Estivemos à conversa com a norte-americana, actualmente a residir em Barcelona, Tori Sparks, cantora e compositora que navega nas águas do blues e da folk. Falamos de Tom Waits, Patti Smith, da sua paixão pela música e descobrimos o desejo de um dia colaborar com Daniel Lanois e Rick Rubin. A sua estadia na vizinha Espanha despertou-lhe ainda mais o interesse pela cultura de nuestros hermanos, em especial pelo flamenco, e pelo nome de Soleá Morente, por exemplo. No entanto há muito mais para descobrir sobre Tori Sparks, em mais uma edição de "Conversas d'Ouvido"...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Tori Sparks: Honestamente não sei, ouvindo música na casa da minha mãe, suponho. Lembro-me de estar sempre atenta a ela, nunca foi apenas barulho de fundo para mim. A minha mãe diz que aos três anos eu sentava-me ao banco do piano e batia nas teclas, pedindo para ter aulas, mas não me lembro disso...
Como é que uma americana, se fixa deste lado do Atlântico na vizinha Espanha?
Queria fixar-me na Europa para continuar em digressão deste lado do oceano. A versão abreviada é que apaixonei-me por Barcelona, por isso mudei-me para cá. Não conhecia ninguém aqui e nem sequer falava espanhol... isto já foi há 5 anos.
“El Mar”, é já o teu 5.º disco, o que podemos esperar de diferente em relação aos álbuns anteriores?
“El Mar” é uma mistura de influências das minhas raízes (rock, blues, folk e americana) com a música que descobri ao viver em Espanha, o flamenco e a música latina. Também aprendi bastante ao trabalhar com esta banda em particular.
Como surgiu a colaboração com os Calamento?
Conhecemo-nos num concerto de beneficiência há já alguns anos atrás e inicialmente começámos a colaborar apenas por diversão, com a ideia em mente de tocar em alguns espectáculos juntos. Gostámos tanto do resultado que decidimos fazer um disco, “El Mar”, e agora estamos em processo de gravação de um segundo álbum.
Para além da música, t ens mais alguma grande paixão?
A música é o meu hobby e o meu trabalho, é praticamente tudo. Tenho tão pouco tempo livre, mas quando consigo ter uns dias sem concertos, ensaios ou reuniões, costumo ler bastante... e viajo, normalmente sozinha. Ler é como viajar, de qualquer forma, mas sem ter que lidar com aeroportos e coisas do género. É uma das razões pela qual gosto de viver na Europa, o poderes conhecer tantos países num tão curto período de tempo.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A vantagem é que o teu trabalho é algo pelo qual nutres paixão, e este estilo de vida permite-te ter experiências que nunca terias de outra forma. A desvantagem é que o mesmo aspecto que a torna interessante torna-se também difícil - o factor da incerteza. É um trabalho que é financeiramente instável, uma indústria repleta de práticas questionáveis, um mercado muito saturado e um ambiente de trabalho extremamente sexista. É duro. Não existe nenhum mapa, e por vezes desgastas-te. Mas também é incrível e, em última instância, faz com que valha a pena.
Quais as tuas maiores influências musicais?
Existem tantas... Tom Waits será sempre o meu favorito.
Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Vinil, apesar de normalmente não ter escolha - quando estou num comboio, no carro ou num quarto de hotel o MP3 é tudo o que tenho.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Ambos. É uma optima ferramenta promocional e faz com que a música dos artistas independentes chegue a mais pessoas, mas mina o valor percebido do trabalho.
Qual o disco da tua vida?
Impossível de responder, muda com o avançar do tempo. A vida muda... por isso o álbum da minha vida quando tinha 14, 17, 25 anos ou a idade de agora, é diferente. Pode até mudar de mês para mês. Todos estes discos se tornam no álbum que representa a tua vida num determinado período de tempo.
Qual o último disco que te deixou maravilhada?
Há um álbum de tributo a Nina Simone intitulado “Round Nina”, uma compilação com um conjunto de diferentes artistas. Foi interessante ouvir todos estas canções familiares refeitas em estilos tão diferentes. Algumas das vozes e dos arranjos são realmente únicos.
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Tenho andado a ouvir bastante Patty Griffin, Led Zeppelin, Soleá Morente e muito flamenco de forma aleatória. Eu sei, estranha combinação (risos).
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Após estares em palco muitas vezes acabas por te habituar a tudo, poucas coisas são embaraçosas. Provavelmente quando um ex-baixista, em pleno palco, começa a gritar com o público…mas é uma história muito longa. É por isso que ele é “ex-baixista”.
Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Existem muitos músicos com os quais seria interessante colaborar – Daniel Lanois é um produtor com o qual seria interessante trabalhar, ou o Rick Rubin. Javier Limón é um produtor de flamenco com o qual já pensámos trabalhar….veremos o que o próximo álbum nos traz, teremos alguns convidados especiais, mas para já não quero estragar as surpresas!
Para quem gostarias de abrir um concerto?
São demasiados para os listar... são tantos os artistas que eu/nós respeitamos e para os quais adoraríamos abrir… mas eu sei alguém para quem NÃO gostaria de abrir… Patti Smith. De todos os artistas ela é a que ficaria mais contente por conhecer mas mais intimidada por estar em palco com ela. Estou certa de que isto soa engraçado, mas toda a sua trajectória enquanto artista foi muito inspiradora para mim.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Acho que todos aqueles que passaram algum do seu tempo em Nova Iorque querem actuar um dia no Central Park. Pelo menos eu quero!
Qual o melhor concerto a que já assististe?
O de Anoushka Shankar, na tour “Traveler”.
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Queria muito ver ao vivo o David Bowie e o Paco de Lucía. Tive bilhetes para um concerto de cada um deles mas infelizmente não consegui ir a nenhum pois tinha concertos para dar nessas noites. Agora ambos partiram… terrível.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
O de Janis Joplin no Montery Pop Festival, em 1967.
Qual o teu guilty pleasure musical?
Provavelmente a música “Pour Some Sugar On Me”, dos Def Leppard. Impressionante! Da maneira mais extravagante possível!
Projectos para o futuro?
Estamos a meio do processo de gravação do próximo álbum, que será editado em Fevereiro de 2017. Depois disso estaremos na estrada, em digressão!
Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Uma pergunta ainda melhor seria o que desejaria que os jornalistas NÃO perguntassem… às vezes questionam-me sobre detalhes tão pessoais… nunca gostei disso, a menos que seja um perfil pessoal aprofundado, aí sabemos o que nos espera.
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
A música "Anywhere I Lay My Head", do Tom Waits.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Ficamos agora ao som de "Everybody Knows", com a participação especial de Calamento e El Rubio.
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