Os Projecto Sem Nome são um quarteto de rock alternativo com nuances de metal, compostos por Rui A Cardoso (bateria), Cristóvão Siano (voz), Paulo Pereira (guitarra) e Eugénio Almeida (baixo). Recentemente editaram o seu debut, Bulas para dedo e coração, momento oportuno para os convidarmos para uma "Conversa d'Ouvido". Falamos de inspirações, embaraços, discos de uma vida e projectos entre tantas outras coisas. Para ficarem a conhecer melhor os Projecto Sem Nome, não podem perder esta entrevista, pela voz do mentor e baterista Rui A Cardoso...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Rui A. Cardoso: Não te sei responder directamente, mas sei que não consigo passar mais de 2 horas sem escutar música.
Ela foi, e é, a base de muito do que faço a nível profissional e artístico, como tal penso que tenha surgido da necessidade de expressão.
Até foi mais ao contrário, não foi bem por acaso que começamos, foi mais pela vontade de duas pessoas fazerem algo a dois. O tocarmos no lançamento do livro do Cristóvão (vocalista) foi apenas o mote para algo que já desejávamos fazer. O resto é que foi por obra do acaso, muito trabalho e força de vontade para aqui chegar.
Como surgiu o nome Projecto Sem Nome?
Sendo o mais conceptualista da banda e sentindo que gosto mais de projectos que bandas, queria um nome sem um conceito ou imagem associada que pudesse funcionar por siglas, e esse nome teria de ter a letra P e N.
Assim desde os primórdios quisemos criar um conceito, mas que esse não nos limitasse na evolução enquanto projecto e estética musical.
E no fundo é um nome divertido que até dá azo a brincadeiras. Nos concertos há sempre alguém que pergunta quando vamos dar nome à banda, ou como já ouvi na plateia antes da nossa actuação num festival, “a seguir tocam aqueles gajos sem nome”.
É uma coisa fofa de se ouvir, depois disso tive a certeza que acertamos mesmo no nome.
Rock alternativo sem pudor e preconceitos.
Consegues explicar-nos como se desenvolve o vosso processo criativo?
Do caos à ordem, da ordem ao caos. Geralmente compomos nos ensaios, por vezes temos ideias de como queremos uma música, outras vezes o Paulo (guitarrista) já traz uma música toda bonitinha e nós estragamos tudo nos ensaios. Os temas iniciais foram com base nas melodias do Cristóvão, por isso já tivemos um pouco de tudo. Não há uma fórmula, isso é para vender detergentes.
Geralmente os temas não sofrem muitas transmutações da ideia que nos saiu inicialmente, podemos colocar mais ou menos amaciador mediante o que queremos projectar, mas somos bastante fiéis ao que saiu de improviso. Raramente o algodão engana.
Um trabalho honesto, directo, por vezes introspectivo outras vezes expansivo.
Para além da música, t ens mais alguma grande paixão?
A musicoterapia ou terapia através de sons, mas como essa paixão é também trabalho e continua a estar ligada de alguma forma à música, terei de te responder que a minha grande paixão é caminhar ao pé da praia enquanto escuto música e faço fotografias, geralmente selfies.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Antes de mais, não me considero músico, aliás sempre disse que experimentava mais bateria do que a tocava, e nesta banda tocar bateria deve ser o que menos tempo me toma, comparativamente com tarefas que têm de ser feitas para que um projecto funcione.
Músico é muito mais do que estar numa banda, é gerir uma profissão e carreira. Pressupõe estudo e que seja uma forma de vida. Para nós, os Projecto Sem Nome são um escape à rotina e uma forma de nos expressarmos criativamente.
Se falarmos de um músico profissional penso que as vantagens e desvantagens são iguais a todas as outras áreas criativas, seja fotografia, teatro, design, pintura entre outras.
Pergunta de euromilhões! escuto tanta coisa... vai do rock / metal à musica experimental e bandas sonoras.
Mas a nível de inspiração para criar, as bandas sonoras são definitivamente a minha praia.
Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Streaming e CD, embora o streaming me ajude a ter acesso a mais música/músicos.
Quem salva ou mata a música são as pessoas não a forma como se difunde a música. Tanto se fala disso e pouco se fala que hoje em dia são muitas as pessoas que ouvem música mas poucas as que escutam música.
Tudo hoje em dia é fast coisas, logo tudo depende do receptor e não do emissor.
A banda sonora "The Piano" pelo Michael Nyman
Por cá o Danse Macabre os nossos companheiros de editora, Legacy Of Cynthia foi mesmo uma agradável surpresa, passei semanas a o escutar. Acho que temos muito em comum.
Mais além, o "Change" dos gregos Universe217, um disco hipnótico e intenso de um rock bem lento e harmonioso.
Ando a escutar por estes dias muito Noiserv e bandas sonoras.
Dom La Nena foi a minha mais recente descoberta e tive a sorte de a ver na Casa da Música por estes dias.
Gosto muito do conceito dos mencionados, um músico fazer tudo. É fantástico a forma como criam as músicas e as reproduzem ao vivo através de loops e layers. A nível do rock, ando mais parado, mas talvez o novo disco dos Katatonia me tenha captado novamente a atenção da banda.
Assim de repente, talvez quando o Paulo partiu uma corda da guitarra e teve de a trocar, como é um processo que demora uns minutos, tive de fazer algo que disse que nunca faria, um solo de bateria, basicamente entreter a malta. Pensei: - que bom, espectacular, agora é que me vou espalhar....
Acho que foram os meus 2 minutos de fama, até hoje nunca mais tive tanta luz apontada para mim. Bem, pelo menos esse momento deu boas fotos.
Essa pergunta é engraçada pois inicialmente no plano ideal para este disco teríamos interlúdios entre músicas para spoken word dos poemas do Cristóvão e tínhamos em mente participações de vocalistas que gostamos.
A ideia foi, como nunca serei convidado para um disco deles vou os convidar para o meu :) e os nomes foram Adolfo Luxúria - Mão Morta, Manel Cruz - Ornatos Violeta, Rui Sidónio – Bizarra Locomotiva, Sónia Tavares - The Gift, Pedro Laginha - Mundo Cão, Fernando Ribeiro – Moonspell, Manuela Azevedo – Clã.
Sonhar não custa, mas depois pensamos que seria demasiado para um primeiro disco e ia parecer algo do género “psn & friends”.
Seriam demasiadas estrelas a brilhar num só disco e o Rui Veloso podia não gostar, aliás acho que deve ter sido um disco assim que lhe inspirou o verso “não há estrelas no céu”.
Sigur Rós, mas seria muito feliz a abrir para os nossos Linda Martini, Bizarra Locomotiva ou Mão Morta.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Coliseu do Porto.
Tool, no Ozzfest em 2003 estádio de Alvalade. Foi mais uma vivência sonora e uma viagem do que um concerto. Acho que existe um eu antes e depois desse concerto. Pela expressão das pessoas, acho que foram atingidos muitos orgasmos durante essas horas.
Neurosis, uma das minhas bandas favoritas, passaram por cá em Agosto mas infelizmente a saúde não me permitiu estar presente.
Pink Floyd, Live at Pompeii, 1972
Qual o teu guilty pleasure musical?
A música sente-se e deve ser um prazer, sem pudor, culpas ou vergonha, como tal respondo-te a essa questão com o tema "Take Me To Church" do Hozier.
Um dia de cada vez sempre através do prazer em continuar a criar e partilhar a nossa música.
Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Gostas de morangos? Não, mas gostei da pergunta.
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Time" do Hans Zimmer para o filme “The Inception”.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Relembramos que os Projecto Sem Nome editaram recentemente o seu debut, Bulas para dedos e coração, com o carimbo da Raising Legends, que se encontra disponível para escuta e download através da plataforma bandcamp.
Relembramos que os Projecto Sem Nome editaram recentemente o seu debut, Bulas para dedos e coração, com o carimbo da Raising Legends, que se encontra disponível para escuta e download através da plataforma bandcamp.
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