terça-feira, 23 de abril de 2019

Fala-me de Música com Bom Marido - "Moça"

Os Bom Marido são um quarteto lisboeta composto por Miguel Raposo (voz, guitarra), João Galelo (guitarra), Tomás Borralho (baixo) e Luísa Lisboa (bateria). Hoje falam-nos de música, na primeira pessoa, apresentando-nos o single "Moça", extraído do disco "Pêra Doce", editado este mês. Melancolia, amor, perda e o reencontro consigo próprio pela voz de Miguel Raposo...

Música:
Composta por: Miguel Raposo
Esta canção surgiu há quatro anos, para um projeto a solo chamado Michael Dj Fox, pautado pelo synth pop num encontro entre canções e electrónica que me permitiam extravasar o que não conseguia em banda. Contudo, aquilo a que me propus foi construir um álbum por mês durante meio ano. Isto obrigou-me a arriscar na produção e na espontaneidade do arranjo sem que houvesse muito tempo para segundas leituras. Na altura, de nome “Estória ao Lado”, manteve a canção por cima do synth e do beat, deixando sobressair aquilo que se ouve também em Bom Marido. Um pedido melancólico de ajuda, de retorno ao que já não é, ao que provavelmente nunca foi mas que será sempre fantasiado como um grande amor, enorme, de proporções épicas. Agora “Moça” em Bom Marido, foi resgatada a pedido dos restantes membros da banda para a produzirmos com outra calma, sendo que a música em si não teve mudanças drásticas.

Letra:
Escrita por: Miguel Raposo
A letra ecoa as palavras da autobiografia dessa estória. As palavras vieram enquanto as cantarolava por isso não é errado afirmar que apareceram ao mesmo tempo que a música ou que a melodia. O lugar lento da canção ajuda a deambulação que existe entre acordes maiores e menores pois apesar da mágoa existe também a crença de que o esquecimento virá, para deixar ficar só a tristeza do nada. O nada que sobeja da estória épica de amor. E é claro que é também lamentado o facto de se prever um vazio como fim deste penar.

Vídeo:
Realizado por: Gonçalo Castelo Soares
O vídeo do Gonçalo nasceu da tal tristura desta figura que canta. Ele teve a ideia de filmar uma caminhada de trás para a frente que, ligada a esta música, definiria um passeio trágico de alguém que se convence que o mundo à sua volta é que está torto. Acontece que quando o sujeito se encontra mal e alienado por si mesmo acaba por não perceber que é ele a própria causa da visão distorcida que tem do mundo que o rodeia. O Gonçalo deu-me a música em reverse para eu me mapear no percurso da mesma e definimos etapas. Diferentes intensidades. Há uma dança que a figura procura de vez em quando. Em desespero. De movimentos bruscos. De abraços sem afabilidade. E literalmente corri para trás. Da melhor maneira que pude. O lado cru e tosco desse andar falso anda de mãos dadas com uma conversa mais universal da busca do ser humano, neste caso, aliado ao semblante amoroso. Neste cenário, do desamor. Mas também de uma esperança melancólica que tudo passe. Tudo se limpa.

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