não desistir e tentar fazer de outra forma, mesmo que demorasse muito mais (provavelmente não teria lançado ainda) mas ver gente unindo forças e em um momento delicado do Brasil, foi emocionante.

Vais actuar em Portugal no próximo mês de Novembro, o que esperas desses concertos?
Ando ansiosa por chegar por aí. Há muita gente incrível em torno desses concertos, há pessoas me escrevendo perguntando dos shows e afim de estar neles, comentando que ouviram o álbum e irão ao show. Acho que não tem nada mais delicioso do que ser recebida com esses braços abertos que Portugal me recebe agora.

Para além da música, t que tocasse no vossomavamstiram que tocasse no teusosavas ariasens mais alguma grande paixão?
Fiquei algum tempo pensando no que responder. Só de ter que pensar para responder acho que já temos a resposta, a música e tudo que envolve ela, direta ou indiretamente ligado à ela, me encanta. As relações com as pessoas, as que pensam igual e as que pensam diferente, poder viajar e estar em contacto com outras culturas, poder estar em contacto com artistas que pensam em uma mesma direção.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Viajar e conhecer mil lugares incríveis é uma vantagem e tanto.
Desvantagem, vem do cansaço de viajar sem parar, de dormir e comer mal, de estar longe de casa por algum tempo.
Sempre se deixa uma saudade para trás...

Quais as tuas maiores influências musicais?
Annie Clark, Pj Harvey, Nirvana, Mutantes, Alabama Shakes, Snarky Puppy. Aí vem as fases de Chet Faker, John Frusciante, Cake, etc.

Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Pela praticidade e dinamismo, streaming. Porém, se for para escolher mesmo, uma taça de vinho e um vinil fazem meu dia mais feliz.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Do ponto de vista de uma artista que vive de música, digo que há prós e contras. Se chega a muita gente, cresceu muito o número de pessoas que me ouvem depois que o Spotify me colocou em playlists porém a quantidade de centavos de real que se ganha por play é bizarra.
Certamente não parte daí o “estímulo” que faria um artista produzir música quando se vive dela, temos que buscar as alternativas e usar dos benefícios que o streaming pode trazer, visto que não dá para ir contra eles.

Qual o disco da tua vida?
Uh. Que pergunta, assim, na lata! 
Não consigo dizer um só.
Ouvi demais o “Californication”, mexeu muito com minha adolescência, ao mesmo tempo que “Nevermind“ também, Kurt e John me inspiraram a encher minha mãe para me colocar nas aulas de guitarra. “Dog eat dog“ da Joni Mitchell marcou bastante, “In rainbows“ foi um grande tapa na cara e o “Strange Mercy“ da St. Vincent idem. E claro, “Evil Empire“ dos Rage Against The Machine.

Qual o último disco que te deixou maravilhada?
Estou há meses ouvindo todos os dias o primeiro (e único até agora, porque o safado tem 23 anos e lançou uma obra prima) do Jack Garratt, britânico, se chama “Phase“. De morrer de amor.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Ando apaixonada pelas descobertas espanholas e portuguesas. First Breath After Coma e Surma são os que mais me encantam em Portugal e ando ouvindo bastante, enquanto de Espanha, Lucia Scansetti e Maika Makovski.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Recentemente, em um festival no Uruguai, teatro lotado, silêncio total, me toquei que esqueci o capotraste (capo - "cabeça do braço" da guitarra) no camarim. Pedi ao produtor, que não entendia o que eu falava ali, fiquei gesticulando loucamente para ele sacar que era o capotraste e que estava na minha bolsa. Toquei todas as músicas possíveis sem capotraste até que ele entendeu o que era. Sufoco.

Que músico/banda já te desiludiu a nível musical/ou em concerto ao vivo?
Ah, a expectativa sempre frustra, né? Às vezes vemos vídeos mega bem produzidos, discos soando lindamente, e o show deixa a desejar ou você vê que o músico mal sabe tocar o próprio disco, isso é meio recorrente. Acho meio indelicado citar nomes, mesmo citando pessoas que, por ventura, jamais leriam essa entrevista, me sinto meio mal apontando o dedo, sabe?

Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Jack Garratt, Surma, Annie Clark, Pj Harvey, Juana Molina, Rita Lee, Jorge Drexler e tantos que você iria querer me matar se eu continuasse.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Alabama Shakes ou Annie Clark, isso seria um sonho absurdamente gigante.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
No Brasil, Auditório Ibirapuera em São Paulo e o palco do Festival RecBeat, fora os clássicos Lollapalooza e Rock in Rio.
Internacional, qualquer palco em Nashville já me deixaria feliz, na Europa, o Primavera Sound e a Casa da Música no Porto e La Cigale em Paris são lugares que eu queria bastante estar. Algum dia, quem sabe?

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Rage Against the Machine no SWU no Brasil em 2010, sem dúvida, catártico.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Thom Yorke, Herbie Hancock, Snarky Puppy, Richard Bona, Marcus Miller, Saskia Laroo, St. Vincent, Jack Garratt, Ben Howard, Bon Iver.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Jimi Hendrix no Woodstock sem dúvida alguma!

Qual o teu guilty pleasure musical?
Guitarras, pedais, captadores, synths, tudo que estiver conectado a essa atmosfera maravilhosa eu quero na minha vida toda hora.

Projectos para o futuro?
Seguir girando com o “voa“. Quero bastante me conectar a músicos que pensem em um mesmo sentido que eu, isso é sempre uma vontade, independente de onde eu estiver.
Terminar de montar meu show solo novo e de repente estudar a possibilidade de estar na Ásia, que é um continente que muito me interessa e pouco sei de lá além de algumas bandas que gosto.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
- O que te faz crer que pode acrescentar algo ao cenário musical dos países que você passa, para além do Brasil tradicional que chega sempre?
- Falta o mundo saber que existe um Brasil produzindo há anos e isso está além de Caetano e Gil, de Chico e etc. A nova cena da música brasileira tem Castello Branco, Baleia, Rua, Cícero, Ventre, Carne Doce, Far From Alaska e é incrível poder ser contemporânea dessa galera e muitas outras bandas.
Minha pretensão nessas idas e vindas é justamente trazer um pouco do que existe de Brasil sendo feito agora.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Uh. Você é bem intenso, né?
Acho que eu iria querer silêncio. Na caminhada até o túmulo eu iria querer que as pessoas pensassem na música que traz paz para elas, cada pessoa a sua.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro

Obrigada você, :)

Para os interessados podem consultar aqui todas as datas confirmadas de LaBaq em Portugal.
Terminamos ao som do belíssimo debut voa.

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