terça-feira, 30 de maio de 2017

Conversas d'Ouvido com Milocovik

Apresentamos os Milocovik quarteto brasileiro composto por Claudio Dantas (guitarra, backing vocal), Iran Ribas (baixo, backing vocal), Ito Andery (bateria, back vocal) e Toni Pereira (voz). Os Milocovik, assumem-se como uma banda de discopunk e editaram este ano o disco Automatic Complaints, que conta com a produção de Edu Recife e a masterização de Arthur Joly. Após ouvirmos o disco quisemos conhecer melhor os músicos por trás da banda, surge assim mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Iran Ribas (IR): Acredito na música como força motriz. Desde quando me lembro como pessoa, praticamente todo momento teve uma trilha sonora e pra mim, é como se a vida não existisse sem isso.

Como surgiu o nome Milocovik?
Toni Pereira (TP): O Claudio e a Marcia (esposa, na época namorada) participavam de uma gincana onde as duplas eram definidas pelo sorteio de bilhetes com nomes iguais. A Marcia leu seu bilhete e gritou “Milocovik”, então o Claudio descobriu que havia tirado o mesmo nome. O casal comemorou, felizes pois fariam uma dupla durante as provas da gincana. Detalhe, o nome não era Milocovik, claro. Era Milošević, o ditador sérvio. (risos)

Em Fevereiro editaram o vosso disco “Automatic Complaints”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
TP: Um disco que é bem legal de ser escutado por inteiro. Nenhuma música está lá para encher linguiça. As músicas vêm sendo compostas e destiladas ao longo de vários anos da banda. Falam sobre várias etapas das nossas vidas, sob a atmosfera de uma cidade imensa, incrível e louca, como São Paulo. São nossas experiências, contadas e retratadas através de um meio que apesar de muitas vezes parecer frio e não convidativo, nos trouxe muito a dizer.

O vosso disco foi masterizado por Arthur Joly, ouvimos dizer que ele possui uma colecção assinalável de sintetizadores, como foi a experiência?
Claudio Dantas (CD): O Arthur é demais! Pudemos brincar um pouco com seus Jolymod e alguns amigos nossos possuem synths dele. A qualidade da síntese analógica é única e poucos levam isso tão a sério como ele. 

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Ito Andery (IA): Gostamos muito de dizer que fazemos Discopunk. Música para dançar com pegada punk. Imagine se David Bowie encontrasse Franz Ferdinand numa trilha de novela brasileira dos anos 80.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
CD: Como banda temos uma paixão coletiva por boas cervejas, em especial as Indian Pale Ale. Gostamos de nos reunir para falar da banda e sempre trazemos diferentes rótulos.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
IR: Acredito que a maior vantagem é ter uma das profissões mais prazeirosas de todas. Compor, gravar e tocar ao vivo são coisas maravilhosas e trazem um grande alívio pra alma também. Como desvantagem certamente o lado financeiro sai bem prejudicado num geral; a vida como músico no Brasil na situação política atual é complicadíssima e temos que nos desdobrar para garantir uma vivência.

Quais as vossas maiores influências musicais?
TP: Em primeiríssimo lugar, David Bowie. Artistas como Prince, Michael Jackson, Parliament, Blur e Oasis estão muito presentes na nossa fundação. Como contemporâneos admiramos demais The Strokes, Franz Ferdinand, Justice, entre outros.

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
CD: O vinil é preferência geral entre nós, sem dúvida. Recebemos uma cópia da masterização feita pelo Arthur Joly e disputamos ferrenhamente a posse dele.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
IR: Para a música é salvação. A grande dificuldade é como o artista pode tirar proveito financeiro disso, uma vez que os aparelhos reprodutores de CDs já não possuem a abrangência de antes.

Qual o disco da tua vida?
TP: Para mim, com certeza é Pin Ups, do David Bowie. 

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
CD: Apesar de nem ser mais tão novo assim, o último trabalho do Carne Doce nos deixou boquiabertos. Ao vivo o trabalho é executado com perfeição e presença únicas.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
IA: Pennied Days, do Night Moves, não sai do meu Spotify!

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
TP: Acredito que foi quando viajamos cerca de 300km para realizar um show em um festival, e minutos antes os bombeiros da cidade interditaram o palco por não haver alvará. Nada mais embaraçoso que não tocar com tudo em mãos.

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
IR: Seria um prazer imenso receber Hervé Salters (General Elektriks) pra fazer um som com a gente. Aqueles teclados são incríveis!

Para quem gostariam de abrir um concerto?
CD: Com certeza para Blur! No caso de bandas mais recentes, seria uma honra abrir para os The Strokes.

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
IA: Gostamos muito do conceito da parte de música do SXSW. Vemos uma miscelânea definitivamente interessante com a união de artes que vão além da música.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
IR: Queens of The Stone Age, no SWU de 2010. Atrasaram 40 minutos e a partir da primeira contagem toda a multidão ficou boquiaberta com tamanha energia que a banda empurrou no público.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
CD: Gostaria muito de assistir a um show do Mac DeMarco. Adoro as canções dele.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
IR: O show do James Brown no T.A.M.I., em 1964. Aquilo revolucionou a música e fez os Rolling Stones se sentirem pequenos para tocar na sequência. Já imaginou o tamanho do impacto?

Qual o teu guilty pleasure musical?
TP: Gosto muito de ouvir Figueroas nas festas em casa. O som é meio brega, mas é uma delícia pra dançar. Às vezes Spice Girls entra em segredo nas playlists que fazemos durante as festas também.

Projectos para o futuro?
CD: Estamos pensando em enveredar mais densamente na música eletrónica. Temos entrado no mundo das beat machines, samplers e efeitos - como em "Julie M'a Dit" e vemos uma possibildade de agregar muito dessa sonoridade, mas os próximos passos ainda não estão certos.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
IR: Essa é difícil! Acho que seria "Como vocês se sentem com a situação política atual no Brasil?". E neste momento até nos questionamos da necessidade de uma intervenção, pois estamos passando momentos sombrios, com líderes dúbios e de mau caráter. Nossos protestos não fazem mais impacto. Talvez precisemos aprender bons exemplos de outros países para passar a aplicar aqui.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
IA: Nada como abençoar a ida ao divino com uma música grandiosa. "With a Little Help From My Friends", na versão de Joe Cocker.

Terminamos ao som do single "Reptile Reaction", extraído do álbum Automatic Complaints.

Sem comentários:

Enviar um comentário