quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Conversas d'Ouvido com Surma

Entrevista com a surpreendente Surma, projecto musical em formato one-woman-band de Débora Umbelino, que percorre os caminhos da indie electrónica, com um toque de experimentalismo. Durante mais de dois anos, Surma percorreu o seu próprio caminho, mais de 150 concertos, sete países diferentes. A sua música tem algo de fascinante, amanhã é o dia da edição do aguardado disco de estreia Antwerpen. Antes disso, foi convidada a participar nas "Conversas d'Ouvido", prontamente aceitou, o resultado pode ser lido a seguir numa entrevista descontraída, com um dos mais promissores nomes da música portuguesa...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Surma: A paixão pela musica já vem desde muito pequena. Os meus Pais sempre tiveram um grande hábito em me pôr dentro do mundo da musica desde bebé. O meu Pai tinha uma rotina muito engraçada em que me punha deitada no tapete da cave a ouvir vinis durante 1h a 2h para começar a perceber o que era todo aquele Mundo. Foi muito graças a eles que estou onde estou hoje.

Como surgiu o nome Surma?
O nome Surma veio de um documentário que estava a ver na altura, na Discovery, sobre tribos indígenas. Uma dessas tribos denominava-se Surma. O nome ficou-me de tal maneira no ouvido durante dias que decidi arriscar e lançar o projecto com esse mesmo nome. E também pelos costumes e pela maneira como levam a vida. O presente é o que eles pensam mais. Não pensam em nada que tenha a ver com o futuro, levam a vida muito calmamente e muito no momento. Foi também por essa mesma razão que optei por este nome final.

Enquanto “one woman band”, nunca te sentes sozinha em palco? Ou mais vale só, que mal acompanhada? (risos)
(Risos) É uma pergunta boa essa...Eu sempre tive experiências com bandas e sempre estive acompanhada em palco, mas não sentia que era aquele o caminho que queria seguir. É óbvio que com banda tens sempre aquele background em que quando erras alguma coisa vai alguém em teu auxílio, tens a vertente do convívio na estrada...mas eu sou suspeita, sou um bocado bicho do mato (risos) e sempre gostei muito de andar sozinha. É como me sinto bem! Como me sinto muito bem assim em palco! Fico muito nervosa e a tremer até à sétima música (risos) mas sinto que posso mudar e fazer o que quero no momento! Enquanto com banda não é tanto assim, bloqueia um pouco a tua liberdade de composição!
Surma - "Antwerpen"

Preparas-te para editar o disco de estreia “Antwerpen”, já podes desvendar um pouco sobre o que podemos esperar?
Nem eu mesma sei (risos)! Costumo dizer que é um disco que vai a todos os cantos e aspectos. Tem muitos pormenores e muitos sons específicos (simples facto de embrulhar papel na mão e fazer percussão com isso mesmo, batidas com canetas na mesa, vozes de um microfone velho sem qualidade). O processo de produção deste disco foi como que um laboratório de experimentação de sons! Não mudava nada.

Que dificuldades sentiste no caminho que culminou com o lançamento deste LP?
Conciliar concertos e gravação no estudio. Foi mesmo muito complicado em termos de timming. A maior parte das músicas foram feitas no quarto e enquanto andava na estrada. Mas não mudava nada, foi um processo mesmo muito genuíno e muito natural. Sem a ajuda da Casota Collective era impossível.

Em dois anos e meio, já percorreste sete países divididos por mais de 150 concertos, o teu disco de estreia é aguardado com muita expectativa. Esperavas tanto em tão pouco tempo?
Não esperava nada! (risos) Lancei o projecto com expectativas muito baixas e sou uma pessoa com os pés bem assentes na terra. O que tiver que ser será (é o que costumo pensar de uma maneira geral). Nunca na vida pensei em ter tanto o apoio das pessoas e sentir-me tão acarinhada! Não tenho palavras para descrever a jornada tão bonita que tem sido. Se não fossem vocês não estaria aqui a esta hora. Isso é certo.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Não gosto de labelizar a musica no geral. Não gosto de dar rótulos nem nome de género. Deixo à interpretação de cada pessoa eheh!

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Cinema e fotografia.

Qual a maior vantagem da vida de um músico?
Acho que ser músico é a maior vantagem de todo o Mundo e poderes ter essa possibilidade e ter essa sorte de poder ser e de poderes seguires o teu sonho desde muito pequena acho que é a melhor vantagem do Mundo!

Quais as tuas maiores influências musicais?
Annie Clark (St.Vincent) e NANOME.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Vinil e leitor de mp3 (dá jeito no metro-eheh)

Qual o disco da tua vida?
Ui pergunta difícil...tenho muitos discos que me tocaram de variadas maneiras e muito fortes. Mas vou arriscar dizer Sufjan Stevens - Carrie & Lowell. Tocou-me mesmo muito!

Qual o último disco que te deixou maravilhada?
Agnes Obel - Citizen Of Glass

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Nunca paro num artista em específico, ouço mesmo muita coisa ao mesmo tempo! A minha mais recente descoberta foi Stavroz e ando viciadíssima já há um mês atrás. É incrível.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Tropeçar nos pedais da guitarra e cair, literalmente, de rabiosque no chão com a guitarra em cima de mim! Foi um bocado embaraçoso mas lá no fundo acabou por ser bastante divertido (risos).

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Annie Clark juntamente com Björk, sem sombra de dúvida.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Múm.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Nacional | Primavera Sound
Internacional | Iceland Airwaves Festival

Qual o melhor concerto a que já assististe?
St.Vincent no Vodafone Mexefest.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Amiina.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Qualquer um dos Beatles no Cavern Club! Ia ser uma festa incrível.

Tens algum guilty pleasure musical?
Hank Williams (I know-eheh)

Projectos para o futuro?
Não gosto nada de pensar no futuro. Acho que o que tiver que vir virá! Não temos que forçar nada.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Nunca pensei muito nisso, para ser sincera.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
"Holding" de Grouper

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
The Knife - "A Tooth For An Eye" (não quero que o pessoal esteja triste, quero uma festa enorme a acontecer).

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Ficamos ao som do single "Hemma", extraído do futuro disco Antwerpen, com edição prevista para o dia 13 de Outubro.

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