A edição de 2017 do Nos Alive, começou ontem com um cartaz de luxo, infelizmente este ano este é o único dia que estivemos presentes, mas como não poderia deixar de ser aqui ficam as nossas impressões. Os The xx foram os reis desta primeira noite, mas há muito mais a destacar...
Às 18h00 os portugueses You Can't Win Charlie Brown, abriram o palco principal, ainda com pouco público. Já não há dúvidas que a banda lisboeta é um dos nomes mais interessantes da nova música portuguesa, ao vivo não desiludem, mas ficamos com a sensação que a sonoridade da banda ganha mais num recinto fechado.
O tempo é apertado, tal como em qualquer festival de verão e dirigimos-nos rapidamente para o Palco Heineken, às 18h50, começava um dos concertos que mais aguardávamos neste primeiro dia. O duo Rhye, composto pelo multi-instrumentista dinamarquês Robin Hannibal e pelo cantor canadiano Milosh. percorrem os caminhos do r&b e da soul. Ao vivo apresentam-se em formato banda com direito a violino e violoncelo eléctrico. A voz de Milosh é absolutamente perfeita, e a musicalidade dos Rhye fez-se ecoar nas nossas almas. Dirão alguns que não é concerto para um festival, nós dizemos que foi dos concertos mais ricos a nível de musical/instrumental deste primeiro dia. Ao vivo atiram-se diversas vezes ao jazz, com autênticas e belíssimas jam sessions, que nos conquistaram.
Após a fantástica "Open", dirigimos-nos novamente para o palco principal, porque as "corridas" ainda iam no início. Os alt-J, regressaram a um palco, onde já haviam sido felizes em 2015. Consigo traziam o "fresquinho" disco Relaxer, editado dia 2 de Junho deste ano. Talvez por o terceiro disco ser tão recente, o mesmo foi praticamente esquecido, escapando "3WW" e "In Cold Blood". Assim a banda britânica repetiu a fórmula habitual, já os vimos em ocasiões anteriores e esta não foi a mais memorável. Contudo a banda de An Awesome Wave, não sabe dar maus concertos. Trazem um poderoso jogo de luzes, e temas como "Fitzpleasure", "Tessellate", "Left Hand Free" e "Breezeblocks" (que encerrou o concerto), continuam a fazer a delícia dos fãs.
De volta ao palco secundário, os Blossoms, tinham ainda pouco público à sua espera, cenário pouco habitual tendo em conta as edições anteriores, o motivo talvez se prenda com o facto de algumas bandas que já pisaram este palco, se encontrarem hoje em dia no principal. Os Blossoms, são um dos grandes fenómenos actuais em Inglaterra, para terem noção do disco homónimo de estreia editado no ano passado, já foram extraídos oito singles, e o álbum foi número um no Reino Unido. O fenómeno ainda não atravessou a "fronteira" para Portugal, e o quinteto de Stockport, não deslumbrou. O seu indie rock é interessante, a voz de Tom Ogden é competente, o estilo é agradável, mas parece-nos uma daquelas bandas que nunca serão um grande fenómeno em Portugal. Lembramos-nos de nomes como The Libertines (que muito gostamos) ou Stone Roses, que nunca tiveram o mesmo impacto no nosso país.
Aterrando novamente no Palco Nos, os Phoenix, já tinham uma considerável moldura humana à sua frente. Os franceses que não soam a França, começaram a todo o gás, com o tema homónimo do mais recente disco Ti Amo, lançado este ano. Sempre em alta rotação seguiram-se "Lasso" e as energéticas "Entertainment" e "Lisztomania". Como seria de esperar com um início assim o concerto tinha que abrandar, foi neste momento que nos mostraram o seu lado mais electrónico. Thomas Mars é brilhante no seu papel, convidando e incentivando o público a vibrar com eles. O público estava conquistado, mas para os deixar rendidos faltava o final apoteótico com "1901" e crowd surfing ao som de "Ti Amo di Piu". Os Phoenix amam-nos e nós também os amamos. Parece que já é hora de um concerto em nome próprio.
Quem vai a um festival de música, para ouvir e ver concertos, sabe que o descanso é curto e por isso, às 22h00 estávamos já no palco Heineken, para voltar a ver o icónico Ryan Adams. O público já era bastante numeroso, e o músico apresentou o seu lado mais "rockeiro", relativamente ao que tínhamos visto há seis anos na Aula Magna. O som encontrava-se excessivamente alto, o que por momentos ofuscou a voz de Ryan. O músico de Jacksonville já tem muitos anos disto, a sua discografia é extensa, tanto a solo como juntamente com os seus Cardinals. Foi um concerto de típico rock americano, musculado, com poderosos riffs e uma voz a ranger emoção. O palco, estava aprimorado, talvez para Ryan se sentir em casa, algumas televisões antigas, um computador e um tigre (peluche). A sua banda foi discreta, mas competente destacamos o baterista que usava uma t-shirt dos Royal Blood, antecipando o estrondo que estava para vir. Faltaram alguns temas que marcam a nossa vida, entre eles o fantástico "Come Pick Me Up". Ryan Adams não desiludiu mas também ainda não foi desta que nos conquistou ao vivo, como nos conquistou com a sua discografia. No entanto não restam dúvidas que Ryan é um dos melhores compositores da sua geração.
Entramos então numa espécie de correria, para chegarmos a tempo ao palco principal, os The xx estavam prestes a regressar a Portugal. Recuamos um pouco no tempo, até 2010, ano em que estávamos sentados na Aula Magna (a rebentar pelas costuras) e presenciámos a estreia em Portugal do trio britânico. Nesse mesmo ano voltamos a vê-los no palco secundário, deste mesmo festival e ficamos rendidos. A sua música quando surgiu foi como uma autêntica pedrada no charco, nas águas da indústria musical. Nessa altura, acho que ninguém, nem mesmo a própria banda poderia imaginar onde chegou. Hoje estão maduros, mais bonitos, ainda mais sedutores e a sua música continua inconfundível. Foi perante uma plateia ao rubro, que Romy, Oliver e Jamie, subiram ao palco e "Intro"duziram "Crystalised", visivelmente emocionados entre temas como "Say Something Loving", "Island" e "Chained", emanaram o seu amor por Lisboa, referindo que há muito que aguardavam por este regresso. Nós também gostamos sempre de os receber, a sintonia e a cumplicidade entre as vozes de Romy e Oliver é tão perfeita que por vezes fundem-se numa só. Jamie xx sempre discreto demonstra o seu talento enquanto controla uma parafernália de sintetizadores, mesas de mistura e percussão. Uma palavra para elogiar a qualidade da definição de imagem dos ecrãs gigantes e para a qualidade do som. Arriscamos-nos a afirmar que foi um dos melhores sons que o Palco Nos irradiou. O concerto prosseguiu ao som de "Dangerous", "I Dare You", "Performance" e "Inifnity". Seguiu-se uma das nossas músicas preferidas, extraída do último disco, "A Violent Noise". "Brave For You", a celebrada "VCR" e a hipnotizante "Fiction". "Shelter", antecipou o momento em que Jamie xx brilhou com o seu tema "Loud Places", para de seguida "mixar" a entrada e "On Hold". Já não havia dúvidas sobre quem seria coroado como "Reis do primeiro dia", mas ainda assim o concerto terminou com intimismo e com Romy dedicando "Angels" à sua noiva. Chegou ao fim aquele que poderá muito bem ser um dos concertos desta edição do Nos Alive. Se em 2010, não imaginávamos onde os The xx chegariam, em 2017 não temos dúvida que merecem estar onde estão, no Olimpo, concerto hipnotizante e memorável, com um som límpido de fazer inveja a algumas salas fechadas.
Ainda assoberbados e a sonhar com o concerto dos The xx, chegamos ao palco secundário, onde os Royal Blood, fizeram questão de acabar com a nossa aparente calma, acordaram-nos do sonho em que estávamos, mas da melhor maneira possível, com o melhor rock'n'roll que aterrou esta noite no Passeio Marítimo de Algés. Não foi para nós uma surpresa, há dois anos atrás estivemos presentes no Coliseu de Lisboa, quando o duo britânico o fez estremecer. Hoje com um poderoso jogo de luzes, temos a certeza que conquistaram os que ainda não os conheciam. O Placo Heineken recebeu a maior enchente da noite e os Royal Blood retribuíram com o que melhor sabem, uma poderosa bateria que ameaça desmoronar-se com a potência de Ben Thatcher e um baixo que é tocado como se de uma guitarra se tratasse, com um certo desrespeito incendiário por Mike Kerr. Ao vivo o duo é absolutamente irrepreensível, fazendo jus à expressão: "um é pouco, dois é bom, três é demais". Apenas dois homens em palco é o suficiente para o concerto mais explosivo da noite. Para quem queria rock, a sério, os Royal Blood, não deixaram os seus créditos por mãos alheias. Com apenas dois álbuns editados, um homónimo em 2014 e How Did We Get So Dark? este ano, podem-se gabar de ambos os discos terem chegado a número um no Reino Unido. Não houve um só momento alto, porque o concerto foi sempre em alta rotação, mas não faltaram temas como "Lights Out", "Come On Over", "Little Monster", "Figure It Out" e "Out of the Black", com honras de encerramento. Enquanto nos dirigíamos para o concerto de The Weeknd ouvimos, "eram estes gajos que deviam abrir para Foo Fighters".
De regresso ao palco principal, a histeria estava presente para acolher o regresso do músico que dá pelo nome de The Weeknd. O artista sobe ao palco e abre o concerto com "Starboy", logo aí percebemos que não vai faltar fumo, fogo de artifício e chamas. Não há dúvidas que The Weeknd é um dos maiores e mais recentes fenómenos da música americana. Sozinho em palco, com a banda que o acompanha elevada em plano secundário, Abel Tesfaye de seu nome, percorre-o de uma ponta à outra interagindo e tentando puxar e animar o público. À media que o concerto prossegue, ficamos com a sensação que apesar dos seus singles serem de facto muito bons, não deixam de ser pérolas perdidas num universo de canções desinteressantes. A soul e o r&b que nos cativa e que está bem patente em alguns dos seus temas, ao vivo desvanece perante uma postura mais virada para o hip-hop, em relação à sua voz, nada a apontar, no entanto as vozes pré-gravadas, que servem de backing vocal ajudam imenso à sua prestação. Admitimos que a meio do concerto nos sentimos entediados. A sua postura por vezes parece uma máquina bem programada, faltando um pouco de sinceridade e sentimento à sua performance. Pensamos em desistir mas nesse momento The Weeknd, possivelmente sentindo a nossa vontade decidiu atacar com a fantástica "Earned It", da banda sonora de "Fifty Shades of Grey". Conseguimos permanecer até ao fim e foi a nossa melhor decisão. O melhor estava guardado para um final apoteótico ao som do tema que o catapultou "I Can't Feel My Face", seguida de "I Feel It Coming" tema produzido em parceria com Daft Punk. Saiu, mas regressou para um curto e breve encore com o nosso tema preferido "The Hills", com direito a muitas chamas e fumo. Porque é que o concerto não foi todo assim? A resposta não é fácil, talvez o repertório do artista seja um pouco incongruente, ou então o nosso gosto não seja linear.
Após retemperarmos forças, com um café a noite está a chegar ao fim, mas ainda falta o concerto mais aguardado por nós, os britânicos Glass Animals. Não podemos esconder, foram eles o nome que nos fizeram deslocar este ano um único dia ao Nos Alive. Os dois discos editados, andaram a rodar em repeat nos nossos ouvidos. Em 2014 estrearam-se com o estupendo Zaba, dois anos depois regressaram com o não menos surpreendente How To Be a Human Being. Pouco passava das três da manhã quando os Glass Animals subiram ao palco Heineken, perante uma plateia bem composta de resistentes. Logo a abrir serviram "Like It Self", tema de abertura do mais recente disco e percebemos imediatamente que o final da noite ia ser sofrido. O som esteve absolutamente péssimo, se no primeiro tema a voz foi praticamente inaudível, durante o resto do concerto após diversas tentativas de melhoria, o resultado foi na melhor das hipóteses aceitável. A voz pouco se ouviu, a guitarra praticamente sempre abafada, a nitidez foi algo que nunca existiu. Torna-se difícil apreciar um concerto com um som tão deficitário. Em relação à banda, nada a apontar à entrega, interactivos e energéticos. Dave Bayley é excelente, dança serpenteia-se e aproxima-se do público, vibrando com eles aos som da sua mistura de pop psicadélica, indie rock e electrónica com um toque tropical. O público também esteve à altura dançando, saltando e cantando, no fundo só o som é que não correspondeu às expectativas. Os Glass Animals, percorreram temas como "Black Mambo", "Season 2 Episode 3", "Gooey" e "Pools". Antes de terminarem não poderiam faltar os "ananases na cabeça", com um dos momentos altos da noite em "Pork Soda". Só nos apetece dizer, voltem rápido Glass Animals, e de preferência com o som que vocês merecem.
A edição deste ano do Nos Alive fica por aqui, pelo menos para nós. Rematamos com a Santíssima Trindade deste primeiro dia The xx, Royal Blood e Rhye.
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