sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Conversas d'Ouvido com The Trick

Entrevista com os The Trick, banda que é uma autêntica mescla de nacionalidades, com membros oriundos de França, Luxemburgo e Portugal. Os The Trick são compostos por Apollo Munyanshongore (baixo), Benoît Martiny (bateria), Florent Plataroti (guitarra), Lata Gouveia (voz) e Sérgio Rodrigues (teclas). Em Setembro ficamos seduzidos com a sua sonoridade, o que despertou em nós o desejo de os conhecer um pouco melhor. Em Outubro, chegam às "Conversas d'Ouvido", para uma entrevista onde, como não podia deixar de ser, o foco central é a música...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Florent Plataroti (FP): Quando tinha 7 ou 8 anos, o meu irmão gravava-me k7 com rock, música clássica ou bandas sonoras de filmes. Também era músico e foi ao vê-lo tocar que comecei a sentir vontade de subir aos palcos. Não tardou muito para que começasse a roubar-lhe as guitarras sempre que não estava em casa.
Sérgio Rodrigues (SR): Em criança ofereceram-me um piano elétrico de brincar que adorava, o que me fez começar a estudar piano. Um dia, ouvi um LP dos meus pais – a sinfonia n.º40 de Mozart – penso que foi o momento revelador.
Benoît Martiny (BM): Cresci numa família de melómanos, sempre rodeado de música clássica. Comecei a tocar bateria quando era pequeno e desde então, não parei. Na adolescência, descobri o rock e o jazz e o caminho ficou traçado.

Como surgiu o nome The Trick?
The Trick: O nome da banda surgiu a partir do título de uma música nossa – “Monique Has the Trick” – que inicialmente era instrumental e passou a chamar-se “Get Down” quando lhe juntamos uma letra. “Get Down” é aliás, o primeiro single do nosso EP.

Como é que Portugal, França e Luxemburgo se juntaram para originarem os The Trick?
Muita gente nos coloca essa questão. Na verdade, conhecemo-nos numa fase em que todos vivíamos mais ou menos no mesmo local, junto à fronteira franco-luxemburguesa. Atualmente, o pianista, que vive em Lisboa, tem de fazer mais voos para se juntar a nós, o que exige alguma organização, mas não é nada que seja insuperável.

O vosso projecto abarca influências dos diferentes países?
Não, não diretamente. Mas é possível que haja influências indiretas, resultantes da personalidade ou das vivências de cada um dos músicos.

Editaram recentemente o vosso EP homónimo de estreia, para quem ainda não o ouviu o que pode esperar?
Nunca é fácil colocar um rótulo na nossa própria música. “The Trick” é uma espécie de ovni rock, com uma tonalidade roots e ingredientes modernos.
Podemos dizer que há um lado um pouco insano e imprevisível na nossa música (sobretudo ao vivo), que decorre do facto de a maioria dos músicos virem do meio jazz e terem experiência em improvisação. Rock, groove, blues, pop & soul mixed in a shaker!

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Exatamente como o fizeram no vosso artigo...

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Esqueçamos o glamour, que não existe, e temos a típica resposta. No que respeita aos pontos positivos, podemos mencionar que fazemos aquilo de que gostamos, que, naturalmente, conhecemos pessoas interessantes, que gerimos os nossos projetos como bem entendemos (na maioria das vezes)...
Em contrapartida, temos constantemente de lidar com as incertezas quanto ao futuro e de investir na promoção do nosso trabalho ou encontrar novos locais para atuar, o que pode ser stressante a longo prazo.

Quais as vossas maiores influências musicais?
SR: Chopin, Bach, Bill Evans, K. Jarrett, B. Mehldau, P. Bley, Chick Corea, J.P Esteves da Silva, Luciano Pagliarini, Mingus, Jobim, Jacques Brel, Led Zeppelin, Pink Floyd. Continuo?! (risos)
BM: Led Zeppelin (com o grande John Bonham), Mozart, Beatles, Miles Davis, Jimi Hendrix, Charles Mingus.

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
FP: Provavelmente vinil, pela qualidade e por ter uma sonoridade mais quente, mas, dependendo do local onde me encontro, ainda utilizo todos os suportes.
SR: Ao vivo!
BM: Vinil em casa, CD no carro.

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
FP: “Illinois” de Sufjan Stevens, um disco com uns arranjos magníficos, que acabei de descobrir, apesar de não ser recente.
SR: O último deve ter sido “With Gary Peacock” de Paul Bley.
BM: Eu redescobri “Far Cry” de Eric Dolphy, um disco que também não é muito recente. Há também um disco de Cypress Hill, cujo nome não recordo, e “Live in New York” de Frank Zappa.

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
FP: Nos últimos dias, tenho estado a ouvir “The Great Garry Hillman” e o projeto de Donny McCaslin, que era o saxofonista de David Bowie... Além disso, recentemente descobri “The Coloriste & Emilliana Torrini”, De Staat "Machinery"...
BM: Eu estou sempre a descobrir as coisas “antigas”. Estas últimas semanas, tenho andado a ouvir sobretudo Zappa, Monk, Roland Kirk e Eric Dolphy.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
FP: Nada de traumatizante.
BM: Esperar durante 10 minutos que o saxofonista terminasse de preparar o instrumento, sob o olhar impaciente do público (e do resto da banda) (risos).

Para quem gostariam de abrir um concerto?
Ainda não pensamos muito nisso. Mas temos vindo a descobrir que existem bastantes artistas interessantes em Portugal.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
FP: Parliament-Funkadelic, que tive a oportunidade de ver no Bataclan há alguns anos. E também Steely Dan, Medeski Martin &Wood, Jeff Beck, Secret Chiefs 3 ...
SR: Houve muitos, mas posso citar o do Michael Brecker Quartet e do Carlos Bica “DIZ”, que aconteceram em momentos-chave do meu percurso musical.
BM: Foram tantos... mas seguramente Robert Plant e Jimmy Page, no Wembley Arena em 1998.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
BM: Ringo Starr.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
FP, SR : "Le Sacre du Printemps" de Igor Stravinsky (de 29 de maio de 1913).
BM: Led Zeppelin em 1969.

Têm algum guilty pleasure musical?
Yeaahh! A lot!

Projectos para o futuro?
Tocar, compor e gravar músicas novas e ir em digressão.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
FP: “Qual o significado da vida, do universo e tudo mais?” – 42
BM: Gostas de massa com ovos? Sim.

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
FP: Já que estamos no domínio do imaginário, a "Quinta Sinfonia" de Prokofiev. Em alternativa, “Life On Mars?” de David Bowie, mas poderíamos enumerar tantas!
SR: “Certeza” de João Paulo Esteves da Silva, “Les Vieux” de Jaques Brel, músicas de Chopin, Debussy, Ravel, Bach, Rachmaninoff…
BM: A música de Duke Ellington e também de Charles Mingus. Ou dos grandes Led Zep.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
FP: Não sei, mas teria de ser algo verdadeiramente deprimente. Quero toda a gente a chorar no meu funeral!
SR: Um tema meu.
BM: Jimi Hendrix.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
The Trick: Merci à vous, longue vie “Ouvido Alternativo”!

Podem acompanhar todas as novidades dos The Trick, na página oficial em www.thetrick.fr/

Terminamos com a música dos The Trick, que se encontra disponível para escuta através da plataforma ReverbNation. 

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