quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Conversas d'Ouvido com Components

Entrevista com a banda brasileira, Components pela voz do guitarrista e backing vocal Gabriel Santana. Além de Gabriel a banda é composta por Hugo Bittencourt (bateria), Matheus Azevedo (voz) e Miguel Rojas (baixo e backing vocal). Os Components navegam nas águas do rock alternativo, chegam ao Ouvido Alternativo, directamente de Goiás, na bagagem trazem o disco de estreia "A Capacidade de Retornar ao Estado Original". Antes disso, atravessámos o Oceano para os conhecer melhor, descobrimos a amizade que os une, falamos de influências, embaraços, discos de uma vida e projectos futuros em mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Gabriel Bem, cada um da banda tem uma história bem particular para o primeiro contato com a música. Por exemplo, o Matheus tem pai e tios que integram ativamente o circuito aqui de Goiânia, em bandas que admiramos muito. No meu caso comecei na música fazendo aulas de piano quando criança.
Porém, respondendo à pergunta, me apaixonei mesmo por esse universo depois que descobri ”Guitar Hero”, o que fez eu aprender guitarra e consequentemente, influenciar o Miguel e o Hugo a montar uma banda.

Como surgiu o nome Components?
Eu poderia inventar um monte de histórias sobre como pensamos em nos identificar, como “peças complementares e inseparáveis para a formação de nossa música”, ou algo do tipo, mas pelo que me lembro, o ocorrido foi que uma ex-namorada do Hugo trouxe esse nome de forma completamente aleatória, e acabamos gostando. Isso é o que eu me lembro, mas minha memória é péssima.

É verdade que a banda nasceu de uma amizade de longa data?
Eu, o Hugo e o Miguel realmente nos conhecemos há uns 20 anos. Na real podia até dizer que nos conhecemos antes do nascimento, já que minha mãe conheceu a do Miguel numa aula de yoga para gestantes, e os pais do Hugo e do Miguel sempre foram muito próximos. Por coincidência entramos na mesma escola de ensino fundamental e depois disso nunca nos separamos.
Já o Matheus fomos conhecer no ensino médio, e nos aproximamos quando ele preencheu o lugar de baixista da banda, quando o Miguel fez um intercâmbio, e depois ele acabou assumindo o posto de vocalista.
Components - "A Capacidade de Retornar ao Estado Original"
Editaram recentemente o disco “A Capacidade de Retornar ao Estado Original”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
Podem esperar muitas letras doidonas (pode até falar que são “poéticas”) e rockeiragem alternativa.
Tem um quê de rock triste em algumas músicas, mas tudo feito através de muito simbolismo, o que eu acho que diferencia um pouco do rock triste diretão/pessoal de muitas bandas, mas também tem muitos momentos mais “pra frente”, de certa forma despretensiosos liricamente e irónicos.
Tem momentos bem diversificados no CD, tem balada triste de decepção amorosa, rock que se parar pra pensar pode ser uma canção-de-protesto, faixa instrumental, releitura de um single antigo nosso, etc.

Como gostas de descrever o vosso estilo musical?
Uma de nossas maiores dificuldades é descrever nosso estilo. Claramente nos encaixaríamos no tal “Rock Alternativo”, que hoje em dia se usa pra descrever qualquer coisa.
Porém tem muitas poucas bandas que genuinamente fazem canções parecidas com as nossas (ou pelo menos não encontramos muitos outros conjuntos). Já ouvimos comparações doidas com bandas desde Pixies até The Offspring, Pessoalmente, acredito que conseguimos encontrar referências mais certeiras em bandas como Muse, Violins, Mew, entre outras.
Geralmente uso o termo “rock hermético-simbolista” pra descrever nosso uso de letras “enigmáticas”, mas é mais por que acho uma expressão divertida.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Gosto bastante de artes visuais no geral, e gosto muito de acompanhar o que está rolando na cidade nesse sentido. Tenho um carinho muito grande pelo circuito gráfico alternativo e se minha conta bancária permitisse, eu iria adquirir muito mais além dos zines, adesivos, posters, livros e esses tipos de reproduções.
Neste segmento eu também trabalho um pouco com fotografia, e a coisa mais legal que fiz neste ramo foi a capa do CD “Apego” da banda Lutre, e um zine/encarte relacionado a ele.
Lutre - "Apego"
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Acredito que a falta de estabilidade financeira seja uma das partes mais angustiantes de qualquer um que mexa com artes no geral, até por que não é todo mundo que consegue algum tipo de contrato que crie uma renda fixa. O fato de que devido ao cenário musical que encontramos hoje, o músico precisa viver em turnê também pode causar um pouco de aflição quando você pensa a longuíssimo prazo, mas no geral creio que alguém que consiga sucesso vendendo sua própria arte (de qualquer forma que seja) não tem muito do que reclamar.
Dentro da banda, eu e o Miguel somos os que mais nos preocupamos com isso tudo, já que somos graduados no curso de música, enquanto o Matheus acaba de se formar em direito e o Hugo está terminando seu curso de publicidade.
A maior vantagem da vida de músico, como não poderia deixar de ser, é sempre estar envolvido com a expressão de uma voz interna, qualquer seja o caso. Seja atuando como artista autoral, ou como guitarrista de um cantor sertanejo. Luto pra sempre me envolver expressando através de linguagens que me agradem.

Quais as vossas maiores influências musicais?
Todo mundo na banda sempre ouviu coisas muito distintas, mas algumas das maiores confluências musicas que compartilhamos dentro do rock são artistas como Muse, QOTSA, TV on the Radio, Violins, Apanhador Só, Baleia, Vícios da Era.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Minha forma favorita de consumir música sempre foi o CD. Ele é claramente mais prático que o Vinil, e realmente não acredito no papo de que a qualidade sonora dos “bolachões” seja superior às outras mídias, além de (quase sempre) ser mais barato. Só é inegável que a experiência de usar uma vitrola realmente é bem interessante e sedutora.
Emotivamente, ter uma coleção de CD's também é bem mais apelativo pra mim, já que é o meio que sempre tive contato em minha infância.
Apesar de tudo isso, o meio que eu (e basicamente todo mundo) ouve música é o streaming, por sua adequação e praticidade no mundo moderno. O CD fica só para expor em minha prateleira e pro carro que (ainda) não possui conectividade bluetooth.

Qual o disco da tua vida?
Não tem nenhum disco que eu escolho como favorito, mas tenho uma banda do coração, a única que fiz questão de aprender a cantar e tocar todas as músicas quando eu era mais jovem.
Quando eu comecei a tocar guitarra eu logo descobri Metallica, e passei uns bons anos dedicado à banda. Hoje eu mudo de disco favorito constantemente.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Tem uns dois anos que eu descobri a banda dinamarquesa Mew, e acho que eles têm uns dois álbuns absolutamente geniais, sendo que sou especialmente apaixonado pelo “And The Glass Handed Kites”. É um álbum que toda vez que dou play preciso escutar por inteiro.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Tem uma banda aqui de Goiânia chamada Acrílico que acabou de lançar seu primeiro single. Quero ouvir o que mais eles têm pra dizer. Fora isso ando ouvindo Raça, Forest Swords, DZ Deathrays, FingerFingerrr, Black Rebel Motorcycle Club, The Bad Plus, Chelsea Wolfe, Nevilton, entre outras coisas que vêm lançando coisas recentemente.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Não lembro de nada especialmente embaraçoso, mas algo que me deixou bastante sem graça em um show foi no festival Julindie 2017 quando apoiei minha perna no retorno que estava na beirada do palco, quando fui sair da pose acabei empurrando esse retorno mais forte do que gostaria, fazendo com que ele caísse do palco. O público que estava na frente do show e alguém mais da produção teve que correr para levantar esse equipamento e colocar no lugar de volta. Não houve nenhum dano ao aparelho, e ninguém saiu machucado, porém foi um "puta" susto, que me deixou visivelmente com vergonha durante a apresentação.

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
Ficamos muito felizes pois nesse CD que acabamos de lançar já fizemos duas participações que ficamos muito honrados por ter realizado. Beto Cupertino, o vocalista da banda Violins (uma de nossas maiores referências) cantou a música “Utopia” connosco, e o vocalista/guitarrista da Bolhazul, Patrick Maciel (que é muito amigo nosso, além de ter uma das bandas nacionais que mais gostamos), cantou as músicas “Hipercosmo” e “Jardim dos Gigantes”.
Para o futuro esperamos continuar contando com a participação de nossos amigos artistas. Já brincamos um pouco em estúdio com nossos amigos da Lutre e apesar de não termos insistido muito no projeto na época, acharia o máximo fazer alguma coisa com eles.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Se for pra sonhar, a maior alegria que eu poderia ter, abrindo show seria se Mew nos convidasse para excursionar, se um dia viessem ao Brasil.
Entre as bandas nacionais, receber este convite do Apanhador Só, Raça ou Baleia seria bem legal. Seria fenomenal também se A Banda Mais Bonita da Cidade voltasse em Goiânia e pudéssemos abrir seu show mais uma vez, o que foi uma das experiências mais divertidas que tivemos como banda.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Acho que o palco que mais tenho vontade de tocar é no do Festival DoSol. Seria realmente foda excursionar para o Nordeste e acho que iria me deixar bastante satisfeito como artista chegar tão longe dentro do Brasil. Outro lugar aqui dentro que acharia massa fazer um show é na Breve, em São Paulo, uma das novas casas do Brasil mais empolgantes.
Já no exterior, participar do MIDEM, o SXSW, Sónar, Primavera Sound, Mêda, etc, seriam todos bem legais e incríveis.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Provavelmente foi o do Caetano Veloso. Não lembro de sair de nenhum outro show tão impressionado, mesmo de artistas internacionais, ou mesmo de artistas que sou bem mais fã. Outro show que me deixou bem emocionado foi da banda Lutre, mais pelo momento do que essencialmente pelas músicas, apesar de ter sido tudo excepcional nesse show.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
São muitos artistas para fazer uma lista, mas se fosse para falar alguns poucos, agora eu gostaria de assistir a uma apresentação do compositor pernambucano Vitor Araújo, dos Suecos do Meshuggah, do Deftones e do Justice.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Aposto que o Monsters of Rock e o Peace Festival, ambos em Moscovo respectivamente em 91 e em 89 devem ter sido muito doidos, com muitas das minhas bandas favoritas em seus auges, desde Scorpions até Mötley Crüe.
Mais realisticamente, queria ter entrado no show do Crystal Castles no Lollapalooza Chile em 2013, mas o show, que aconteceu em ambiente fechado, estava lotado e não rolou de entrar.

Tens algum guilty pleasure musical?
Sou muito fã de Glam Rock/Metal, inclusive uma parte da minha coleção de CD's conta até com Poison.

Projectos para o futuro?
Estamos terminando de montar nossa primeira turnê que deve rolar ainda nesse primeiro semestre de 2018. Além disso já estamos gravando demos e experimentando novos sons e possibilidades para o próximo CD.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Já que foi dada esta oportunidade, uma pergunta que nunca nos foi colocada, por mais esquisita que pareça, é sobre nossos hábitos alimentares/dieta.
Acho interessante falar que metade da banda (o Matheus e o Hugo) são Veganos (vegetarianos estritos) e que a outra metade (eu e o Miguel) somos simpatizantes a causa.
Mais legal ainda é dizer que durante a primeira etapa de gravação de “A Capacidade de Retornar Ao Estado Original”, em Pirenópolis, todos nós assumimos o vegetarianismo, até por que era uma opção alimentar bem mais viável economicamente.
Podemos até dizer que essa dieta fez um papel importante na produção deste disco, até porque é algo relevante para nosso dia-a-dia, tanto individualmente como em conjunto.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
"Knocked Up" do Kings Of Leon, ou basicamente qualquer música desses 4 primeiros discos deles.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"SomebodyUp There Likes Me" do Young Americans, do Bowie. Acabar em alto astral.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos imperativamente, ao som do disco de estreia "A Capacidade de Retornar ao Estado Original", que se encontra para escuta através da plataforma Bandcamp.

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