Entrevista com Lamparina e A Primavera, projecto que nos chega de Belo Horizonte, composto por Mariana Cavanellas (voz), Arthur Delamarque (voz, guitarra), Hugo Zschaber (percussão), Calvin Delamarque (baixo), Thiago Oliveira (bateria) e Francisco Di Flora (guitarra). Influenciados pelo jazz, blues e rock progressivo, editaram este ano o EP de estreia Claraboia. Nesta entrevista com Arthur Delamarque, ficamos a saber que recentemente ficou rendido ao talento de Francisco, el Hombre, gostaria colaborar com Boogarins, Iconili e O Terno, mas há mais... No futuro, planeiam a edição do álbum de estreia e em Setembro têm encontro marcado com o público português, enquanto esse dia não chega, vamos conhecê-los melhor em mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Arthur Delamarque: Meu pai é músico, já me influenciava desde criança, e minha mãe também tem uma boa inclinação para a arte, o que facilitou meus caminhos. Mas na adolescência, quando ganhei meu violão, descobri um mundo novo na música.
Como surgiu nome Lamparina e a Primavera?
Chegámos a essa formação da banda quando juntámos dois projetos: A Lamparina, uma banda em que tocávamos eu, Calvin, Chico e Mari, com a banda do Hugo, que se chamava Hugo e a Primavera. Eu era o guitarrista da Primavera, então tive a ideia de juntar esses dois projetos, o Hugo aceitou logo de cara, chamamos o Thiago para ser baterista e deu tudo certo! No caso, além de juntar as bandas, juntámos os nomes (risos).
Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
É uma pergunta que ainda estamos aprendendo a responder! A gente tenta resgatar sonoridades brasileiras, latinas, mas claro que, infelizmente ou felizmente, também não escapamos dos caminhos tendenciosos que a indústria músical mundial leva para todos os músicos. O que mais tentamos é valorizar a canção, no sentido de Composição, que é uma característica dos músicos do nosso estado aqui no Brasil. Ao mesmo tempo em que damos muito valor ao ritmo, o tambor. Então, acredito que fazemos um som bastante colorido, com texturas, ritmos brasileiros, mas que ainda temos muito a aprender, é só o começo de uma caminhada.
Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Durante minha infância e adolescência fui bastante apaixonado por futebol, clássico de um brasileiro. Hoje em dia ainda acompanho, mas a música me toma quase todo o tempo.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Bom, é muito complicado colocar a vivência numa escala (risos) mas eu diria que a conexão que se cria com a música é a coisa mais bonita que podemos ter nessa profissão. O fato de criar, dar vida àquilo que está dentro de você é de fato maravilhoso, principalmente quando você tem a oportunidade de levar isso às pessoas e vê-las com um sorriso no rosto. À desvantagem eu daria outro nome: obstáculos. Criam-se obstáculos bem grandes quando se escolhe ser músico, principalmente por ser uma profissão historicamente carregada de preconceitos, ao mesmo tempo em que há muita desvalorização para com o artista, e se ele(a) não estiver de bem consigo mesmo, pode ter problemas.
Quais as tuas maiores influências musicais?
Atualmente eu me sinto completamente ligado à cultura popular brasileira, escuto muito maracatu, côco, xote, baião, e também ouço bastante Djavan, pra mim um dos maiores músicos do Brasil. Mas durante minha adolescência fui muito fã de Red Hot Chili Peppers.
Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Com certeza preferimos ouvir no vinil! Mas atualmente é difícil achar vinis. Não podemos perder esses hábitos!
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
O streaming é uma ferramenta. Não vai matar a música nem salvar, aliás ela não precisa ser salva de nada, nem consigo pensar em alguma maneira da música ser morta (risos). Com o streaming tem muita gente conseguindo muitas coisas, então acho que está sendo uma boa ferramenta. É o presente em que vivemos, tecnologias.
Qual o disco da tua vida?
Djavan – “A Voz, O Violão, A Música de Djavan” - Primeiro álbum dele.
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Fiquei impressionado com o último disco de um rapper da minha cidade, Djonga. O álbum se chama “Heresia”.
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Temos ouvido bastante Nação Zumbi, eles são uma grande referência. A nossa última descoberta com certeza foi uma banda chamada Francisco, el Hombre, eles são ótimos.
Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Uma vez fomos tocar em um festival, os técnicos não nos deixaram passar o som, ou seja, já chegamos e fomos tocar. Afinamos os instrumentos antes, mas meu afinador de violão estava com bateria fraca e afinou meu violão um tom abaixo da afinação padrão. Como eu não sabia, pois não tínhamos passado o som e afinei o violão sem nenhuma referência, na hora que fomos tocar a primeira música foi horrível. A entrada era do violão solo, e quando a banda entrou junto foi uma bagunça (risos). Mas percebemos e ficamos tranquilos, deu tudo certo em seguida! Hoje em dia é uma boa história e serviu de experiência.
Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Tem muitos artistas brasileiros(as) fazendo um movimento muito interessante: Boogarins, Iconili, O Terno.
Para quem gostarias de abrir um concerto?
Nação Zumbi, Criolo, Elza Soares.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Um nacional seria Circo Voador – RJ ; Internacional - Primavera Sound
Qual o melhor concerto a que já assististe?
Eu não consigo escolher um melhor, mas gostei muito do show da Francisco, el Hombre, e também do show dos RHCP que fui há uns anos, era o sonho da minha vida.
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Eu me sinto mal de não ter visto Djavan tocar ao vivo!
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Woodstock com certeza, todos nós da banda.
Qual o vosso guilty pleasure musical?
Não temos vergonha nem nos sentimos culpados de ouvir alguma música. Temos que desconstruir esses preconceitos musicais!
Projectos para o futuro?
Este ano vamos começar a gravar nosso CD e esperamos lançar no primeiro semestre de 2018.
Em Setembro têm digressão agendado para Portugal, o que esperam desses concertos?
Será nossa primeira viagem internacional. Esperamos, primeiramente, que as pessoas se sintam bem com a nossa presença, e mais que isso, queremos que seja uma boa experiência para quem nos ouvir tocar. Com certeza será uma ótima experiência, em todos aspectos.
Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Gostaria que me perguntassem o que eu diria para uma criança que deseja ser artista. E a reposta seria: Não desista.
As crianças são a continuidade, o futuro.
Que música de outro artista gostarias que tivesse sido composta por vocês?
Qualquer música dos grandes compositores brasileiros: Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
Uma evolução de bateria em um baque de Maracatu.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Terminamos ao som do single "Clareava", extraído do EP Claraboia.
Terminamos ao som do single "Clareava", extraído do EP Claraboia.
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