quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Conversas d'Ouvido com Mai Kino

Entrevista com a multi-facetada Mai Kino, projecto da cantora e compositora Catarina Moreno. Estudou design, artes visuais/performativas, multimédia e dança. A sua música reflete essas influências, transportando-nos para um sedutor mundo imaginário. É um dos segredos mais bem guardados da música nacional. A sua vida divide-se entre Portugal e Inglaterra, país onde reside há mais de uma década. Prepara-se para actuar na edição deste ano do Nos Primavera Sound, mas enquanto aguarda ansiosa por esse dia, estreia-se nas "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Mai Kino: Esteve sempre lá desde que me lembro de existir, a vontade de cantar e dançar. O meu irmão, que tem mais 7 anos que eu, tocava guitarra e baixo em bandas e levava-me com ele para todo o lado... ensaios, concertos, tours. Lembro-me de ir ao quarto dele roubar os CDs novos que ele trazia para casa e de tocar guitarra de ouvido, para poder cantar as canções de que gostava. Durante muitos anos toquei e cantei às escondidas no quarto, porque me acalmava e fazia sentir melhor... só superei o medo de o fazer em frente a outras pessoas há relativamente pouco tempo. 

Como surgiu o nome Mai Kino? Podemos encará-lo como um alter-ego?
Mai Kino é um encontro de vários significados...sonhos recorrentes de mar e luz, e o nome da minha avó.

Quais as tuas maiores influências musicais?
É difícil saber aquilo que nos influencia porque muitas vezes acontece de forma inconsciente e indirecta, é a soma de tudo o que vamos absorvendo ao longo da vida. Cresci a ouvir grunge e Bristol trip pop e a tocar música clássica na escola...depois descobri jazz e cantoras como a Billie Holiday e mais tarde apaixonei-me por música experimental, minimal e electrónica.

Estudaste design, artes visuais, multimédia, performing arts, dança, sentes que a tua música é uma mescla de todo esse background?
Vejo a música como uma plataforma para a expressão de tudo isso, nada vive em isolamento. 
Tenho sinestesia então quando escrevo uma canção vejo as cores, a atmosfera, o movimento que vem com ela. É tudo parte do mesmo mundo, que tento materializar nas imagens, vídeos, canções e no palco também.

Este ano vais actuar no Nos Primavera Sound, ansiosa?
Muito, com muita vontade que chegue o dia 6 de Junho...e há tantos outros artistas que quero ver também.

Em Inglaterra há uma verdadeira indústria musical, é mais fácil apresentares o teu trabalho em Londres ou como a oferta é maior, é mais desafiante?
As duas coisas...é um mundo muito maior, há mais fontes de inspiração, pessoas, oportunidades, escolha e desafio.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Dança, instalação, arte multimédia, livros, viagens, comportamento humano.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A liberdade e abertura total, e a exposição dessa vulnerabilidade. 

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7,streaming, leitor mp3?
Ao vivo, vinyl, streaming.

Qual o disco da tua vida?
Nevermind”, Nirvana.

Qual o último disco que te deixou maravilhada?
Mount Kimbie, “Love What Survives”.

Qual a tua mais recente descoberta musical?
Abra e Rosalía

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
A bateria electrónica morreu e tivemos de parar a meio...mas acabou por correr tudo bem.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Thom Yorke, James Blake, Mount Kimbie...

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Glastonbury e Coliseu de Lisboa.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Tudo o que vi no Glastonbury em 2016, principalmente LCD Soundsystem, uma banda a que nunca tinha ligado antes. 
O resultado do Brexit saiu na manhã do segundo dia do festival...e no meio da tristeza criou-se uma energia de comunidade, kindness, uma eletricidade no ar que afectou os artistas também. PJ Harvey a ler o "No Man is an Island" foi um momento muito especial.
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Laurie Anderson, Portishead.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
John Cage 4'33''

Tens algum guilty pleasure musical?
Oiço Bach ou Beyoncé em contextos diferentes... há música que nos estimula a alma, o cérebro ou outras partes do corpo.
Acho que o conceito de guilty pleasure pode inspirar alguma falta de abertura.

Projectos para o futuro?
Estou a preparar um vídeo para o meu próximo single e mais música para lançar...concertos e com vontade de voltar ao mundo da arte/instalação também.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada?
Se quero dar a volta ao mundo?

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Glory Box”.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
An Ending (ascent)” - Brian Eno
Happy Survival” - Eddie Okwedy

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Por fim ficamos ao som do mais recente single "Young Love"...

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