quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Conversas d'Ouvido com Kubik

Estivemos à conversa com o músico Victor Afonso, mentor do projecto de música electrónica Kubik, que recentemente editou o seu quarto álbum de originais Rock Extravaganza. Em quase duas décadas de carreira, Kubik, colaborou com nomes como Adolfo Luxúria Canibal, Old Jerusalem e já abriu o concerto de Fantômas, em Portugal, a convite do próprio Mike Patton (Faith No More). Nesta entrevista, descobrimos um músico apaixonado por Joy Division e Dead Can Dance, entre outros e que recentemente ficou rendido ao novo disco dos King Gizzard and The Lizard Wizard e ao talento dos Zeal and Ardor. Para conhecerem melhor o músico por trás de Kubik, não podem perder a novíssima edição de "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música? 
Kubik: A partir de criança quando comecei a aprender guitarra clássica. E continuou na adolescência a ouvir muita música com os amigos e quando criei a minha primeira banda, Nihil Aut Mors. Mais tarde licenciei-me em Educação Musical.

Como surgiu o nome KUBIK? Queria um nome foneticamente marcante e surgiu-me Kubik, cuja palavra começa e termina com K. Não significa nada em especial, achei que seria fácil de memorizar, mas há pessoas que associam ao cubo mágico Rubik e ao realizador Kubrik.

Como descreves o teu estilo musical?
É uma imprevisível plataforma de cruzamentos e hibridismo de géneros, de fragmentação estética, de metamorfoses estilísticas, com uma forte influência do imaginário cinematográfico. Tudo cabe no caldeirão sonoro de Kubik minuciosamente manufaturado: manipulação eletrónica, krautrock, jazz, hip-hop, ambient, world-music, metal, pop, clássica, música de “cartoons”…

Consegues explicar-nos como se desenvolve o teu processo criativo?
É um processo no qual misturo duas formas de criação: através da manipulação eletrónica de samples e tocar instrumentos virtuais através do sistema MIDI. Também toco guitarra eléctrica e outros instrumentos acústicos. As ideias criativas para as músicas surgem de forma algo caótica e muito intuitiva, com base na exploração sonora e da experimentação constante.

Editaste recentemente o teu quarto álbum “Rock Extravaganza”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
É um disco que procura uma aproximação mais convencional ao formato canção, mas ainda assim sem o assumir completamente. Musicalmente percorro vários territórios como o rock, a electrónica, o hip-hop, o spoken word, o jazz e a clássica.

Para além da música, t que tocasse no vossomavamstiram que tocasse no teusosavas ariasens mais alguma grande paixão?
O cinema primeiro, a literatura depois.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A maior vantagem é trabalhar numa área criativa que permite abrir múltiplas novas portas de perceção estética. A desvantagem é que a condição de músico é muito incerta e periclitante economicamente.

Quais as tuas maiores influências musicais?
A música de Kubik reflete a influência de milhentas referências: Frank Zappa, The Residents, Krautrock, John Zorn, Mike Patton, Amon Tobin, Mr. Bungle, Tom Waits, Pascal Comelade, Matmos, Aphex Twin, Sonic Youth, Danny Elfman, Ennio Morricone, Scott Walker, Nino Rota, Public Enemy, Swans, Henry Mancini, etc, etc.

Como preferes ouvir música?
CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3? Já deixei de ouvir vinil e k7 (tenho mil cassetes) porque já não tenho pratos e leitores. CDs tenho centenas mas quase não ouço. Nos últimos anos tem sido em streaming e mp3. Mas nada bate a nostalgia e o carisma dos velhos discos de vinil.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
A salvar. Se não fosse o streaming já ninguém ouvia música porque já ninguém compra CDs. O streaming tornou-se a plataforma mais imediata e rápida de descoberta musical.

Qual o disco da tua vida? 
Há uma infinidade de discos da minha vida. Cito apenas um: “Closer” dos Joy Division.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
“Nonagon Infinity” dos King Gizzard and The Lizard Wizard - uma incrível trip psicadélica no melhor disco rock de 2016.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical? 
O álbum “Devil is Fine” de Zeal and Ardor, um projeto que mistura gospel, blues, dubstep e… black metal! É impressionante no seu arrojo estético.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Foi no longínquo ano de 1999 no festival Paredes de Coura, na primeira atuação de Kubik ao vivo: o computador crashou a meio do concerto e estive 10 minutos para o reiniciar. Como justificação para o público disse que o meu computador HAL 9000 tinha avariado (referência a “2001: Odisseia no Espaço” de Kubrick).

De todas os músicos com que já colaboraste, qual o que mais te orgulha? 
Sem dúvida Mike Patton, o músico e vocalista genial dos Mr.Bungle, Faith no More, Tomahawk e Fantômas. O Mike ouviu o meu primeiro disco, “Oblique Musique” (2001) e convidou Kubik a fazer a primeira parte dos Fantômas na Aula Magna em 2004. Em Portugal, orgulho-me de ter colaborado com Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta) e Old Jerusalem.

Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Mike Patton, Tom Waits, Swans, Scott Walker.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Swans.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Gostaria de ter atuado na mais mítica sala de concertos de sempre em Portugal: Rock Rendez-Vous. Quanto ao futuro, não tenho ambição de almejar grandes palcos.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Muitos: John Zorn, Diamanda Galás, The Young Gods, Kimmo Pohjonen, Einstürzende Neubauten, Nick Cave, Dead Can Dance... Os últimos dois grandes concertos que vi foram de bandas portuguesas: peixe:avião e Spinifex, um grupo incrível que faz a fusão de jazz com rock visceral.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade? 
Por incrível que pareça, Swans.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Tantos: os primeiros concertos de free jazz nos anos 60 com músicos como Albert Ayler, Ornette Coleman ou Cecil Taylor; os primeiros concertos de Philip Glass, The Velvet Underground, Joy Division, Suicide, Naked City, The Jesus and Mary Chain, entre muitos outros.

Qual o teu guilty pleasure musical? 
Não é arrogância, mas acho que não tenho nenhum. Mas posso dizer que quando era miúdo cheguei a comprar discos dos… Modern Talking!

Projectos para o futuro?
Kubik não é músico profissional, por isso o futuro é sempre imprevisível. Pode passar por apresentar ao vivo o disco “Rock Extravaganza” ou fazer música para cinema, teatro ou dança, como tenho feito nos últimos anos.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
“Para que serve a música?” Para vincar a nossa condição de seres humanos dotados de pulsão criativa.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Obrigado eu.

Terminamos esta edição das "Conversas d'Ouvido", ao som do single que dá título ao mais recente álbum "Rock Extravaganza"

Sem comentários:

Enviar um comentário