terça-feira, 1 de novembro de 2016

Conversas d'Ouvido com Pedro Melo


Pedro Melo, cantor e compositor português que voa nas asas do indie folk, prepara-se para editar o seu primeiro EP, após uma participação na versão portuguesa do "The Voice". Apesar de o indie-folk, não povoar habitualmente os programas televisivos de talentos, Pedro Melo quis contrariar as probabilidades com uma belíssima interpretação de "Cannonball" de Damien Rice. Esta edição das "Conversas d'Ouvido, é a desculpa perfeita para conhecerem melhor este talento emergente da música nacional...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Pedro Melo: A paixão pela música nasceu muito cedo, ao ouvir os álbuns da coleção dos meus pais. Dire Straits, Pink Floyd, Eric Clapton e outros semelhantes artistas despertaram-me a curiosidade e o fascínio pela guitarra, instrumento que comprei uns anos mais tarde e que nunca mais larguei. Decidi aprender por mim mesmo, em casa, e aprendi de tudo um pouco. Alguns anos mais tarde experimentei cantar e, depois de muito treino, as coisas começaram a sair bem. O estilo de música que ia ouvindo ao longo dos anos foi mudando, passando pelo rock, pelo metal, pelo pop, pelo country, e mais recentemente pelo indie e pelo folk. Contudo, nunca deixei de querer conhecer sempre mais e mais, tanto que a coleção de instrumentos foi aumentado com um ukulele, um bandolim, um banjo. A descoberta de novos estilos e novos artistas faz com que esta paixão e dedicação aumente a cada dia que passa.

Como descreves o teu estilo musical?
Penso que o meu estilo musical passe muito pelo Indie Folk. Trata-se de música ligeira, sempre apoiada na guitarra acústica, e à qual gosto de acrescentar vários instrumentos diferentes, como bandolim, banjo, violino, violoncelo, jogo de sinos, acordeão ou até mesmo o simples teclar de uma máquina de escrever. O importante é fazer, como costumo dizer, barulho que seja audível e agradável, que seja simples e cheio ao mesmo tempo.

Consegues explicar-nos como se desenvolve o teu processo criativo?
O meu processo criativo divide-se em duas fases distintas. Costumo focar-me primeiro na letra da música, uma vez que a considero a base para todo o restante trabalho, e só depois me foco na melodia. Se o teor da letra se revelar alegre, então a melodia acabará por seguir o mesmo caminho. E para mim, a letra das minhas músicas deve ter algum sentido, não são apenas um conjunto de frases aleatórias. As músicas que estarão disponíveis no EP que vou lançar fazem parte de um projeto que tenho há muito pensado, em que revejo algumas fases da minha vida através dos olhos de um contador de histórias, como se de um livro se tratasse. Outro projeto que tenho em mente é uma compilação de temas em que abordo a minha vontade insaciável de conhecer novos lugares e as experiências que tenho pelos vários sítios em que vou passando. Posso então dizer que cada música tem a minha marca pessoal, por muito geral que seja, o que torna cada uma delas única para mim.

Participaste no programa televisivo “the Voice”, consideras a experiência positiva?
Sinceramente, nunca me teria imaginado num programa televisivo daquele género. Sou muito reservado e as câmaras não são propriamente o meu forte, e o tipo de música que sempre ouvi nestes concursos não passava muito do Pop. Depois de muita insistência, acabei por aceitar a participação no programa e posso dizer que foi a decisão certa no momento certo. Provavelmente não estaria ativo no mundo da música por vários motivos, porque sejamos sinceros: um programa televisivo como o “The Voice”, que é conhecido a nível internacional, projeta-nos sempre para a ribalta durante algum tempo. Saí antes da fase das galas, mas sinto que ganhei muito mais do que perdi. Ganhei muita confiança em mim, venci a timidez que tinha para cantar (uma vez que não conseguia cantar sequer em frente aos meus pais e amigos) e voltei a sentir o desejo de me afirmar neste mundo, por muito difícil que se mostre.

Achas que formatos tipo “the Voice”, “Ídolos”, “Factor X”, etc, estão virados para artistas que se enquadrem num panorama indie folk?
Sinto que este hábito de associar programas ao estilo Pop está a dissipar-se um pouco ao longo dos anos. As pessoas começam a ouvir e a gostar de outros tipos de música, e os produtores televisivos apercebem-se disso. No entanto, penso que o Indie Folk continua a ser uma aposta de risco, uma vez que não é a música ouvida pelas grandes massas, e por isso continua a ser dispensado das fases mais avançadas destes programas.

Preparas-te para editar o primeiro EP, “The Storyteller”, o que podemos esperar?
As pessoas estão habituadas a ouvir um Pedro Melo muito simples, apenas acompanhado pela guitarra. Neste EP, finalmente pus em prática as minhas ideias e consegui dar a cada música a roupagem que sempre pretendi. Alguns temas já conhecidos para algumas pessoas, como “The Bourbon Tissue” ou o próprio “The Storyteller”, mantêm a essência que tinham mas estão agora complementados com novas ideias que certamente irão surpreender. Com “Pete, The Little Giant” podemos ver um lado mais alegre e ritmado do meu trabalho. Não vou desvendar tudo antes do tempo, mas posso dizer que o meu sonho de ter acordeão, violoncelo, jogo de sinos e uma máquina de escrever nas minhas músicas mais antigas revelou-se ainda melhor do que estava à espera.

Para além da música, t que tocasse no vossomavamstiram que tocasse no teusosavas ariasens mais alguma grande paixão?
A música sempre teve um lugar de destaque na minha vida, não há como o negar. Embora não tenha o mesmo jeito que tenho para a música, a fotografia e a escrita são coisas que me atraem bastante. Tenho vários cadernos onde escrevo letras, diários de bordo, pequenas histórias. Quem sabe se um dia não faço uma compilação destas pequenas coisas. Não sou o melhor fotógrafo, mas de vez em quando tenho também alguns lances de inspiração que me levam a tirar aquela fotografia que me deixa orgulhoso. Mas posso dizer que o meu maior sonho além da música passa por um projeto solidário que tenho vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos. Ainda não passou do papel, mas gostaria de tentar aliar alguns desafios e recompensas virtuais a ações de voluntariado, pôr toda a gente a mexer-se para ajudar o próximo.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A maior vantagem da vida de músico é poder trabalhar no que realmente se gosta. É muito cansativo, mas estamos sempre a aprender e a treinar. Além disso, o sucesso na música pode levar a que outras portas se abram, nomeadamente para podermos dar maior atenção às nossas outras paixões. No entanto, o mundo da música revela-se um mundo muito complicado, onde a entrada é demasiado restritiva: só entra quem é realmente bom e tem sorte ou quem tem uma “máquina” para facilitar o caminho. Por vezes sentimos que as imensas horas de trabalho e esforço que dedicamos ao nosso trabalho são desperdiçadas, porque as oportunidades tardam em aparecer.

Quais as tuas maiores influências musicais?
As minhas maiores influências musicais são os Mumford & Sons, os The Lumineers, os Of Monsters & Men, o Damien Rice, o Roo Panes, o Passenger e o The Tallest Man On Earth. Outras bandas menos conhecidas, como os Stokes, Williams, também tiveram um papel importante no meu desenvolvimento enquanto artista.

Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Sinceramente, tenho aderido com muita facilidade ao streaming nos últimos meses. O CD tem vindo a perder o seu lugar ao longo dos anos para os leitor MP3 e para o próprio mundo da internet, onde bastava ligar o YouTube para ouvir qualquer música que nos apetecesse no momento. Desde que descobri o serviço de streaming, como o Spotify, confesso que não o consigo largar. É cómodo, fácil e eficaz – o que se torna excelente para mim, eu só quero perder-me no tempo a ouvir as minhas músicas favoritas e a descobrir novos artistas.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Eu penso que a indústria musical está a precisar de um grande abanão. O CD está claramente em declínio, fruto do surgimento de outros serviços mais baratos e simples, portáteis. É a evolução. O Vinil começou a surgir novamente, mas revela-se ainda caro para a maioria das carteiras. Aqui surge o streaming: tal como disse, é cómodo e fácil de utilizar. Torna-se até viciante, uma vez que não precisamos de pagar qualquer valor para ter os serviços básicos! Embora esteja, na minha opinião, a roubar o lugar aos outros serviços de distribuição de música, penso que ao mesmo tempo está a dar oportunidade aos novos artistas de terem uma maior exposição. Já conheci alguns artistas e bandas através das sugestões do Spotify, artistas que realmente merecem mais reconhecimento e começam agora a tê-lo. Para alguém que está a iniciar a carreira, como eu, é ótimo.

Qual o disco da tua vida?
Penso que posso dizer, com toda a certeza, que o disco que mais me marcou desde sempre foi o “O Monstro Precisa De Amigos”, dos Ornatos Violeta. Para mim, é um disco essencial, que toda a gente deveria ouvir, pelo menos, uma vez na vida. É fenomenal!

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Um dos últimos discos que ouvi do início ao fim sem passar uma única música à frente foi o “Cleopatra”, dos The Lumineers. Demorou quatro anos a ser lançado, mas o resultado não podia ser melhor – e sendo eu um verdadeiro fã dos The Lumineers e do seu estilo, não podia deixar passar. “Ophelia”, “Cleopatra” e “Gale Song” são músicas que canto constantemente, no meu dia a dia e em pequenas atuações.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
De momento, o que mais tenho ouvido é The Lumineers e The Tallest Man On Earth. O álbum “Wild Hunt”, em particular, deixou-me rendido ao estilo peculiar deste último. A minha mais recente descoberta musical foi um senhor polaco chamado Dawid Podsiadło. Tem um estilo muito próprio e diferente em relação à música do seu país, e recentemente lançou um álbum em inglês que me encheu as medidas.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Embora nunca tenha tido nenhum momento realmente embaraçoso, o momento mais fora do normal que me aconteceu num concerto foi um pedido de apadrinhamento de praxe. Durante o ano universitário em que praxei, dei um concerto em que um caloiro, com a ajuda de vários colegas, fez o pedido durante uma das músicas. Foi giro, mas eu não sabia onde me meter.

Que músico/banda já te desiludiu a nível musical/ou em concerto ao vivo?
Não existe nenhum músico ou banda que já me desiludiu a nível musical. Existem algumas bandas que vão mudando o seu estilo ao longo da carreira, como tem acontecido com os Arctic Monkeys, os Muse ou os Coldplay (exemplos mediáticos que toda a gente enuncia), mas trata-se apenas de abordar as suas composições de uma perspectiva diferente e que provavelmente lhes dará mais gosto neste momento.

Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Gostaria de efectuar uma parceria com qualquer um dos artistas que me influencia, como partilhar o palco com o Passenger. Seria uma forma de homenagear os projetos que me vão impulsionando ao longo do meu percurso, e também o realizar de um sonho. Não deixo de ser um apreciador de música, e irei sempre ter o desejo de conhecer alguns destes ídolos.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
A nível internacional, gostaria de abrir um concerto dos Mumford & Sons ou dos The Lumineers. Assisti ao concerto dos Mumford & Sons em Lisboa, em 2013, e na altura vi um senhor chamado Jesse Quin a fazer a primeira parte. Fartei-me de dizer que um dia seria eu a estar ali! A nível nacional, gostaria de abrir um concerto do Tiago Bettencourt ou do David Fonseca. São as minhas maiores referências em Portugal.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Eu gosto de sonhar. O palco nacional que mais me atrai é, sem dúvida, o Coliseu dos Recreios. É uma sensação fantástica assistir a um concerto naquele palco, por isso imagino que seja algo ainda melhor para o artista que alegra aquele público. A nível internacional, poderia falar de muitos… Mas um palco peculiar que me suscita muita curiosidade é o Red Rocks Amphitheatre, no Colorado, E.U.A.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Embora já tenha assistido a alguns concertos muito, muito bons, tenho de dar destaque ao concerto dos Coldplay no Estádio do Dragão, em 2012. Foi um espetáculo indescritível, onde todo o ambiente visual elevou ainda mais a parte musical. Foi realmente mágico, e ainda hoje me arrepio sempre que vejo algumas imagens. Menção honrosa também para um concerto dos Kaiser Chiefs. A energia inesgotável do Ricky Wilson contagia qualquer pessoa.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Ainda não consegui ver muitas das minhas referências, como The Lumineers, Of Monsters And Men, The Tallest Man On Earth, Bon Iver. Ainda há poucas semanas deixei fugir também um concerto do José González em Braga, por motivos profissionais.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Penso que toda a gente gostaria de ter assistido ao concerto dos Queen no Wembley Stadium. Não me lembro de outro que seja tão marcante para o mundo da música como esse.

Qual o teu guilty pleasure musical?
Podemos considerar a “Careless Whisper” do George Michael um guilty pleasure?

Projectos para o futuro?
Para o futuro, a nível musical, pretendo realizar todos os sonhos e desejos que mencionei em cima: editar o meu primeiro álbum, continuar a fazer música e chegar aos palcos como o Coliseu dos Recreios ou até, quem sabe, o místico Red Rocks Amphitheatre. Se conseguir trabalhar em alguma das minhas paixões durante este percurso, nomeadamente no projeto de voluntariado, então aí estarei realmente realizado.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
“Onde gostarias de passar uma temporada para te inspirares para os teus próximos trabalhos?”, pergunta à qual responderia “Irlanda ou Islândia”.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Pode ser alguma que refira as palavras “ressuscitou” ou “está-se a mexer”? Nunca pensei no assunto, mas a música "Who Wants to Live Forever" dos Queen parece-me bastante aceitável para sair em grande.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos ao som do mais recente single "Pete, The Little Giant"

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