sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Conversas d'Ouvido com Fast Eddie Nelson

Hoje entramos em ringue com o "boxeur" Fast Eddie Nelson, para uma entrevista, ou melhor para um combate de boxe. No canto azul temos o Ouvido Alternativo, com as suas questões que deixam qualquer um KO, no canto vermelho o músico Nelson Oliveira, que possui uma esquerda repleta de blues, uma potente direita de rock e uppercut revestido de folk. Depois de Mayweather vs McGregor, as "Conversas d'Ouvido" com Fast Eddie Nelson são o combate mais aguardado do ano... 


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Fast Eddie Nelson: É difícil dizer. Em minha casa sempre se ouviu muita música quando era miúdo. O meu pai cantava em grupos e cresci sempre rodeado de música e instrumentos.

Como surgiu o nome Fast Eddie Nelson?
Curiosamente, nada tem que ver com música. Eu costumava jogar bilhar com uns amigos e um dia vimos um filme chamado “The Hustler” em que o protagonista, o Paul Newman, se chamava Fast Eddie Felson e ficou como alcunha.

Preferes apresentar-te ao vivo em conjunto ou em formato one man band?
Não tenho preferências, gosto de ir mudando de formato para tentar manter a coisa "fresca" para mim e para quem aparece nos concertos.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Não gosto. :D Acho que não cabe ao músico definir-se. Parece-me prejudicial. Já basta os outros tentarem enfiar-te numa prateleira, não há interesse nenhum em fazeres isso a ti próprio.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Yah! Viver. Tento sempre encontrar a paixão nas coisas ou então desisto delas. A vida não está para ser desperdiçada em disparates sem paixão.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
É como em tudo na vida. Ou gostas do que fazes ou então não estás a fazer bem. A música não traz muita segurança no que diz respeito a finanças, mas isso até te obriga a mexeres-te, o que acaba por não ser uma desvantagem.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Como ouvinte, comecei, como muita gente, pelas bandas clássicas dos anos 60/70. Os Beatles, os Pink Floyd, Led Zeppelin, etc… Como músico, foram os Blues que me fizeram encarar a música mais a sério. O Howlin' Wolf, o Elmore James, o Muddy Waters, e muitos outros, tiveram (e têm) muita importancia para mim.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Tanto me faz. Interessa-me o que estou a ouvir muito mais do que o formato. Como músico gosto de editar em vinil, é um objecto muito bonito e que também prefiro quando adquiro música. Mas a verdade é que não acho uma questão muito importante. Acho a música importante, o resto são acessórios.

Qual o disco da tua vida?
O meu próximo disco :D Na verdade não sei se tenho um disco da minha vida. Há tantos discos que significam muito para mim em determinadas fases da minha vida que não consigo escolher um.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
O último disco que me deixou maravilhado foi também uma grande descoberta. Falo do Let Them Eat Chaos da Kate Tempest. Não a conhecia e fiquei banzado.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Continuo na minha senda de pesquisa de Mississippi Blues, há sempre mais coisas para descobrir, é um manancial quase inesgotável. Tenho ouvido também o último disco do Frankie Chavez, a Kate Tempest (como já mencionei) e os Urso Bardo, que é uma banda portuguesa que só descobri há pouco tempo…

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Já marquei festas de lançamento de discos e chegado o dia, não ter os discos para a festa, por motivos de atraso na produção. Muito desagradável de explicar às pessoas…

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Uma lista interminável… Desde o Tom Waits ao Neil Young passando pelos portugueses Mão Morta ou Sérgio Godinho. É impossível escolher um.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
É sempre um privilégio abrir para qualquer músico pelo qual sinta admiração, como já fiz para Sam Alone & the Gravediggers, Mão Morta, Peste & Sida, etc…

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Internacional, adorava tocar no festival de Glastonbury, é um sonho antigo. Nacional, talvez o Coliseu dos Recreios em Lisboa. Já lá toquei uma vez, mas fazia parte de um grupo de 100 músicos, embora tenha sido uma experiência bestial.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Não consigo responder a isto. Não consigo comparar o Lou Reed e os Pink Floyd. São experiências únicas e incomparáveis.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Há vários, mas destaco o Tom Waits. É muito difícil, toca poucas vezes e quando o faz os bilhetes desaparecem num instante. Mas é um sonho que continuo a acalentar.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Há uma série de festivais ao ar livre que se realizaram no final dos anos 60 e início dos anos 70 que ficaram no imaginário do rock'n'roll, como Woodstock ou o Isle of Man e que não me importava nada de ter visto.

Tens algum guilty pleasure musical?
Não. Gosto muito de música, e a música não faz mal a ninguém portanto não vejo motivo nenhum para sentir vergonha seja do que for. Continuo a ouvir algumas das coisas que ouvia quando era adolescente sem complexos nenhuns.

Projectos para o futuro?
Continuar a fazer coisas na música e que sejam sempre mais interessantes do que o que fiz anteriormente. É o único lema.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Não gosto particularmente que me façam perguntas acerca de mim, portanto nenhuma…

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Uma qualquer que tivesse gerado muito dinheiro tipo o "Satisfaction" dos Rolling Stones ou o "Stairway to Heaven" dos Led Zeppelin… (risos) A sério, não sei, gostava de escrever melhores canções mas não sinto assim orgulho nas coisas do género “Eu é que escrevi aquela canção…”

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Qualquer coisa alegre, para os meus amigos cantarem e dançarem. Não gosto nada do ritual do funeral, é tudo muito soturno e cabisbaixo.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Recuamos no tempo para voltarmos a ouvir o seu disco, Roots Run Deep, disponível para escuta através da plataforma Bandcamp.

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