Conversas d'Ouvido com Hugo Leite dos The Wild Booze

Estivemos à conversa com o músico Hugo Leite, vocalista dos fantásticos The Wild Booze, e que se encontra simultaneamente a trabalhar numa colectânea de temas que compôs a solo. Segundo o próprio, "o intuito é ir lançando temas ao longo do ano, sem qualquer compromisso de datas, algo espontâneo ...". O último disco que o deixou maravilhado foi All My Demons Greeting Me as a Friend, da brilhante (dizemos nós) AURORA (Aksnes), mas há muito mais para descobrir sobre o músico vimaranense em mais uma edição de "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?

Hugo Leite: Não posso dizer que a paixão tenha sido algo imediato, já que foi florescendo à medida que fui fazendo canções e tocando ao vivo, ou seja, cresceu com as experiências que fui tendo ligadas à música. Digamos que foi algo que se manteve inanimado durante a minha infância até ao início da minha pré adolescência,  e desde aí foi acordando exponencialmente. Isto posto, parece-me diminuto rotular a minha relação com a música como uma mera paixão, já que é algo que foi e é construído de forma muito singular para mim, em torno de um processo frágil e muito íntimo.

Em que projectos estás envolvido actualmente?

The Wild Booze. Projecto a solo

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?

Não tenho outra paixão. Na primeira resposta referi-me à dita paixão como algo ímpar, quase como uma "dádiva", daí achar que é natural, pelo menos para já, não ter desenvolvido outro tipo de apego em relação a outras actividades.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?

A maior vantagem é que podes eventualmente fazer vida da música, a maior desvantagem é que isso também pode não acontecer, o que pode desanimar. Não digo que a probabilidade seja 50/50 já que depende de muitos factores, mas acho que percebeste o que quis dizer.

Quais as tuas maiores influências musicais?

Ultimamente tenho ouvido desde Ziggy Stardust e Hunky Dory do Bowie, ao Rumours dos Fleetwood Mac, até ao revolver dos Beatles. Isto sem esquecer as vibes terapéuticas do dream pop e do indie pop, desde MGMT a The Dø. Esta fusão tem-me permitido criar muitas malhas para os meus prezados The Wild Booze.

Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?

Vinil. Isto porque, apesar de tudo, sou um gajo old school nestas coisas. No entanto, tenho que fazer uso do leitor mp3 muitas vezes, o que não é mau, mas não é a mesma coisa.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?

Depende da perspectiva. Está a "matar" porque não incentiva a compra em formato físico do teu trabalho mas, dentro dos dias que correm, era previsível que isso acontecesse. No entanto, também acaba por "salvar" a tua música, isto porque estamos a falar da World Wide Web onde tens milhões de pessoas que podem ter acesso instantâneo ao que tu fazes, ou seja, acabas por ter o teu trabalho exposto numa escala bem maior.

Qual o disco da tua vida?

Talvez o Teen Dream dos Beach House. Isto porque simbolizou o desprender de certas referências que ainda hoje me "assombram".

Qual o último disco que te deixou maravilhado?

Aurora - All My Demons Greeting Me as a Friend. A Aurora, com apenas 19 anos, é uma artista muito pura e delicada, são qualidades que me inspiram.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?

The Dø, Aurora. Gosto de dançar ao som de forma aleatória e descoordenada ao som do "Shake shook shaken" dos the Dø.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?

Tocar com 14 anos no Plano B com a minha primeira banda no Rock Rendez Worten. Tocamos 8 minutos envolvidos numa atmosfera desafinada e pouco consistente. No entanto, fez parte e fez sentido que tenha acontecido dessa forma.

Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?

Russian Red. Há poucas vozes femininas que me encantam, e a Russian Red...

Para quem gostarias de abrir um concerto?

Para o Bob Dylan mas muito provavelmente não vou a tempo.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias de um dia actuar?

Glastonbury

Qual o melhor concerto a que já assististe?

Não vi muitos mas talvez o dos Blood Red Shoes em Paredes de Coura no ano passado.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?

MGMT, Bruce Springsteen, The Rolling Stones, Blur, Oasis, Fleetwood Mac, Russian Red, Daughter, Aurora, entre muitos outros.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostavas de ter estado presente?

Oasis Maine Road 96'.

Qual o teu guilty pleasure musical?

Gosto de criar baladas indecentes com os meus colegas de casa em Coimbra.

Projectos para o futuro?

Lançar o Álbum dos The Wild Booze em Outubro, é a prioridade. A partir daí, logo se vê.

Próximos concertos?

No Verão, em sítios bonitos com The Wild Booze.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?

Bob Dylan - "Knocking' on Heaven's Door". Além de gostar muito do tema, é perfeitamente adequado à ocasião.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.