Estivemos à conversa com o músico Rafael Lapa, que se prepara para editar o seu debut no início do próximo ano. Rafael Lapa, percorre os caminhos da pop experimental e do jazz. Aos 6 anos entrou no conservatório, dividindo o seu percurso entre a guitarra jazz e o piano clássico, colaborou com diversos projectos musicais, no entanto agora decidiu finalmente apresentar-se a solo. A sua música conquistou-nos de imediato e à primeira audição ficamos rendidos. Desafiamo-lo para uma "Conversas d'Ouvido", que aceitou prontamente, e que pode ser desvendada já a seguir...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Rafael Lapa: Na realidade, isso é difícil de dizer. Penso que seja igual para toda a gente. Ouvia e gostava. A verdade é que tenho poucas memórias sobre o aparecimento dessa paixão porque entrei no conservatório com 6 anos. Certamente porque já demonstrava gosto pela música. Não me lembro de mim sem ter essa paixão. Faz parte da minha identidade.
Como descreves o teu estilo musical?
É algo que nasce algures entre a vontade e a necessidade.
No início do próximo ano, irás editar o debut “Nem Tudo é Real”, já podes desvendar um pouco sobre o que podemos esperar?
14 faixas de algo verdadeiro, apesar de nem tudo ser real.
Consegues explicar-nos como se desenvolve o teu processo criativo?
Explicar um processo criativo é quase sempre um exercício de impossibilidade, porque nem o criativo sabe explicar bem como tudo aconteceu. O melhor que consigo explicar é dizer que é semelhante ao trabalho de um pescador. Prepara-se o material com cuidado. Toca-se um instrumento à procura de alguma coisa que nos desperte a atenção. Sem saber bem se demora 10 minutos ou 5 horas, é ter esperança que algo morda o isco. A partir daí é mais fácil. Depois de conseguir agarrar uma parte, é só puxar que o resto vem naturalmente. A canção já nasce feita. É só saber limpar bem o que está a mais.
Para além da música, t ens mais alguma grande paixão?
Sim! Viajar, desporto e outras artes, como o cinema, por exemplo. No fundo, aquilo que agita as emoções. Ah e pessoas. Há pessoas apaixonantes!
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
São as duas faces da mesma moeda. A capacidade de fugir para um universo paralelo, seja em palco seja no estúdio. É fascinante, mas pode ser destruidor da noção que temos da realidade que nos rodeia. Ao mesmo tempo liga-nos e afasta-nos dos outros.
Quais as tuas maiores influências musicais?
Ui! Fazia já aqui uma lista telefónica! Tudo o que vamos ouvindo durante a vida nos influencia de alguma forma, mas tenho o meu “Mount Rushmore”: Damon Albarn, Miles Davis, Paul McCartney, John Scofield e Ravel. Se tivesse de responder àquela pergunta clássica da ilha deserta, ficava bem com a discografia destes senhores.
Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
O meio não me interessa muito, desde que haja bom som e que esteja bem alto! Preferencialmente, ao vivo.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Não diria que a está a matar, mas definitivamente não a está a salvar.
Qual o disco da tua vida?
Bem, isso é completamente impossível de responder! Passo e vou directamente para a prisão, sem passar pela partida.
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Talvez tenha sido o “To Pimp a Butterfly” do Kendrick Lamar. Impressionou-me. Até porque não conhecia a obra dele. Obrigou-me a ir vê-lo ao vivo.
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Para ser sincero, estou numa fase em que não ouço muita música. Depois de meses a trabalhar num disco precisa-se de espaço para respirar e dedicarmo-nos a outras coisas, até sentir a necessidade de voltar. Quanto a descobertas, no início deste ano fui a um concerto do João Barradas e é muito bom.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Essa é fácil de responder! Há vários anos tive uma banda com uns amigos meus de Viseu e fomos um dia dar um concerto a Coimbra. O palco não devia ter mais que 30cm de altura e eu estava a tocar guitarra e a cantar. Estavam a aparecer os primeiros telemóveis com câmara de filmar e houve alguém que estava a gostar e que achou boa ideia filmar-me durante toda a música com o telemóvel apoiado no meu microfone. Ali a menos de um palmo da minha cara. No início comecei-me a rir, mas depois de 2 ou 3 minutos nisto, já não sabia onde me meter!
Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Dezenas. Alguns espero conseguir e farei por isso. Apesar deste meu projecto ser solitário, sempre adorei tocar com outras pessoas e quero muito tocar e cantar com pessoas que admiro. É a melhor forma para se evoluir enquanto criativo e é muito divertido. Para nomear alguém, prefiro alguém que seja completamente impossível. Gostava de ter feito uma música com a Amy Winehouse.
Para quem gostarias de abrir um concerto?
Paul McCartney. Seria giro cruzar-me com ele nos bastidores!
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Há muitos teatros bonitos em Portugal, mas os Coliseus têm um encanto especial.
Qual o melhor concerto a que já assististe?
O melhor não sei responder, mas o que me vem logo à cabeça é o concerto dos Blur no Hyde Park em 2009. Pelo número de pessoas e pelo ambiente de felicidade que estava no ar pelo seu regresso ao activo depois de tantos anos.
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Essa também é fácil. Gorillaz! Já tive a felicidade de riscar quase todos os concertos que estão na minha “Bucket List”, mas ainda não os consegui apanhar. Há rumores de disco novo, pode ser que seja desta.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Woodstock ’69! Talvez não fosse o melhor para a minha saúde...
Qual o teu guilty pleasure musical?
Com o passar do tempo vamos perdendo isso, mas a música mais recente que se pode enquadrar nessa categoria é a “Love Yourself” do Justin Bieber. Ouvi-a numa versão só com guitarra e voz e é uma boa canção!
Projectos para o futuro?
Para já, é tocar o mais possível este disco ao vivo.
Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
“Queres ir ali gravar um disco ao Abbey Road?”
“’Bora!”
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Estou confiante que viverei para sempre.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Terminamos ao som do mais recente single de Rafael Lapa, "Parte de Mim".
Terminamos ao som do mais recente single de Rafael Lapa, "Parte de Mim".
Sem comentários:
Enviar um comentário