Os Môno! são os novíssimos convidados das "Conversas d'Ouvido". Banda que navega nas tortuosas águas do experimentalismo em direcção a um alucinante rock psicadélico. Os Môno! são Bernardo Ramos (guitarra), Duarte Martins (bateria), Pedro Almeida (guitarra, voz) e Tomás Pires (baixo). É já amanhã que o seu novo EP, Ribamar, será editado, momento ideal para uma descontraída entrevista...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Pedro: Tive aulas de música desde novo. Quando cheguei à adolescência comecei a
descobrir bandas de roque e aí comecei cada vez mais a interessar-me pelo mundo
musical, apesar de nunca achar que iria juntar-me a uma banda.
Tomás: Tal como os meus colegas tive aulas de
música desde novo, no entanto não me davam grande gozo e não me dedicava muito.
Comecei apenas a desfrutar da música neste último par de anos em que estive com
o pessoal da banda. Escrever as nossas próprias músicas traz uma liberdade
estilística que não existe no contexto de um conservatório e foi por isso que
comecei a interessar-me mais pela
música.
Duarte: Apesar de ser um cliché gigante, acho que está presente desde que nasci,
apesar de nem sempre com grande fulgor. Muitas das primeiras memórias que tenho
são relacionadas com música. Desde tentar tocar o Californication num piano e
num par de tachos, com uma colher de pau, até cantar Zé Cabra em cima de mesas
(ou cadeiras, isso é que já não me lembro bem). Tudo isto antes de sequer
entrar na escola. Depois, na primária, comecei a ter aulas de música mas só na
adolescência, quando comecei a tentar tocar fora do âmbito do conservatório, é
que despertei realmente para isto.
Bernardo: Eu, na verdade, não tive aulas de música desde novo. O meu processo foi um
bocado o inverso do deles. Só há 3 anos é que comecei a estudar no
conservatório. Mas, tal como o Duarte, desde que me lembro que gosto muito de
música. Desde pequeno que tenho os meus próprios CD’s e, apesar de na altura
serem coisas muito foleiras que implicam boysbands, sempre senti que aquilo era
algo que tinha um certo valor. Aos 6/7 anos costumava dizer que queria ser
músico, apesar de não tocar nenhum instrumento. Depois passou-me e só aos 12 é
que comecei a aprender a tocar guitarra e aí sim comecei a perceber que aquilo
era mesmo fixe e que valia a pena dedicar-me e tentar entender a forma como as
coisas funcionavam. Entretanto, tive aquela fase em que passava dias inteiros a
ver cifras na net e que me levou a gostar cada vez mais e a descobrir muita
música nova.
Como surgiu o nome Môno!?
Môno!: O
nome Môno! surgiu na primeira vez que fizemos um retiro para tocar/gravar em
Ribamar. Andávamos à procura de um nome
mas nenhuma proposta racional reunia consenso. Na primeira noite (quase dia),
quando finalmente nos decidimos a dormir, e com as luzes já apagadas, o Tomás
tropeçou em qualquer coisa e caiu. Depois de rogar umas quantas pragas,
proferiu a frase: “Ando aqui feito mono à procura do saco-cama!”. Achamos piada à expressão “feito mono”,
deixamos cair o “feito”, juntámos o acento circunflexo para que a fonética
pretendida ficasse bem clara (pelos vistos, não ficou) e adicionamos um ponto
de exclamação porque parecia que faltava qualquer coisa (mas nunca ninguém se
lembra de o pôr, snif snif).
Como gostam de descrever o vosso
estilo musical?
Môno!: Na
brincadeira gostamos de lhe chamar Roque Estrutural.
Preparam-se
para editar o “Ribamar”, o vosso novo EP, já podem antecipar um pouco sobre o
que podemos esperar?
Môno!: Uma evolução de nós enquanto músicos e
banda. Sabemos melhor o que queremos fazer e como o fazer, por isso as músicas
estão mais bem conseguidas. É, fundamentalmente, um aprimorar de processos
tendo em conta todas as limitações que temos em vários níveis, desde material a
horários.
Para além da música, têm mais alguma
grande paixão?
Pedro: O Sporting, a NBA, os romances de Tolstoi e Dostoievski, os filmes de Akira
Kurosawa e, beber copos com os amigos.
Duarte: O Benfica (e futebol, em geral), ténis (o desporto), bons livros, boas
séries, bons filmes e bons planos com bons amigos.
Tomás: Carros e motas, Ténis, as “míticas routes” por Sintra com os meus amigos e uma boa alheira de Mirandela.
Bernardo: Som e cinema, essencialmente e associados, de preferência. Para além disso,
humor, mais centrado no stand up comedy, desde George Carlin até ao Jeselnik,
passando pelo Louis CK ou pelo Jim Jefferies.
Qual a maior vantagem e desvantagem
da vida de um músico?
Môno: Para
todos os efeitos, a nossa profissão ainda é “estudante”. A música neste momento
é um hobby que gostávamos que o deixasse de ser. Aquilo que mais nos atrai é a
oportunidade de partilharmos o que adoramos fazer. A maior desvantagem é a
incerteza em relação ao que há de vir, em todos os aspetos. Neste momento, o
mais difícil, para nós, é marcar concertos e dar-nos a conhecer ao público mas
há outros momentos complicados de (di)gerir na vida de um músico.
Quais as vossas maiores influências
musicais?
Capitão
Fausto e restante pessoal da Cuca Monga, Tame Impala, Pond, King Gizzard & The Lizard Wizard, entre outros.
Como preferem ouvir música? CD,
Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Pedro: CD, porque o meu carro só tem leitor de CD’s.
Duarte: MP3, pela sua portabilidade e, ao contrário do streaming, que também pode ser
acedido através de dispositivos móveis, não gasta dados. Descarrega-se música
em casa para ir ouvindo na rua. É ótimo para descobrir música nova nos
transportes (para além da música que às vezes põem nas estações de Metro, que
também recomendo).
Tomás: Streaming, nomeadamente o Spotify e o YouTube, porque me permitem encontrar
facilmente novas músicas e músicos.
Bernardo: CD pela fidelidade (16bit/44.1kHz for life) e streaming pela mesma razão do
Tomás: é ótimo para descobrir música nova, porque para alguém que, como eu, é
preguiçoso nessa pesquisa, as músicas sugeridas são uma bela dádiva. Gostava de
poder ouvir alguma música em vinil, pela cena quase ritual da colocação e da
manutenção do disco que me causa algum fascínio e pela experiência do
analógico, acontece que não tenho nenhum gira-discos.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Môno: Nenhum
dos dois, é apenas mais uma evolução da forma como consumimos música.
Qual o disco da vossa vida?
Pedro: Agora deverá ser o Innerspeaker dos
Tame Impala. Mas, depende da altura da minha vida em que é feita a pergunta.
Duarte: Há um lote de álbuns que me marcou muito. O
Monstro Precisa de Amigos dos Ornatos Violeta é capaz de ser o que mais
impacto teve.
Tomás: Tenho que responder o Innerspeaker,
também. É, muito possivelmente, o álbum que ouvi mais vezes. Os Tame Impala
foram-me dados a conhecer pelo pessoal da banda nos ensaios. Como nem todas as
músicas do álbum estavam disponíveis no YouTube (e também por gostar bastante
da ilustração da capa, para ser sincero) decidi comprar o álbum em formato
físico e desde então tenho-o ouvido bastante.
Bernardo: O mais cliché: tenho, desde há uns anos para cá, uma estreita relação de
afeto e apreço para com o mítico Dark
Side of The Moon. Nunca o tinha ouvido na íntegra e a minha namorada (que
não o era na altura) “mostrou-me” o disco de uma ponta à outra. Fiquei
fascinado com aquilo e durante esse verão ouvi o disco várias dezenas de vezes.
Qual o último disco que vos deixou
maravilhados?
Pedro: Capitão
Fausto têm os Dias Contados, a perfeição sonora deixou-me a ouvir o álbum
em loop durante semanas.
Duarte: In My Room do Jacob Collier. Uma
viagem pela mente de um jovem que compreende a harmonia, a melodia e o ritmo,
como muito poucos seres humanos compreendem.
Tomás: O Junk dos M83. É um álbum que
consigo ouvir do início ao fim sempre com entusiasmo, gosto bastante da grande
maioria das faixas, especialmente pela sonoridade dos sintetizadores tipo anos
80.
Bernardo: Acho que estou com o Pedro nesta. Capitão
Fausto têm os Dias Contados foi uma bela surpresa e viciou bastante. Não
estava à espera de canções tão requintadas. Também andei a rodar esse disco em
loop. Fiquei, de facto, maravilhado.
O que andam a ouvir de momento/Qual
a vossa mais recente descoberta musical?
Pedro: De momento ando a ouvir mais Iceage, Cave Story e Homeshake.
Duarte: Jacob Collier, Snarky Puppy e Cory Henry têm andado muito nos meus ouvidos no
último ano e pouco. Capitão Fausto, Luís Severo e Mac DeMarco em igual medida.
Tomás: Tenho ouvido muitas coisas distintas. Os America, que descobri pela banda
sonora de um filme, Curtis Mayfield, que já não me lembro muito bem como
descobri, e o Dark Side of the Moon,
que comprei a edição física há pouco tempo.
Bernardo: Um rapper brasileiro que usa o nome Criolo. Já tinha ouvido uma coisa ou
outra, mas só fui escutar a sério há umas semanas. Tem um belo disco chamado
“Convoque Seu Buda” e anda a passear pelo hiphop com influências muito vincadas
da música popular brasileira. Por outro lado, também ando agora muito centrado
em alguns compositores de música moderna, como o Debussy ou Bartók.
Qual a situação mais embaraçosa que
já vos aconteceu num concerto?
Môno: Sermos
assobiados em Loures, em conjunto com as restantes bandas, numa das
eliminatórias do concurso para ir tocar ao Avante por malta que estava no bar para ouvir outra
coisa totalmente diferente daquilo que estava a concurso, ou, no Concerto Novo
Abril, em Santarém, em que nos pediram para tocar mais uma e nós não tínhamos
mais nada preparado, então arrumamos as nossas coisas e demos a vez à banda
seguinte.
Com que músico/banda gostariam de
efectuar um dueto/parceria?
Pedro: Os BISPO.
Duarte: Tantos! A nível nacional, Luís Severo, BISPO e Capitão Fausto estão no topo
da lista. Snarky Puppy é um sonho (muito) mais distante ainda…
Tomás: Kevin Parker.
Bernardo: Possivelmente com o B Fachada. Acho que foi o músico que me abriu mais os
ouvidos para tudo o resto e, por isso, tem um lugar especial no meu coração
como uma das minhas maiores referências.
Para quem gostariam de abrir um
concerto?
Môno: Capitão
Fausto.
Em que palco (nacional ou
internacional) gostariam um dia de actuar?
Môno: Coliseu
dos Recreios e o palco principal do Paredes de Coura seriam a melhor cena. O
Tomás é ainda mais ambicioso e acrescenta o Pyramid Stage do Glastonbury.
Qual o melhor concerto a que já
assistiram?
Pedro: Difícil, mas King Gizzard este ano no Paredes é um dos mais sérios
candidatos.
Duarte: Gostei muito da Festa Moderna com Modernos e convidados (especialmente quando
o José Cid se juntou à festa), mas acho que o vencedor desta categoria é um dos
concertos dos Ornatos no Coliseu dos Recreios em 2012, mais precisamente o
concerto de 27/10/2012.
Tomás: Capitão Fausto no Coliseu dos Recreios.
Bernardo: Há três praticamente impossíveis de desempatar: Snarky Puppy no Paradise
Garage (2016), Ornatos Violeta no Coliseu dos Recreios (25/10/2012) e Arctic
Monkeys no Super Bock em 2013.
Que artista ou banda gostavam de ver
ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
Pedro: Homeshake ou Dungen.
Duarte: Não me perdoo por nunca ter visto Tame Impala nem BISPO. Também gostava muito
de ver Mac DeMarco e Kendrick Lamar.
Tomás: Tame Impala.
Bernardo: Grimes.
Qual o concerto da história (pode
ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostarias de terem estado
presentes?
Pedro: The Who em Woodstock.
Duarte: O concerto dos Beatles no rooftop
da Apple Corps.
Tomás: Nirvana no Dramático de Cascais.
Bernardo: Rage Against The Machine no Finsbury Park, em 2010.
Qual o vosso guilty pleasure musical?
Pedro: Os Migos.
Duarte: Duas músicas do Justin Bieber, a "Sorry" e
a "What Do You Mean?" É verdade…
Tomás: Deep house, por exemplo Oliver Heldens.
Bernardo: A "Sorry" do Justin Bieber tem
qualquer coisa e a Hands to Myself da
Selena Gomez é uma produção incrível. Também sou um grande fã da "Gee" das Girls Generation, porque K-Pop é
o futuro. Sou uma fonte de guilty pleasures e não me sinto culpado.
Projectos para o futuro?
Môno: Para
já estamos focados, principalmente, em dar concertos (e arranjá-los, que é a
parte mais difícil). As ideias, felizmente, não param e, ainda que de forma
muito superficial, já trocamos algumas ideias para o próximo registo. Já se
falou em gravar algo até ao final de 2017 mas não nos podemos comprometer com
nada, neste momento. Para além disso temos alguns side projects. Três de nós (Pedro, Duarte e Bernardo), demos uma
vez um concerto enquanto projecto de electrónica improvisacional, chamado
SAVATE que gostávamos de experimentar gravar.
Que pergunta gostariam que vos
fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
O
Preço Certo é o melhor programa da televisão portuguesa?Muito provavelmente. (risos)
Que música gostariam que tocasse no
vosso funeral?
Pedro: O Warni Warni do Omar Souleyman com toda a gente a dançar.
Duarte: O Warni Warni do Omar Souleyman com toda a gente a dançar.
Tomás: O Warni Warni do Omar Souleyman com toda a gente a dançar.
Bernardo: O Warni Warni do Omar Souleyman com
toda a gente a dançar.
Obrigado pelo tempo despendido, boa
sorte para o futuro.
Terminamos ao som do mais recente single, "Espacial", disponível para escuta e download, através da plataforma Bandcamp.
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