sexta-feira, 12 de abril de 2019

Conversas d'Ouvido com Dow Raiz

Entrevista com rapper brasileiro Dow Raiz. "Prega a valorização das raízes numa sociedade segregada, da cultura periférica, das amizades e do amor (...) uma reflexão sobre o seu papel no mundo". Douglas Raí Santos de Oliveira, de seu nome, é um dos fundadores do grupo Inthefinityvoz, editando em 2013 o seu debut a solo "Antibióticos de Rua". Recentemente editou o novíssimo EP "As Profundezas de um Tempo Danger". Hoje abrimos a porta ao hip-hop, para conhecermos melhor um nome emergente da música underground brasileira, Dow Raiz. 

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Dow Raiz: A música sempre esteve presente desde minha infância e a primeira vez que meu avô colocou um violão no meu colo e tentou me ensinar um acorde, eu me apaixonei e entendi que aquilo era algo que poderia me acompanhar durante meu tempo na Terra.

Como surgiu o nome Dow Raiz?
Eu sempre fui apaixonado pelo grafitti e toda cultura de rua, eu pintava em muro também quando mais novo, e você precisa aderir um vulgo para assinar suas obras. Eu tinha como "DOW", meu sobrenome RAI, como sempre tive essa ligação com o reggae também que puxa sempre raiz, raiz, raiz a todo segundo... eu usei meu vulgo das ruas, com um "Z" no fim do meu sobrenome. Assim surgiu o “DOW RAIZ”.

O teu single “Adora Funk”, vem revestido com forte crítica social, para ti a música é muito mais que uma sonoridade?
Com certeza, essa música me representa e representa muitos que são explorados culturalmente.

Concordas que hoje em dia o hip-hop, está a deixar de ser um veículo transmissor de uma mensagem mais profunda? Está a afastar-se da intervenção social?
Chegamos a um momento de business no rap do Brasil, ele ocupando muitos outros lugares além de só estar na periferia. E tudo que envolve dinheiro também traz cegueira, mas acredito que tem muita gente mantendo a essência da mensagem e ainda lutando pelos direitos sociais e raciais.
Dow Raiz - "As Profundezas de um Tempo Danger"
Editaste recentemente o EP “As Profundezas de um Tempo Danger”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
O que nunca esperaram de mim! (risos) Podem esperar muito informação, crítica, verdade e amor.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Gosto muito de música brasileira, Djavan, Gilberto Gil, Jorge Ben. Especificamente do rap, eu ouço bastante aquele momento de ouro dos anos 90: A Tribe Called Quest, The Fugees, Slum Village, Racionais, RZO, De La Soul... são tantos...

Conheces alguma coisa da música portuguesa?
Não, infelizmente, mas adoraria.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Meu estilo de música é uma mistura de rap, com ragga mpbzístico – inspirado pela música popular brasileira.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Artes plásticas e skate, sempre presentes na minha vida.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Eu acredito que só existem vantagens e a maior delas é você poder se encontrar dentro de cada nota e se sentir bem fazendo o que faz. Nenhuma desvantagem pode ser maior do que isso, nunca!

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Os estalos do vinil nunca serão substituídos.

Qual o disco da tua vida?
Tim Maia - "Racional"
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Elza Soares - "A Mulher do Fim do Mundo

Qual a tua mais recente descoberta musical?
Q-tip (A Tribe Called Quest), também conhecido como The Abstract.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Nossa, foram tantas! (risos) Mas a pior foi em um show em Curitiba, casa lotada, duas mil pessoas ou mais. Polícia entrou, apagou todas as luzes, começou a tacar bomba de efeito moral dentro do evento para todos circularem. Ninguém sabendo de nada e apanhando, muita gente apanhando e atingida pelas bombas. Todo o caos porque a casa estava com um alvará de shows falso. No fim, quem sofreu foram os artistas e o público. Foi espantoso!

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Ed Motta, um dos maiores músicos brasileiros ainda vivo.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Meu sonho é tocar no Rototoom Sunsplash.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Blackstar, com Mos Def e Talib Kwali.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
A Tribe Called Quest, Lauryn Hill, Erykah Badu, Anderson Paak.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
James Brown, Michael Jackson, The Fugees, Tim Maia. São tantos... (risos)

Projectos para o futuro?
Esse ano tem muito clipe, álbum novo, grandes participações... Nos aguardem!

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
"Ponta de Lança", do Rincon Sapiência.
"Azul da Cor do Mar", do Tim Maia 
"Umi Says", do Mos Def.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Tim Maia - "Sossego"

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Agora terminamos, precisamente com o single "Adora Funk"...

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