quarta-feira, 5 de julho de 2017

Conversas d'Ouvido com Alice Passos

Entrevista com a cantora e compositora brasileira, Alice Passos, que no final do ano passado editou o seu disco de estreia Voz e Violões, onde juntou a sua bela voz a diversos guitarristas. Nesta descontraída conversa, descobrimos uma artista fortemente influenciada pela música brasileira e por nomes como Chico Buarque e Zélia Duncan. No futuro planeia editar um disco em parceria com Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro. No entanto isto é apenas uma amostra do que podem descobrir nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Alice Passos: Surgiu por osmose. Mãe cavaquinista, violonista, compositora, regente; pai luthier. Ouço música desde o ventre e cantei antes de falar. Não lembro da minha vida sem música. Cantar/tocar é que nem tomar banho, comer…

Editaste no final do ano passado o disco “Voz e Violões”, para quem ainda não o ouviu o que pode esperar? 
O disco é composto de canções nascidas da terra brasileira. Todas têm os dois pés enraizados na nossa mata, a melodia nadando nas nossas praias, mares e rios. Todas têm mensagem forte, histórias pra contar. Acho que é um disco extremamente brasileiro, onde quem ama violão vai se deliciar ao ouvir cada estilo diferente, cada timbre, cada levada.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Eu digo que canto música brasileira. Canto ciranda, coco, samba, forró, maracatu, música mais pop… canto o que me encanta.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Com certeza! Meu filho, Dorival, de 2 anos e meio; meu marido, Renato; viajar e comer! 

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Acho que tem vários tipos de músico, certo? Porque você pode ser músico e ter carteira assinada, receber salário. 
No meu caso, a maior dificuldade é a instabilidade financeira. Só isso. Um mês receber 1000 e no outro 100, a preocupação constante com o mês seguinte, e se um mês tá bom nem dá pra relaxar porque você já sabe que dali a 3 meses é super fraco, enfim. É bem difícil isso.
Agora, não tem preço fazer o que se ama. Fazer seus horários (no meu caso com bastante limitação, devido ao horário da creche do meu filho), viajar trabalhando, estar sempre conhecendo pessoas novas, músicas novas, construindo novos projetos, aprimorando outros…
Acho que a maior vantagem é a liberdade. E a desvantagem… a liberdade! Porque tem que ter muita disciplina pra se auto gerir.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Egberto Gismonti, Renato Braz, Dori Caymmi, Elizeth Cardoso, Cristina Buarque, Chico Buarque, Tina Pereira, Ignez Perdigão (minha mãe), Zélia Duncan…

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Preferir prefiro em vinil. Mas como estou sem o aparelho atualmente ouço quase que só no celular.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Ótima pergunta. Acho que o que me aflige é que é muita informação. Antes, gravar um disco era algo longo, sério, caro… Para chegar lá você batia na porta de muitas gravadoras, levava muito não, cantava muito à noite… Hoje em dia qualquer um pode gravar um disco. Qualquer um pode se dizer cantor, compositor. 
Acredito que o ofício de cantar, compor, tocar, tenha sido um tanto quanto banalizado. Ao mesmo tempo, abre mais o leque para quem não tem, digamos, um contato com alguma gravadora, poder apresentar seu trabalho.

Qual o disco da tua vida?
Posso dizer que é “Eu Me Transformo Em Outras”, de Zélia Duncan.

Qual o último disco que te deixou maravilhada?
Tatanagüê, de Renato Braz e Theo de Barros.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Estou viciada em “Tatanagüê”, um disco do compositor Theo de Barros com o cantor Renato Braz. Minha mais recente descoberta musical foi o Ukulele, que instrumento gostoso!

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Olha, infelizmente não tenho nenhuma muito engraçada. Já errei letra, entrei descalça no palco sem querer, esqueci de chamar os músicos para tocar uma música que tínhamos ensaiado (mas não deu pra perceber), desliguei sem querer o microfone enquanto tava cantando… mas nada demais

No teu debut, contas com a colaboração de 13 guitarristas e compositores, no entanto com que músico/banda gostarias ainda de efectuar um dueto/parceria?
Nossa, muitos!! Neste disco faltaram o Egberto Gismonti e Yamandú Costa, grandes violonistas e compositores. Gostaria de cantar com músicos de fora do Brasil (já cantei informalmente, mas nunca dividi um show com)… Adoraria gravar um disco com o Rabo de Lagartixa, grupo de choro ótimo daqui do Rio. Com o duo Assad (Sergio e Odair), Alfredo Del-Penho, Pablo Milanés, com orquestras… 

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Gilberto Gil.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Todos!
Mas Carnegie Hall e Sumida Trifony Hall são grandes sonhos.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Nossa, acho que é impossível dizer o melhor. Mas todas as vezes que vi Egberto Gismonti no palco foram inesquecíveis. Cada concerto é uma aula de música.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Maria Bethânia, Milton Nascimento, Leo Brouwer…

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Qualquer um da Ella Fitzgerald ou da Elizeth Cardoso.

Qual o teu guilty pleasure musical?
Algumas músicas da Britney Spears, Christina Aguilera (menos vergonha que Britney), e outros pops americanos. O disco “Stripped” da Christina Aguilera eu ouvi até furar quando era adolescente e trago boas memórias, então gosto dele até hoje.

Projectos para o futuro?
Sim, um disco com o Maurício Carrilho só de músicas dele em parceria com o Paulo César Pinheiro!

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Agora nada me vem à mente.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Engraçado, não tenho esse sentimento. Fico muito feliz pelas músicas lindas que existem no mundo e que me tocam profundamente mas não tenho essa necessidade de posse, de ser dona dela.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Quando Eu Me For", do Paulo César Pinheiro

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Eu que agradeço pela generosidade e pelo trabalho tão importante que vocês fazem com artistas que não tem muito espaço na mídia. Parabéns!

Antes de terminarmos ficamos som de Alice Passos e do seu disco Voz e Violões.

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